RAFAEL MARTINELLI

O mexido entre Bordignon e Dimas mexe com cenário eleitoral; A regra dos sinais, a subtração de egos e o efeito da III Guerra Política de Gravataí

Daniel Bordignon (PT) recebeu Dimas Costa (PSD) para um almoço, nesta sexta.

O secretário adjunto dos Esportes do governo Eduardo Leite tuitou a visita ao ex-prefeito.

Reproduzo o Twitter e, abaixo, sigo.

Instiguei um e outro enviando pelo WhatsApp o print que recebi do encontro.

Dimas riu sobre eu fazer notícia de um “almoço entre amigos”. Bordignon me convidou para o próximo.

Fato é que recebi prints de políticos de diferentes lados da ferradura ideológica.

Pela repercussão, uma aproximação entre os dois, na eleição pela Prefeitura em 2024, mexe com o cenário eleitoral assim como a III Guerra Política de Gravataí, Zaffa x Marco Alba, pós Abílio x Oliveiras, Bordignon x Stasinski.

Escrevi sobre o último encontro entre os dois em Bordignon e Dimas ‘bateram uma chapa’ – que, na época, repercutiu da mesma forma que o mexido de hoje.

A única diferença de momento é que Dimas assumiu cargo no governo Leite, confirmou que é candidato a prefeito e Bordignon também é tratado nos bastidores como um candidato natural à Prefeitura pelo “PT do presidente Lula” – em quem os dois votaram no segundo turno.

Ao fim, antes de repostar o texto, relembro que só está se confirmando o que previ quando o rompimento entre Zaffa e Marco Alba ainda restava apenas um rumor: o racha de uns pode unificar outros.

Nem Dimas nem Bordignon confirmam uma aproximação eleitoral.

Mas é a ‘ideologia dos números’.

Na regra dos sinais, menos com menos – como podem ser vistos os dois políticos por aqueles que acham que a eleição se resume aos “90% de aprovação” de Zaffa e Marco – dá mais.

Já na conta da política, veremos. Antes é preciso subtrair egos.

Segue abaixo a íntegra do artigo de 27 de janeiro de 2023.

“(…)

Daniel Bordignon (PT) recebeu Dimas Costa (PSD) em sua casa, nesta quinta-feira. O ex-prefeito e o ex-vereador são os principais nomes da oposição em Gravataí. Ilustraram o “café” com uma selfie. Rebuscando uma expressão dos antigos, que combina mais com o encontro de dois políticos, ‘bateram uma chapa’. Afinal, tem eleição para a Prefeitura em 2024.

Reproduzo o post, feito por Dimas em sua página no Facebook, e, abaixo, sigo.

Sigo eu.

Por que aponto Bordignon e Dimas como os principais nomes da oposição? Votos, os tenham ainda, ou não, sempre que concorrem são os mais votados no campo adversário à hegemonia conquistada pelo MDB desde o golpeachment contra a prefeita Rita Sanco (PT), em 2011.

O ex-prefeito entre 1997 e 2004, e deputado entre 2007 e 2014, em sua última aparição nas urnas, em 2016, ganhou a eleição para a Prefeitura de Marco Alba (MDB). Não assumiu porque a eleição foi anulada devido a suspensão de seus direitos políticos após condenação pelo STJ pela contratação irregular de funcionários públicos.

Na eleição suplementar de 2017, foi ‘Grande Eleitor’. A esposa, Rosane Bordignon, recém eleita vereadora, perdeu a eleição para o prefeito reeleito por apenas 4 mil votos.

Já Dimas, que como primeiro suplente do partido na Assembleia Legislativa ainda deve ocupar cargo de relevância no governo Eduardo Leite (PSDB), ficou em segundo lugar na eleição para a Prefeitura em 2020, com 35.623 votos (31,58%), e concorrendo a deputado estadual fez 20.564 votos em 2018 e 27.956 votos em 2022; 18.013 e 17.821 em Gravataí, respectivamente.

Por obvio, Dimas, cujo momento político analisei após a eleição de outubro em #DasUrnas | Dimas saiu das urnas como principal nome da oposição em Gravataí, mas perdeu de novo; É o teto do ‘nem-nem’?, não foi até a casa de Bordignon para lembrar dos tempos de PT, partido pelo qual foi eleito vereador pela primeira vez em 2012, ou para falar sobre a tentativa de golpe bolsonarista. Era sabido no meio político que os dois eleitores de Lula vinham conversando.

Mas, como conversar quase todo mundo conversa na política da aldeia, seja por afinidade, interesse, desespero ou educação na fila do pão, faltava a foto postada; o símbolo agora apareceu.

Dimas desconversou, ao responder ao Seguinte: se a chapa seria Bordignon e Dimas, ou Dimas e Bordignon:

– O Daniel foi um grande prefeito. É um homem honrado, que nunca respondeu a processo de corrupção, assim como eu. Sempre estivemos na oposição ao MDB em Gravataí. Mas não é momento para falar em candidaturas, em Dimas e Bordignon, Bordignon e Dimas. Foi só um café entre dois caras do povo – disse.

Em comentário no post, Rosane Bordignon permite medir a relação, ao descrever o estado de espírito do marido:

– Veio me contar todo feliz que recebeu tua visita Dimas. Venha sempre! És sempre bem-vindo em nossa casa, e por nossa família. Grande abraço – escreveu a professora.

Ao fim, reputo Bordignon e Dimas juntos é um ‘tirem as crianças da sala’, para a oposição; instiga a reflexão que já fez Frei Betto, referindo-se às prisões na ditadura, de que “a esquerda só se une na cadeia” – mesmo que conceitos de esquerda, centro ou direita restem ‘atualizados’.

E, também, seja quem for o candidato oficial, antecipa um problema para Marco Alba e Luiz Zaffalon, em uma eleição que se antecipava fácil para um ex-prefeito que saiu do governo com uma popularidade de mais de 80% e um prefeito que já tem a mesma aprovação em dois anos de governo.

Que a aproximação entre Dimas e Bordignon mexe com o cenário político, a Nossa Senhora dos Prints confirma.

Nas menos de 24 horas desde o post, adversários já espalham postagens e áudios de críticas mútuas passadas entre os dois. Do que já recebi, nada além do que já falaram Lula e Alckmin um do outro. Não que seja pouco.

Como já fiz em análises envolvendo Marco Alba e Zaffa, concluo com uma do Millôr, sobre o ‘Ser Político’, entidade que transcende esquerda, direita ou nem-nem:

Ser político é engolir sapo e não ter indigestão, respirar o ar do executivo e não sentir a execução, é acreditar no diálogo em que o poder fala e ele escuta, é ser ao mesmo tempo um ímã e um calidoscópio de boatos, é aprender a sofrer humilhações todos os dias, em pequenas doses, até ficar completamente imune à ofensa global, é esvaziar a tragédia atual com uma demagogia repetida de tragédia antiga, é ver o que não existe e olhar, sem ver, a miséria existente, é não ter religião e por isso mesmo cortejar a todas, é, no meio da mais degradante desonra, encontrar sempre uma saída honrosa, é nunca pisar nos amigos sem pedir desculpas, é correr logo pra bilheteria quando alguém grita que o circo pega fogo, é rir do sem-graça encontrando no antiespírito o supremo deleite desde que seu portador seja bem alto, é flexionar a espinha, a vocação e a alma em longas prostrações ante o poder como preparação do dia de exercê-lo, é recompor com estoicismo indignidades passadas projetando pra história uma biografia no mínimo improvável, é almoçar quatro vezes e jantar umas seis pra resolver definitivamente o problema da nossa subnutrição endêmica, é tentar nobremente a redistribuição dos bens sociais, começando, é natural, por acumulá-los, pois não se pode distribuir o pão disperso, e é ser probo seguindo autocritério. E assim, por conhecer profundamente a causa pública e a natureza humana, estar sempre pronto a usufruir diariamente do gozo de pequenas provações e a sofrer na própria pele insuportáveis vantagens.

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