As mãos de Evandro Soares ajudaram a carregar Jair Bolsonaro nas costas, quando o presidenciável irrompeu em meio à multidão que o esperava no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Durante toda a quarta, o vereador de Gravataí acompanhou o ‘mito’. No carro, na sequência de eventos populares ou reservados ao alto PIB gaúcho e na intimidade do hotel, lá estava o farmacêutico que é o primeiro suplente da candidata ao senado Carmen Flores (PSL), é vice-presidente do DEM do RS e é o cara na região metropolitana do organizador da turnê, o presidente do partido e deputado federal Onyx Lorenzoni.
– Foi impressionante. O povo tem Bolsonaro como o salvador da pátria. E o empresariado foi só aplausos – resume Evandro que, ao ser entrevistado pelo Seguinte: agora há pouco, contava os bastidores para amigos identificados com a esquerda, campo político onde (surpreendentemente, para quem não o conhece) cultiva relações tranquilas de convivência na cidade.
– Me viram carregando o Bolsonaro e queriam que eu tivesse era metido a mão… – brinca, sempre sorridente.
O vereador está impressionado.
– Só vi isso com o Lula.
Uma realidade, conforme ele, diferente da vivida pela quase totalidade dos políticos.
– A gente que atende as pessoas lá na ponta, como vereador, sabe o que é ouvir cobranças e flauta toda hora. Com Bolsonaro é idolatria – exemplificou, horas depois de acompanhar o presidenciável até o aeroporto, onde às 5h da manhã embarcou para Rondônia.
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Entre suor e guardanapos – e selfies – a sucessão de eventos deu rostos ao perfil dos apoiadores, interessados ou simplesmente curiosos com o polêmico capitão reformado do exército brasileiro.
Nos vídeos e na live feita por Bolsonaro no Salgado Filho, Evandro aparece como anfitrião ao lado de Onyx e Carmen Flores. Minutos depois, em um caminhão de som, começou o tiroteio verbal de sempre.
– Policial que mata bandido tem que ser condecorado. Bandido tem que ter medo do povo armado.
: Evandro Soares no palanque, entre Bolsonaro e Carmen Flores
Sob gritos de “mito, mito”, embalados por uma charanga onde se viam camisas de clubes de futebol, embarcaram em um carro com o candidato, escoltados por seguranças da polícia federal e batedores, até um evento da revista Voto em um hotel da capital. Após uma rápida conversa em sala reservada, onde estavam empresários como Jorge Gerdau e o dono da Lebes Otelmo Drebes, água mineral em uma mesa com Paulo Argolo, presidente do Simers, o sindicato dos médicos, e Luis Pedro Cauduro Ferreira, diretor de relações institucionais para América do Sul da Dana, cuja fábrica gaúcha fica em Gravataí.
O discurso centrado em mais segurança e menos impostos para quem empreende no Brasil terminou aplaudido.
: Evandro Soares, entre Onyx Lorenzoni e Jair Bolsonaro
Chefe Onyx
Do salão perfumado do Sheraton para o cheiro de campo e reses da Expointer, uma caminhada por entre continências a boinas azuis e policiais militares – e selfies e simulações de arminha com os dedos e mais selfies – e um encontro com produtores rurais sob o chapéu da Farsul.
– Pergunta essa para meu ministro chefe da Casa Civil – brincou Bolsonaro, com questão feita pelo presidente da federação da agricultura Gedeão Pereira, apontando para Onyx Lorenzoni.
– Gaúchos vão mandar no meu governo, porque tem também o Mourão – emendou, citando o vice Hamilton, general reformado do exército e porto-alegrense.
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Jairzinho Paz e Amor
Junto à comitiva estava Luis Carlos Heinze, candidato ao senado pelo PP, cuja esposa Sandra instigava jornalistas:
– Pode escrever aí que o Heinze é Bolsonaro!
A confirmação apareceu em seguida no perfil do facebook do deputado federal que teve a candidatura a governador suicidada pelo partido para apoiar Eduardo Leite (PSDB) a governador e a chapa Geraldo Alckmin (PSDB) e Ana Amélia Lemos (PP) à presidência da república.
– No meu governo não terá um milímetro de novas demarcações de terras indígenas – avisou o mesmo Bolsonaro que mediu quilombolas em arroubas, sob aplausos do candidato ao senado que, também a um público de ruralistas, já disse no passado que o governo Dilma aninhava “quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo que não presta”.
Na coletiva de imprensa, o presidenciável antecipou os ataques do PSDB de Geraldo Alckmin nas inserções eleitorais que começaram nesta sexta.
– Quero aqui agradecer o Fernando Henrique Cardoso, que disse que no segundo turno se unirá com o PT para me derrotar. Continua sua marcha para liberar a maconha, porque não haverá segundo turno – arrancou risos, como um Donald Trump tuitando pela boca.
– Se tiver segundo turno, não serei ‘Jairzinho Paz e Amor’.
: Evandro Soares, entre Jair Bolsonaro e Onyx Lorenzoni
Alô, Kipão
Músicas gaúchas depois, a próxima parada foi para um banho rápido no Laghetto, cinco estrelas localizado no nobre bairro dos Moinhos de Vento, antes de estrelar a festa de lançamento das candidaturas de Carmen e Evandro, para duas mil pessoas, na Casa do Gaúcho. No palco, um convidado especial do vereador de Gravataí: Alemão da Kipão, colega de câmara entre 2013 e 2016.
– Assim que li no Seguinte: (a entrevista de Alemão confirmando apoio para Bolsonaro) liguei e ele veio – conta Evandro, que apresentou ao ‘mito’ o empolgado empresário do super Kipão e da Kilegal brinquedos Everton Tristão, que fez até live no facebook, como “o vereador mais votado do PT em 2012, empresário da Morada do Vale, um dos maiores bairros de Gravataí, e agora teu apoiador”.
: Evandro Soares com Alemão da Kipão e Carmen Flores
Nata de pib
A quinta começou com um café da manhã no Country Club.
– A nata do PIB estava lá. Ele foi aplaudido de novo ao falar que vai reduzir a carga tributária de quem produz – conta Evandro, que depois acompanhou a visita ao ex-governador Jair Soares, que ao confirmar apoio ao presidenciável brincou com o ‘parentesco’ com o gravataiense:
– Os Soares estão contigo meu xará.
A agenda seguinte foi com a parte do eleitorado que segura o teto de Bolsonaro: as mulheres. Pelos cálculos dos organizadores, pelo menos 500 participaram do evento, também na Casa do Gaúcho.
– Não tenho nada contra as mulheres – repetiu, culpando a mídia, e principalmente a Globo, pela fama de misógino que o acompanha.
– A presidente do meu partido e candidata ao senado é uma mulher, a Carmem Flores – disse, no mesmo estilo em que nega ser racista: “meu sogro é o Paulo Negão!”.
Ciceroneado por Carmen, conversou e fez selfies com mulheres, gravou cenas para o programa de TV e conseguiu achar relação entre castração química e estupro, em rodas onde o que mais se falava era de seu desempenho no Jornal Nacional.
– Se fui bem, o povo tem que avaliar. Fui eu – respondia.
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Gravataí-Brasília
Nesta sexta, ainda sob o impacto da popularidade de Bolsonaro, Evandro arriscava um prognóstico:
– Dá para ganhar no primeiro turno.
O vereador não teme ficar marcado pelo apoio ao ‘mito’, em caso de fracasso de um eventual governo, que será julgado a partir das mais altas expectativas pela parte fanática do eleitorado:
– Sempre tive lado. Onyx abraçou, eu abracei. Se der errado, é da política. Em Gravataí já tivemos grandes lideranças que apoiaram Collor, Lula, Dilma, Aécio e Temer e sobreviveram. Mas acima de tudo acredito num bom governo. O povo quer e é hora de uma quebra de paradigma: chega de PT, PSDB, Centrão.
– É bom Jair se acostumando – brinca Evandro.
– Quem sabe não estarei lá em Brasília, com meu presidente?
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