“O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema….”
(Ferreira Gullar)
Dois mil brasileiros mortos
num único dia
não cabem no poema.
Milhares de pessoas,
enfermas graves,
não cabem nos hospitais.
O bom senso
parece que não cabe
em tantas cabeças…
As máscaras nos queixos
não cabem no poema.
As aglomerações de festa
não cabem no poema.
As pessoas que saem a passeio
não cabem no poema.
Aqueles que acham
que não há tanto perigo
não cabem no poema.
A falta de trabalho
não cabe no poema.
A falta de alimento
não cabe no poema.
O auxílio emergencial…
O mês é que
não cabe no auxílio.
A miséria que se espalha
Tem espaço no poema
Porque poeta que é poeta
Não se cala, não se cala
Diante das dores do mundo.
Mas a tristeza já é tanta
(mais de 200 mil mortos!)
que não cabe mais no poema.
A demora na vacinação
não cabe no poema.
O presidente negligente
não cabe no poema.
Os governantes que não tomam
as medidas necessárias
não cabem no poema.
As pessoas que não respeitam
os protocolos sanitários
não cabem no poema.
Já não cabem mais
o egoísmo,
a insensibilidade,
a falta de senso de coletividade,
a ausência de empatia,
o desprezo pelo próximo,
a ganância acima da vida….
Já não cabe mais
a falta de humanidade.
O que cabe no poema
sempre
é a esperança
em dias melhores.
Pandemia não rima
com o poema.
Mas é a poesia
que nos anima
nesses dias de agonia