Nem erro de concordância, nem assomo de criatividade. É construção minha precedida dos versos de Carlos Drummond de Andrade sobre Cacilda Becker e da capa do jornal O Dia sobre Chico Anísio.
"A morte emendou a gramática / Morreram Cacilda Becker / Não eram uma só. Eram tantas" disse o poeta sobre a atriz paulista falecida em 14/06/1969, com 48 anos, vítima de AVC.
Inspirado por Drummond, os 207 personagens de Chico Anísio (morto em 23/03/2012) justificaram a antológica capa de O Dia no dia seguinte que está reproduzida nesta postagem.
Então, parafraseando, escrevo que morreram o jornalista, cronista e repórter que, parece consenso, convém registrar como insuperável; morreram o narcisista e ególatra, o muito amigo dos seus amigos embora eles por vezes não tivessem bem a certeza disso, o muito inimigo dos seus inimigos, o bipolar, o extraordinário projetista de sua própria imagem, o gremista sanguíneo, o paladino de muitos oprimidos, o contestador, o carente por atenção, a vítima de males físicos diversos.
Finda, aqui, a similaridade.
Preciso escrever que fui no velório, lá na Arena (tíquete J8EXPQ6W5, estacionamento às 11h55min37seg com entrada pelo portão 2), e que aquele espaço destinado a ele era INDIGNO da pseudo-homenagem a sua memória. Foi improvisado sob uma marquise, quando deveria estar no Salão Nobre (se é que há), ou no centro do gramado.
Não me justifiquem com facilitação do acesso para uma esperada imensa massa de torcedores porque eles não foram. Ao meio-dia, havia algumas dezenas de pessoas, tão somente. Enxerguei alguns colegas jornalistas, o ex-presidente Oly Fachin, equipamento e repórter de uma rádio, familiares, talvez umas vinte pessoas contidas por um brete e nada mais.
MORRERAM PAULO SANT'ANA ao designarem para local de seu velório espaço incompatível com a megalomania do morto. Melhor teria sido velá-lo no Olímpico.
MORRERAM PAULO SANT'ANA a falta da massa tricolor em dia de final de campeonato no velório e no enterro, lá no Cemitério João XXIII, com apenas 70 pessoas presentes na hora do sepultamento.
MORRERAM PAULO SANT'ANA, finalmente, a imensa cobertura da imprensa que ele está tendo e já não pode ver e ouvir. Foi progressivamente afastado dos espaços em rádio, jornal e tevê que lhe permitiam satisfazer a fome incrível de reconhecimento.
Quanto mais os responsáveis pelo ostracismo imposto o promovem, agora que é morto, maior me fica a impressão de que o que realmente está ocorrendo é um mea culpa tardio e/ou tentativa de resgate de imagem com os que ficam, nós, os vivos.
Deixo claro que o parágrafo acima não se destina aos inúmeros depoimentos, alguns emocionados e outros racionais e analíticos, sobre uma personagem que a história da imprensa no RS sempre registrará.
Paulo Sant'Ana não era meu amigo, nem eu dele. Não era meu inimigo, nem eu dele. Conversamos duas vezes. Quer dizer, ele falou e eu ouvi. Achei que precisava escrever o que escrevi…