Jeane Bordignon

O que cabe no poema, em uma pandemia?

“O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema….”

(Ferreira Gullar)

 

Dois mil brasileiros mortos

num único dia

não cabem no poema.

Milhares de pessoas,

enfermas graves,

não cabem nos hospitais.

O bom senso

parece que não cabe

em tantas cabeças…

As máscaras nos queixos

não cabem no poema.

As aglomerações de festa

não cabem no poema.

As pessoas que saem a passeio

não cabem no poema.

Aqueles que acham

que não há tanto perigo

não cabem no poema.

A falta de trabalho

não cabe no poema.

A falta de alimento

não cabe no poema.

O auxílio emergencial…

O mês é que

não cabe no auxílio.

A miséria que se espalha

Tem espaço no poema

Porque poeta que é poeta

Não se cala, não se cala

Diante das dores do mundo.

Mas a tristeza já é tanta

(mais de 200 mil mortos!)

que não cabe mais no poema.

A demora na vacinação

não cabe no poema.

O presidente negligente

não cabe no poema.

Os governantes que não tomam

as medidas necessárias

não cabem no poema.

As pessoas que não respeitam

os protocolos sanitários

não cabem no poema.

Já não cabem mais

o egoísmo,

a insensibilidade,

a falta de senso de coletividade,

a ausência de empatia,

o desprezo pelo próximo,

a ganância acima da vida….

Já não cabe mais

a falta de humanidade.

O que cabe no poema

sempre

é a esperança

em dias melhores.

Pandemia não rima

com o poema.

Mas é a poesia

que nos anima

nesses dias de agonia

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