A gente tenta falar sobre coisas legais, mas o momento não é esse. Estamos sem luz na redação, e por isso uma semana em casa, trabalhando home office. Trabalhar em casa é ter mais tempo para ficar com a família, mas também significa que a televisão pode ficar ligada. Ontem, dia 13, alunos de uma escola estadual de São Paulo morreram assassinados por dois jovens. Vocês já sabem disso né? O mundo inteiro sabe disso. As crianças foram para a aula e tiveram suas vidas tiradas por dois assassinos. Pronto, acabou.
Nesta semana, também, o Brasil, e sobretudo o Rio Grande do Sul está atento observando o julgamento do caso do menino Bernardo. Pra quem não lembra, o pai, a madrasta, a amiga dela e seu irmão, estão sendo acusados de matar o garoto e enterrar. A televisão segue ligada e de tempos em tempos boletins vão atualizando os telespectadores sobre os dois casos. A crueldade de se matar uma criança é ingrediente comum aos dois casos.
Eu fico pensando o que leva um pai, ou um adulto a querer matar seu próprio filho. Quando eu era menor, minha mãe contava que o meu pai era muito babão quando ela ficou grávida. Comprava carrinhos e brinquedos quando eu ainda estava na barriga. Ela contava também, que as vezes pegava meu pai com o ouvido perto da minha boca, tentando ouvir minha respiração para ver se eu estava bem. Naquela época a cena parecia engraçada, mas depois do Beni fez todo o sentido: o maior medo de um pai é que seu filho morra.
A gente não conversa muito sobre isso, nunca é um assunto corrente e talvez você jamais tenha ouvido essa frase assim, de forma tão forte antes, mas é a mais absoluta verdade. Todo o pai tem um medo danado de matar seu filho, principalmente o primeiro. A gente tem medo de dar comida de menos, tem medo de dar demais e ele passar mal. Temos medo de dar comida grande demais e ele engasgar. Qualquer febrezinha já é motivo de preocupação. Aí, quando começam a comer sozinhos e caminhar tudo piora.
– E se bater a cabeça? E se cair de cara no chão?
– Menino, já pensou se isso aí pega no teu olho, que perigo?
Quando a gente é filho, achamos essas lições um saco, puro exagero. Depois que viramos pais entendemos que isso é o nosso sentimento mais primitivo de proteção, porque a vida das mamães do mundo animal – e muitos pais também – é proteger a sua cria para que ela não morra até se defender sozinha. Elas não pensam no preço do leite Ninho, na conta da Panvel ou no preço da faculdade: o maior medo é que sua cria morra.
Esse é, ou pelo menos deveria ser, o nosso instinto. Como mães, como pais, como humanos. É preciso ser muito desumano para matar ou mandar matar uma criança. É preciso ser um monstro para mandar matar seu próprio filho.
Essa semana, com tanta carga negativa para o brasileiro, sobretudo o gaúcho, vai chegando ao final, mas os casos do massacre em Suzano e da morte de Bernardo nunca serão esquecidos. E que bom.
Que sirvam para que a gente aprenda a identificar sinais, a meter a colher, a denunciar e a perceber que se o filho do vizinho está passando por problemas é problema meu também. Não tenha medo de meter a colher em lugar algum, afinal não dá para saber quem é humano e quem é um monstro.
Que Deus confote o coração da mães e pais de Suzano. Que os homens deem a justiça que Bernardo merece. Que nós possamos cuidar e cuidar cada vez mais de nossos filhos. Eles são tudo o que importa.