Evidente que um atentado da proporção de Nice, na França, ganha projeção internacional. Estranho seria se não ganhasse. Foram 70 mortos e mais dezenas de feridos. Assim como foi com a tragédia da Boate Kiss, com mais de 240 mortes, ou uma queda de avião, que atinge 100 famílias. Eu não seria hipócrita de estar entre aqueles que valoram tragédias, julgam repercussões. Apenas gostaria de fazer uma reflexão da situação endêmica que, sobretudo, o nosso Estado vive.
De 2014 para 2015, os homicídios saltaram de 1.418 para 2.405 no Estado. São cerca de seis a sete pessoas assassinadas por dia. Se fizermos uma conta rápida, a cada dez dias, uma tragédia de Nice acontece no Estado. A cada um mês, uma tragédia da Kiss acontece, quantitativamente, no Estado. Matando vítimas ou assolando famílias que perdem seus filhos para o tráfico de drogas.
Hoje em dia, antes de descer do carro, instintivamente, a pessoa olha ao redor, teme pelo carro, pelo celular, pela vida. Eu tenho filha pequena e meu veículo fica na rua, na disposição de garagem que o prédio onde moro tem. Aqueles cerca de cinco segundos que abro a minha porta e contorno o carro para tirá-lo da cadeirinha, invariavelmente, é um filme de terror. E se alguém me aborda e não tenho tempo suficiente para tirá-lo de lá?
Quando eu era novo, era normal se cuidar para andar na rua a partir das onze horas, meia-noite, especialmente em alguns locais com maior incidência de assaltos. Hoje em dia, você pode ser assaltado, roubado, furtado ou morto, às duas horas da tarde, no centro da cidade, em meio ao movimento. E isso já não ganha mais repercussão porque a população está acostumada.
Nos acostumamos com uma Nice a cada dez dias, com uma Kiss por mês. Nos acostumamos a enterrar inocentes e perder filhos para o tráfico, para a criminalidade. Não chocamos mais com a dor dos outros. Estamos perdendo a guerra. E não há a menor perspectiva de isso mudar.