Porque há o direito ao grito; então eu grito. Cito Clarice Lispector, nos 100 anos de nascimento, para berrar meu repúdio a Jair Bolsonaro, que na passagem pelo Rio Grande do Sul, para abanar aos carros na inauguração da nova ponte do Guaíba que começou a ser construída em 2014, disse que “estamos no finalzinho da pandemia”.
Vou dar a ‘ideologia dos números’ desse ‘finalzinho de pandemia’ em Gravataí: nesta sexta já são contabilizados 8.605 infectados e 206 vidas perdidas desde o primeiro caso em 22 de março. Nos últimos 15 dias foram mais de 1000 casos: 1.032, para ser mais preciso. São 3 infecções identificadas por hora; 1.3 mortes a cada 24h.
No Brasil a pandemia segue em crescimento: 179.063 óbitos registrados e 6.735.373 diagnósticos até quinta. Foram 836 mortes e 53.453 novos casos em 24 horas. Ontem foi o dia com maior número de doentes oficiais desde o dia 12 de agosto, no até então pico epidemiológico no país.
Conforme o G1, “a curva de mortes mostra um intenso crescimento desde o dia 11 de novembro. A média móvel de sete dias registrada hoje, de 640 mortes, é a maior desde o dia 6 de outubro. Com o avanço das últimas semanas, o Brasil reverte uma breve tendência de queda de casos e mortes registrada, especialmente, em outubro. Isso, sem contar com a intensa subnotificação. De acordo com cientistas, o número de mortes e casos são, seguramente, maiores”.
Não esqueçamos de lembrar dos profissionais de saúde. Cito a reportagem da jornalista Larissa Roso, em GaúchaZH, que reporta “crises de choro, rompantes de irritação e impaciência, brigas entre colegas, sintomas depressivos, aumento no consumo de álcool, ganho ou perda de peso”. Isso sem falar nas mortes, que personifico em Gislaine Pinto Lopes, auxiliar de enfermagem do Hospital Fêmina, em Porto Alegre, que há uma semana perdeu a vida aos 34 anos.
Não tem nada de torcida ou secação, são os fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos. Só confirma que o que escrevi, em COVID vs. H1N1: Gravataí já responde por 1 a cada 4 mortes projetadas por Bolsonaro para todo Brasil, e negacionistas ficaram indignados no Grande Tribunal das Redes Sociais, porque alertei que Gravataí chegaria nesta semana a 25% do número de mortes que Bolsonaro projetou PARA O BRASIL TODO, quando em março comparou a SARS-COV-2 ao H1N1.
Chegou, ultrapassou e… contando!
Se Bolsonaro não é desinformado, é um informado do mal. Se não é um louco, criminoso é. As palavras de um Presidente da República têm peso para incentivar comportamentos mortais. Assim como são um símbolo ruim imagens do ‘mito’ de rosto colado com o prefeito eleito de Porto Alegre, Sebastião Melo, os dois políticos com máscaras nas mãos.
Reputo essas palavras do, como diz o Fraga, deprimente da república, que tem o poder de mover multidões para a cova, por comportamentos irascíveis, muito mais passíveis de Ação Civil Pública por Danos Coletivos do que as que motivaram o Ministério Público gaúcho a acionar em R$ 200 mil a Rádio Gaúcha e o jornalista David Coimbra, por bobagens ditas sobre os assaltos do ‘novo cangaço’ em Criciúma e Cametá.
É o meu desabafo. Sei que em nossa aldeia, no Grande Tribunal das Redes Sociais, serei chamado de "comunista", "petralha", enquanto o ex-presidiário Lula resta condenado e Bolsonaro mata gente com suas palavras (que tantos relativizam apesar de terem a força influenciadora de um ‘mito’) e o promotor Voltaire de Freitas Michel de repente aparece no programa de TV do Bibo Nunes.
Ao fim, cancelem-me, denuncie-me mais haters, milícias digitais que conseguiram me banir do Facebook. Procurem outro imbecil, ou muito esperto, para ler. Não sou caça-cliques. Deixo meu grito inspirado em Clarice: é a pandemia do século, covidiotas!