“O mundo não é uma bola de futebol, mas numa bola de futebol se encontra uma grande parte do mundo” (Eugen Roth, escritor alemão).
“A forma esférica da bola de futebol é exatamente o símbolo da imprevisível casualidade” (Peter Handke, poeta alemão)
“A honra não se lava e nem se mancha por uma vitória ou uma derrota num jogo de futebol, mas o triunfo é sempre um símbolo de poderio, e orgulha aos que, com maior ou menor intensidade, seguem torcendo” (Pedro Escamilla, jornalista espanhol)
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Mosqueteiros são famosos desde que o escritor francês Vitor Hugo popularizou três deles, há séculos – e na verdade eram quatro: Portos, Atos e Aramis, mais o Dartagnan. O Saci, Pererê, começou a ficar conhecido em 1921, nos livros infantis de Monteiro Lobato. Mas os confrontos entre os mascotes (ou símbolos) Saci do Inter e Mosqueteiro do Grêmio são relativamente bem mais recentes.
Primeiro mascote, primeiríssimo lugar no futebol gaúcho, foi uma simpática criatura viva, vivíssima, a plácida cabra “Chica”, veterana no início dos anos 40, que o Inter fazia questão de levar especialmente aos Gre-Nais para chatear os gremistas. Chica inclusive entrava em campo, não para jogar, claro, mas para dar uma pastadinha. Um dia a inocente foi barrada pelo Grêmio, “cabrita não entra”. “E o presidente do Inter, pode entrar?”, perguntou o próprio. Podia. E, supremo deboche, o presidente entrou – carregando Chica no colo.
Pois naqueles tempos apareceu então “A Família”. Foi no dia 18 de maio de 1946, quando o chargista João “Pompeo” lançou no jornal “Folha da Tarde” essa tira de desenhos, que passou a ser publicada todas as sextas e terças-feiras. Tinha a “Menina Rosinha” representando a taça do campeonato de Porto Alegre, a gorda “Dona Máter” como Federação Rio-Grandense de Futebol, e os primeiros mascotes dos (sete) clubes participantes: o elegante negro “Doutor Marmita” do Inter, o “Mosqueteiro” do Grêmio, o ricaço “Coronel Montanha” do Cruzeiro do Estádio da Montanha, o proletário “Seu Sertório” do Renner na Avenida Sertório, o padre “Irmão Zéca” do São José, “Seu Condutor ” dos bondes do Força e Luz, e “Seu Mallot” do Nacional.
O Grêmio levou apenas oito dias para adotar oficialmente o Mosqueteiro, anunciado como seu símbolo a 26 de maio de 1946. Para amenizar a pirataria de imagem (inclusive porque Pompeo era colorado) o clube alegou que o “seu” mascote tinha sido inspirado na figura do dirigente Francisco Maineri – um gordo que ficava muito brabo com essa história.
O Doutor Marmita, por sua vez, era um negro de paletó risca-de-giz, calça branca, chapelão Panamá, suspensório, gravata, chaveiro do Inter, que não conseguiu ser popular, talvez por falta de identificação. Mais adiante, nos jornais, revistas e panfletos da década de 50 o colorado foi um diabo (referência aos “diabos rubros” jogadores do time) com tridente, nos desenhos de Renato Canini e Zéca Sampaio; e no inicio dos anos 60 surgiu como um negrinho magricela de duas pernas nos traços de Xico Stockinger e Sampaulo, irmão de Zéca. Os ilustradores também desenharam as suas versões próprias do Grêmio: para Zéca Sampaio no “Diário de Notícias” no final da década de 40 era um homem de fraque, calça risca-de-giz; um garoto loiro na “a Hora& rdquo; dos anos 50 e um mosqueteiro magro na “Folha da Tarde” dos 60 para Sampaulo, e um mosqueteiro sem espada para Xico na “Folha Esportiva” no início da década de 60.
O “Saci” só entrou de fato na história do Inter no final da década de 60, na transição do Eucaliptos para o Beira-Rio, por causa de um boneco de barro trazido da rouparia do velho estádio para o novo pelas mãos do roupeiro Antônio Rosa da Silva, “Seu” Rosa. Era uma peça de umbanda, 30 centímetros de altura, pintado de negro, calção branco e camiseta vermelha com distintivo no meio do peito, apenas um dente, atarracado, gorro vermelho, e só uma perna, no centro inferior do corpo. Como já existia a “Churrascaria Saci”, no início só para o pessoal da construção do novo estádio, o novo símbolo “pegou”, e também por outro fator: a sua semelhança com o atacante Claudiomiro.
Em 1988 o cartunista Ziraldo foi contratado para reformular os símbolos de todos os grandes clubes brasileiros, e a turma ganhou um aspecto mais jovial. Finalmente, o Saci em especial teve um momento de consagração em 2006, quando o colombiano Renteria fez um gol para o Inter, arrancou um gorro vermelho e um cachimbo que tinha conseguido esconder no calção, e saiu pulando numa perna só, o Pererê pronto.
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Versão do ilustrador Zéca Sampaio no jornal “Diário de Notícias” para os mascotes de Inter e Grêmio em 1948: o “Diabo Rubro” e o “Cartola”
AGENDA HISTÓRICA DO FUTEBOL GAÚCHO NA SEMANA
3.9, domingo
1929 – Fundação do Guarani de Venâncio Aires
4.9, segunda-feira
1960 – Floriano vence Inter por 3×1 no Olímpico
1968 – coronel Mareu Ferreira presidente da FRGF
5.9, terça-feira
1904 – Grêmio elege o seu segundo presidente, Oswaldo Siebel
1963 – Inter aumenta o seu número de conselheiros de 150 para 200
6.9, quarta-feira
1970 – Gainete , do Inter, completa 1.207 minutos sem levar gol, recorde de goleiros de times gaúchos, contra o Botafogo do Rio de Janeiro em Erechim, no festival de inauguração do Colosso da Lagoa
7.9, quinta-feira
1903 – Primeiro jogo de futebol em Porto Alegre, entre os dois times do Rio Grande; a viagem é feita pelo vapor “Aymoré”, alugado por 12 contos de réis, com orquestra a bordo, acompanhamento de 200 torcedores, e exibição de jogadores do time também em partidas de tênis
1911 – Fundação do Grêmio Esportivo Brasil de Pelotas
1962 – Primeiro Gre-Nal no interior, em Rio Grande, Grêmio 2×1
1999 – Seleção brasileira 4×2 Argentina, amistoso no Beira-Rio
8.9, sexta-feira
1922 – Fundação do Grêmio Sportivo Força e Luz, de Porto Alegre (que depois foi também Rio Branco e Corinthians)
1976 – Grêmio contrata técnico Telê Santana
2007 – Ulbra ganha no Rio de Janeiro contra o América, 3×2, campeonato brasileiro da série C
9.9, sábado
1951 – Zagueiro Nena chora ao ser vendido pelo Inter à Portuguesa
1979 – Grêmio campeão gaúcho, 3×0 Brasil de Pelotas, Olímpico (vice é o Esportivo de Bento Gonçalves)