entrevista

Não é um blefe da GM, diz prefeito de Gravataí

Prefeito Marco Alba e presidente da GM Mercosul Carlos Zarlenga em visita à fábrica de Gravataí | Foto ARQUIVO

O prefeito de Gravataí falou ao Seguinte: minutos antes de embarcar no vôo de volta de São Paulo a Porto Alegre, após participar de reunião de mais de três horas com o comando da General Motors – incluindo o presidente da GM Mercosul, Carlos Zarlenga, e o vice-presidente no Brasil, Marcos Munhoz – mais o governador gaúcho, Eduardo Leite. 

Vamos à notícia e depois publico a entrevista.

Os executivos detalharam a crise na montadora e relataram ter um prazo de 10 dias para as negociações com governos, fornecedores, concessionárias e trabalhadores – plano de reestruturação do qual fazem parte as 21 medidas propostas pela GM na segunda e rejeitadas na terça pelos sindicalistas de Gravataí, um ‘sacrifício’ que tem como principais pilares a redução de 20% do piso salarial e o corte do pagamento de participação nos resultados que foi acordado em 2017 por dois anos. 

O movimento Brasil Metalúrgico, liderado pela Força Sindical, central a qual está ligado o Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí (Sinmgra), promove nesta sexta-feira um encontro nacional dos trabalhadores em São Paulo, com funcionários de todas as unidades da GM no Brasil.

Mesmo por telefone, foi perceptível que Marco Alba mediu as palavras. O tom de voz já não era tão otimista como na segunda, quando ao sair de videoconferência com os executivos da montadora, na sede de Gravataí, disse não acreditar no fechamento da fábrica local.

Mesmo que nas entrelinhas, o prefeito não afastou a possibilidade de a crise afetar o município – que tem quase metade do ICMS oriundo do ‘efeito GM’, R$ 70 milhões só no ano passado, em um orçamento de R$ 700 milhões.

É possível interpretar que, sem negociação, está sob ameaça pelo menos o investimento de R$ 1,5 bi em Gravataí, anunciado em 2017 no ‘show do bilhão’ que prevê R$ 13 bi no Brasil até 2020, para produção de novos carros e modelos (os daqui já tinham lançamento previsto para julho de 2019). 

A cautela e o pragmatismo de Marco contrastam com as declarações mais otimistas do governador Eduardo Leite que, de São Paulo, disse ao programa Gaúcha Atualidade que não tem o temor de que a unidade de Gravataí seja fechada.

— Não chegamos ao ponto de negociação de o Estado fazer qualquer oferta. A reestruturação da empresa está ancorada nos investimentos em São Paulo e na negociação com os sindicatos. Estão negociando com o estado de São Paulo. O presidente (da GM) diz que, se não tiver o acerto com o governo de São Paulo e com os sindicatos, impacta nas operação de São Paulo, o que impacta indiretamente aqui em Gravataí — avaliou, acrescentando que a direção da montadora virá ao Rio Grande do Sul nos próximos 15 dias. 

Ao site do governo do Rio Grande do Sul, Leite disse que "O governo fará o que estiver ao alcance para manter a GM":

— Estou muito confiante de que todas essas condições serão atendidas, chegando a um denominador que fique bom para todas as partes. O governo fará tudo que for possível, porque é uma operação que interessa à economia do estado — assegurou, apesar de também alertar que as negociações não dependem diretamente do Rio Grande do Sul, "mas podem afetar o estado caso não tenham desfecho positivo, pois poderiam inviabilizar as operações da GM no país".

— Se os investimentos não forem viabilizados em São Paulo, a empresa ficaria com apenas dois produtos no país, os dois carros fabricados em Gravataí — concluiu, não comentando informações da coluna Acerto de Contas, de Giane Guerra em GaúchaZH, de que “as negociações da GM começaram ainda com o governo de José Ivo Sartori”.

 

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Siga a entrevista de Marco Alba ao Seguinte:.

 

Seguinte– Há risco de a GM ir embora?

Marco Alba – A reunião foi mais esclarecedora sobre o plano de reestruturação. O assunto é sério, não é blefe. Estamos correndo riscos de mudanças significativas no plano para a América Latina. Em especial, para o Brasil. Gravataí está intimamente ligada à situação de São Paulo e temos que fazer parte da solução. A pauta da negociação com os trabalhadores também é decisiva. É o que posso dizer por enquanto. 

 

Seguinte: – Que números foram apresentados pela montadora para justificar a crise?

Marco – Não vou expor números, mas os executivos explicaram que o mercado da GM na América Latina não chega a 5% e a matriz mundial cobra para fevereiro a apresentação ao CEO de um plano de reestruturação para fazer frente aos resultados negativos, para recuperar prejuízos. A fábrica de Gravataí é reconhecida como a que tem os resultados mais razoáveis, diferentemente de São Paulo e da Argentina, que enfrentam graves problemas. A negociação está intimamente ligada a São Paulo, seja na lógica tributária, como no acordo coletivo com os trabalhadores. E isso reflete também em Gravataí.

 

Seguinte: – Então há riscos para Gravataí, seja de perder a fábrica ou então de uma suspensão nos investimentos de R$ 1,5 bilhão para produção de novos carros?

Marco – Os riscos de uma redefinição de investimentos são reais, inclusive para Gravataí. Não é um blefe. É preciso construir uma solução, e ela passa por acertos de incentivos com o governo de São Paulo e pelo acordo com os trabalhadores, lá e aqui.

 

Seguinte: – Que papel o governo gaúcho e de Gravataí podem ter nessa crise? A GM pediu algo ao prefeito ou ao governador, já que se tem informação de que negociações começaram ainda no governo de José Ivo Sartori?

Marco – Com o governo estadual o que pode acontecer são apenas algumas correções, mas nada que influencie numa decisão que está mais baseada em São Paulo. A Prefeitura de Gravataí não tem nenhum papel na concessão de incentivos. O que poderia ser dado já foi na plenitude até 2027. Fui convidado para conhecer a realidade do momento. Não é um blefe, já que qualquer decisão será tomada não em Gravataí, ou na América do Sul, mas na matriz nos Estados Unidos.

 

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