O PT de Gravataí soltou nota após a Operação Veritas, da Polícia Federal, que apresentou provas da conspiração por um golpe de estado liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, seus generais e outros gorilas e ratos do que se revela uma organização criminosa de traidores da pátria.
O documento é titulado “A democracia brasileira por um triz: unir a esquerda em Gravataí para barrar o fascismo”.
Reputo o título da nota já antecipa o que não basta para o propósito apresentado.
E, se antecipa nem que seja a parte ideológica do discurso da campanha de Daniel Bordignon, candidato à Prefeitura em 2024, parece-me uma estratégia perigosa.
Reproduzo na íntegra a nota oficialmente enviada ao Seguinte: neste sábado pela presidente do PT de Gravataí Adelaide Klein e, abaixo, analiso.
“(…)
A DEMOCRACIA BRASILEIRA POR UM TRIZ.
UNIR A ESQUERDA EM GRAVATAÍ PARA BARRAR O FASCISMO!
A tentativa de golpe de Estado promovido pela extrema-direita civil e militar, cabalmente comprovada no dia de hoje pelas investigações da Polícia Federal, mostra o quão perto estivemos da implantação de uma brutal ditadura fascista no Brasil.
O movimento golpista se apoiava nas Forças Armadas, e na ação de governadores e prefeitos de extrema-direita, como o prefeito bolsonarista fantasiado de Tucano, que governa Gravataí.
Os que apoiaram, se apoiaram, ou conciliaram com as graves violações da democracia impostas pelo bolsonarismo de extrema-direita são, objetivamente, cúmplices da tentativa de golpe.
Todos os agentes políticos de Gravataí que apostaram incentivaram e conciliaram com quem promoveu a tentativa de golpe contra o Estado Democrático de Direito, a Constituição Federal, os Poderes da República, e as Liberdades Democráticas, foram, e são, objetivamente, cúmplices da tentativa criminosa de golpe, e devem ser repudiados e desmascarados pelos que defendem a Democracia brasileira.
Nós, do PT de Gravataí, convidamos os demais partidos de esquerda, PSOL, PSB, PDT, PC do B e PV para formarmos um Comitê Permanente em Defesa da Democracia e do Governo Lula (principal alvo do golpismo ainda em curso).
#Executiva Municipal do PT
(…)”.
Sigo eu.
Associo-me à constatação de que escapamos por um triz de um golpe.
Talvez, para além da figura de Lula, com seus acertos e erros o maior político da História do Brasil, e único capaz de ter vencido Bolsonaro nas urnas, só não tenhamos hoje privadas as liberdades e garantias individuais porque Joe Biden era o presidente do EUA e mandou recado aos militares brasileiros de que um golpe não seria aceito.
Porém, entendo um exagero a nota do PT apontar os adversários na eleição para a Prefeitura neste ano como “cúmplices da tentativa criminosa de golpe”.
Luiz Zaffalon (PSDB) é descrito como “o prefeito bolsonarista fantasiado de Tucano, que governa Gravataí”. Marco Alba (MDB) não é ‘descrito’, mas, assim como Zaffa, foi eleitor de Bolsonaro no segundo turno da eleição de 2022.
Cabe lembrar que, apesar de ter subido naquele horroroso caminhão-palanque do bolsonarismo, que fazia ecoar pelo Parcão músicas como a das ‘esquerdistas peludas’, Zaffa repudiou a invasão aos Três Poderes em suas redes sociais; leia sobre o ato de campanha em Sobre Zaffa e Dr. Levi no palanque do Bolsonaro em Gravataí e sobre o post do prefeito no 8 de janeiro de 2023 em Agente da Guarda Municipal de Gravataí apoiou atos terroristas em Brasília. Vai se aposentar. Deveria ser demitida, prefeito Zaffa!.
Também não conheço discursos de Alba apoiando golpismo, apesar de também não haver manifestações condenando, nem dele, nem da esposa deputada estadual Patrícia Alba; tratei disso no dia da operação Veritas, em Não era dia para passar pano para golpistas, deputada Patrícia Alba.
Mas daí a tratar como “cúmplices da tentativa criminosa de golpe” entendo pesado demais.
Posso ser a ‘Velhinha de Taubaté’, mas não consigo imaginar que Zaffa e Alba – oriundos de um MDB que era linha de frente contra a ditadura – sigam apoiando Bolsonaro após o ex-presidente ser julgado e condenado como golpista traidor da pátria.
E, principalmente, considero que o PT de Gravataí se agarrar à narrativa dos “cúmplices da tentativa criminosa de golpe” é perigoso para a campanha de Bordignon.
Não dá para esquecer de lembrar que, no segundo turno da eleição, Bolsonaro recebeu em Gravataí 87.219 votos, o equivalente a 60,17% do total da cidade. Já Lula foi a escolha de 39,83% dos eleitores e recebeu 57.730 votos.
Serão 6 a cada 10 eleitores gravataienses “cúmplices da tentativa criminosa de golpe”? Entendo que não.
Basta, como convoca a nota do PT, “unir a esquerda em Gravataí para barrar o fascismo”? Também não.
Veja que a nota exclui da lista de convidados para o “Comitê Permanente em Defesa da Democracia e do Governo Lula” o PSD, partido de Dimas Costa, até ‘ontem’ cotado para uma chapa com Bordignon, e parceiro de governo Lula.
Resta-me inquestionável que a nota não traduz a política de Lula, que foi eleito – e governa o Brasil – com uma frente ampla e com apoios também de centro e inclusive de setores da direita.
Também nunca foi essa a política de Bordignon nos seus dois governos.
Ao fim, é preciso atenção à ‘ideologia dos números’.
O voto da esquerda Bordignon já terá, possivelmente como único candidato deste campo. Parece-me um risco apostar em só dialogar com os 40% que votaram em Lula, que todos sabemos não são necessariamente esquerdistas.
Pode ser necessário, se não dos “fascistas”, conquistar ao menos alguns “cúmplices”.
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