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O efeito Detroit na Gravataí pós-GM

A cidade de Detroit decretou falência em 2013, após a quebra das montadoras

Depois de um ano inteiro com a prefeitura anunciando, aliviada, que, finalmente, conseguiu equilibrar e começou a pagar as contas passadas, a bomba armada pela GM na última sexta pode colocar tudo, ou boa parte, a perder. O cenário não é considerado concretamente pelo governo, mas uma projeção catastrófica de fechamento do complexo representaria, admite o secretário da Fazenda, Davi Severgnini, resultaria em algo semelhante à quebra do pólo naval de Rio Grande.

— Hoje, Gravataí conseguiu domar a fera das dívidas, mas não estamos em condições de montar nela e sair cavalgando. A nossa dependência da GM reduziu em relação a 2012, por exemplo, mas o complexo continua sendo o carro chefe da economia da cidade. E não teria como ser diferente — avalia o secretário.

A GM corresponde a 40% da arrecadação de ICMS do município, e 10% de toda a receita líquida dentro do orçamento previsto de R$ 700 milhões para 2019. Com as contas empatadas, como afirma o prefeito Marco Alba (MDB), esta perda seria fatal.

Severgnini chega a sorrir quando se fala no caso de Detroit, a cidade norte-americana, berço da GM e quebrada pelo encerramento da fábrica no começo da década. Lá, a crise bateu forte em 2011 e, em 2013, a cidade decretou falência.

Pois o último recado da bomba armada pela GM vem de matéria do jornal Detroit News, em uma frase da presidente mundial da companhia, Mary Barra, sobre a América do Sul: “Não vamos continuar investindo para perder dinheiro”.

Ao sindicato dos metalúrgicos, em São José dos Campos, onde a negociação já começou, a proposta da GM deixa todos em Gravataí preocupados com o pior. Dizem que só continuam operando se houver “redução drástica de direitos”, e querem acordo com o sindicato, bem aos moldes do que a reforma trabalhista autorizou. Entre 28 pontos apresentados à categoria, a GM propôs aumento da jornada de trabalho, banco de horas, terceirização em todos os setores da fábrica, fim do transporte fretado, jornada intermitente e fim da estabilidade de emprego para lesionados.

Na depressão, Detroit, com 700 mil habitantes, chegou a registrar taxas de homicídio 11 vezes maior que Nova York, e índices de desemprego que chegaram aos 30%. E justamente de lá vem o exemplo e a receita que Gravataí, mesmo não acreditando na explosão desta bomba, começa a colocar em prática — já com alguns resultados. A solução de Detroit contra a crise foi “arrumar a casa”.

Sem dinheiro para investimentos, a aposta da cidade norte-americana foi manter os serviços públicos em bom funcionamento. O raciocínio era ter uma cidade atraente para novos investimentos. Funcionou. Em 2017, o índice de desemprego havia desabado para 7,5%, e a cidade já estava entre as que mais haviam recebido investimentos privados nos Estados Unidos naquele ano.

 

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A lição de casa

 

Em Gravataí, depois de um 2017 de guerra aberta, o ano passado terminou com a cidade com maior índice de redução de homicídios na Região Metropolitana. Na área da educação, o Ideb atingiu a maior nota da história do município. Na área da infra-estrutura, a segunda metade de 2018 foi marcada pelos anúncios e execuções de obras viárias fundamentais na cidade. De acordo com o secretário da Fazenda, a tarefa na determinação de arrumar a casa, em 2019, está na saúde.

— Acredito que o nosso grande trunfo foi a vinda da Santa Casa par a gestão do hospital. A partir deste movimento, o que se busca agora é uma sinergia entre o hospital, as UPAs e unidades básicas de saúde, para que o sistema, como um todo, seja mais eficiente. Isso resultará em dinheiro economizado também na saúde e, consequentemente, em melhores índices — explica.

 

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É que, como Severgnini enfatiza, não depende exatamente da ação direta da prefeitura a escolha por Gravataí de novos investidores, mas o município tem papel fundamental na preparação de fatores secundários nessas escolhas.

— Não é à toa que condomínios de alto padrão têm procurado Gravataí. Um empresário buscando novos negócios, ou alguém que quer um lugar para morar, leva em consideração os serviços básicos deste lugar. Se tem segurança, se tem uma boa escola, se é fácil o deslocamento e a logística. Estamos muito determinados nestes pontos — diz.

 

Em busca de investidores

 

Entre 2002 e 2012, Gravataí viveu os anos dourados da GM, com crescimento real da economia acima de 10% ao ano. Segundo o secretário, porém, o poder público não aproveitou o momento para arrumar a casa e, com isso, reduzir o fator GM na economia local. A partir de 2013, com a primeira crise do complexo, a fonte enxugou. E os cofres públicos minguaram.

Uma das medidas adotadas pela prefeitura desde 2017 é o georreferenciamento para saber exatamente o tamanho da área construída da cidade e, a partir daí, cobrar o IPTU mais próximo da realidade, e não com referências de 1997, como ainda funcionava o sistema. O trabalho, segundo Severgnini, já está 85% finalizado. Os números da arrecadação presumida são visíveis.

Em 2018, Gravataí lançou R$ 77,9 milhões a serem cobrados de IPTU. Para 2019, este valor subirá para R$ 90,4 milhões. Uma alta de 16% na arrecadação.

— É um dos aspectos que faz com que a nossa arrecadação, desde 2013, tenha duplicado, mas a força da GM é inegável e, hoje, fundamental para que o município enfrente, por exemplo, um déficit previdenciário crescente — diz.

O equilíbrio das contas, garante o secretário, tem atraído investidores à cidade e, diferente de anos anteriores, os bancos também voltaram a procurar o município. É que Gravataí readquiriu a capacidade de buscar financiamentos e, para Davi Severgnini, esta pode ser uma das formas de investir para desfazer, com a casa em ordem, a eventual bomba da GM.

Será que vai explodir?

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