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O assassinato da reputação política de Miki; Prefeito de Cachoeirinha é afastado e chefe do MP fala em mesada e malas de dinheiro

Operação Ousadia, sequência da Proximidade, foi deflagrada às 6h30 desta quinta-feira na Prefeitura de Cachoeirinha

A 30 de setembro de 2021 foi cometido o assassinato – ou suicídio – da reputação política de Miki Breier (PSB). O prefeito de Cachoeirinha resta afastado do cargo por 180 dias, pela 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, por suposto envolvimento em corrupção “documentada e filmada” apontada em investigações do Ministério Público estadual entre 2017 e 2021. O vice, Maurício Medeiros (MDB), já assumiu a Prefeitura.

Se ficarmos na entrevista do procurador-geral de Justiça, Marcelo Dornelles, à GZH, que você ouve clicando aqui, está dada a resposta ao que questionei em MP faz operação em Cachoeirinha por suspeita de corrupção no lixo; Do secretário afastado à CPI do Fantástico ou Zorra Total: é caso para o Fantástico. Como não sou dos que permitem aos políticos apenas a presunção de culpa, ainda sou São Tomé. Em seu perfil no Twitter, Miki dobrou a aposta:

– Mais uma vez fui alvo de denúncias falsas na tentativa de desestabilizar o governo. Não tenho medo de nenhuma investigação porque jamais cometi qualquer tipo de irregularidade. Assim que eu tiver acesso aos autos do processo, irei prestar todos os esclarecimentos – postou.

As operações Proximidade e Ousadia apontam o prefeito como suspeito de receber mesada mensal de R$ 40 mil como propina por contratos envolvendo empresas terceirizadas principalmente na limpeza urbana e recolhimento de lixo.

O procurador, que confirmou o pedido de prisão do prefeito, negado pela 4ª Câmara do Tribunal Regional Federal, fala em registros em vídeo de recebimento de dinheiro em malas.

– Como a gente vê em Brasília – compara, citando monitoramento de visitas a empresários onde a suposta propina era arrecadada e acondicionada em malas e mochilas depois apreendidas na residência do prefeito e de outros envolvidos.

Conforme Dornelles, a nova operação foi batizada de Ousadia porque os crimes continuariam sendo cometidos mesmo após a Proximidade.

O secretário da Fazenda Elvis Vacarenghi e outros sete integrantes do governo foram afastados dos cargos, assim como aconteceu na primeira etapa das investigações com o secretário municipal de Infraestrutura, Carlos Leonardo Charão.

Foram cumpridos 18 mandados de busca e apreensão em Cachoeirinha, Gravataí, Charqueadas, Porto Alegre e nas cidades paulistas de São Paulo e Itu. Entre endereços, estão as sedes da Prefeitura, a casa do prefeito e três empresas que prestam serviços. Em Gravataí a ação foi feita em representante de empresa que reside no Centro.

O TRF atendeu ao pedido do MP de proibir contatos entre empresários, investigados e servidores públicos afastados e empresários; acesso à Prefeitura; suspensão imediata dos contratos emergenciais referentes aos serviços de coleta manual e mecanizada de resíduos sólidos urbanos firmados com o município; e proibição de contratação das empresas investigadas.

As duas operações apontam indícios de corrupção ativa e passiva, desvio de verba pública, dispensa indevida de licitação, fraude em licitação, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Como nem denúncia formal há para ação penal, o que me faz aguardar as provas é a narrativa do MP de que, além da tentativa de direcionamento da contratação de serviços, houve desvio milionário de recursos públicos estimado em 45% dos valores contratados, envolvendo os serviços de limpeza urbana, conservação e manutenção de prédios e vias públicas entre 2017 e maio de 2021.

Grifo: 45% (QUARENTA E CINCO POR CENTO)!

Significa que as empresas entregavam quase metade do que recebiam para o prefeito e sua suposta Orcrim, conforme as denúncias da primeira operação Gilson Stuart dos Anjos, Jorge Fouad Abdo, Carlos Leonardo Charão dos Santos, Marco Antônio Schneider, Emiliano Cláudio Fragoso Macedo e Alessandra Moura dos Santos Daitxz.

O grupo foi denunciado por corrupção devido a sobrepreço e superfaturamento no contrato com a SKM Empreendimentos e Comércio EIRELI para prestação dos serviços de limpeza urbana, pelo prazo inicial de 90 dias e valor mensal de R$ 1.005.061,20, que teria levado a um prejuízo de R$ 3.234.579,64.

Alertou o chefe do MP que a contratação de empresas de fora do Estado, como acontece em Cachoeirinha, é um subterfúgio usado também por outros prefeitos para tentar dificultar a investigação.

– Temos outras investigações em curso – disse.

Mas, 45%? Como analisei em O que intriga no ’caso SKM’ que agora apreendeu dinheiro do prefeito e de empresários, faz-me lembrar da prisão fake news do ex-presidente Michel ‘golpeachment’ Temer, pela chamada Lava Jato do Rio, ‘suspeito’ de chefiar uma organização criminosa que teria movimentado R$ 2 bilhões por quatro décadas, ou desde que tinha 36 anos e era professor numa faculdade de Itu. E com depósito de R$ 40 milhões em conta bancária que nunca apareceu nos autos do processo.

Miki se manifestou no tuíte que reproduzi acima. Maurício, apesar de dizer não fazer julgamentos prévios, avisou “não botar a mão no fogo por ninguém”. O PSB de Cachoeirinha divulgou nota refirmando a “confiança” no prefeito que “sempre respeitou a legislação e os princípios éticos e morais”. Nota da Prefeitura confirma colaboração com as investigações e adoção das recomendações judiciais, tais como suspensão e revisão de contratos questionados, além da “prioridade” em evitar a “descontinuidade de serviços”.

Na Câmara já começam os movimentos de aproximação a Maurício, mas, também, para cassação de prefeito e vice, o que levaria a uma nova eleição.

Reputo surpreendeu não só a mim, mas ao meio político, jurídico e a mídia estadual Miki estar envolvido em suspeitas de corrupção com supostas provas “documentadas e filmadas”.

– Um promotor disse que todos demoraram a acreditar nas primeiras denúncias, porque o político tinha "aquela imagem de padre, ligado às causas sociais" – escreveu Rosane Oliveira, em GZH, falando em “prefeito recebendo maços de dinheiro”.

O próprio procurador-geral Marcelo Dornelles disse ter acompanhado as investigações de perto por Miki ser “um ex-deputado, prefeito, político conhecido e que sempre teve uma boa imagem ligada às causas sociais”.

– Era preciso ter cuidado (com a reputação do prefeito). Mas aprofundando as investigações não restam dúvidas. Ele recebia retorno financeiro nestes contratos – sustenta.

Aos Flautistas de Hamelin (lembrem, ele limpou os ratos mas depois veio buscar os filhos de seus fãs), que após o assassinato-ou-suicídio-político de Miki me enviam zaps como se eu tivesse político de estimação, recordo, aos que não leram até o fim, o que escrevi em MP faz operação em Cachoeirinha por suspeita de corrupção no lixo; Do secretário afastado à CPI do Fantástico ou Zorra Total: “confesso que meu crédito seria maior à CPI da limpeza urbana se a investigação não tivesse acontecido às vésperas do ano eleitoral e, envolvendo as mesmas personagens, concomitantemente à piada de mau gosto do golpeachment, e, principalmente, com redes sociais identificadas com a oposição apontando a CPI como a investigação que vai derrubar Miki”.

Segui, desde então incrédulo com uma propina de 45%, ou 5 a cada 10 reais de contrato: “Se comprovado esse erro absurdo, é coisa de ‘prefeito no Fantástico’. Se comprovado exagero da CPI, é coisa de ‘vereadores no Zorra Total’”.

Acrescentei: “mantenho a cautela de sempre. Aguardemos a investigação do Ministério Público. Mas, pela experiência que tenho de quase 25 anos de jornalismo, e também conversando com operadores do direito, não será surpresa se, pelo tamanho da operação, que lembra o caso de Viamão, o Judiciário afaste Miki e o vice Maurício Medeiros assuma a Prefeitura”.

E concluí: “Fato é que no Grande Tribunal das Redes Sociais é 3,2,1… para Miki já restar condenado”.

Ao fim, neste 30 de setembro de 2021, pela entrevista do chefe do MP gaúcho Miki está mais perto do Fantástico do que estão seus denunciadores do Zorra Total. Já eu, após os escândalos Lava Jato-Vaza Jato e suas delações sob tortura, sou São Tomé. Preciso ver – ou, no caso, assistir – para crer.

Inegável é que a reputação política de Miki resta assassinada. Se suicidada, veremos. Já o governo virou um walking dead.

Pobre Cachoeirinha!

 

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