abílio: 1940-2016

O último adeus a Abílio, o pai dos pobres

DA REDAÇÃO: Nesta sexta, Abílio dos Santos completaria 80 anos. O ex-prefeito faleceu há dois anos, em um 27 de agosto. O Seguinte: reproduz a reportagem sobre a despedida daquele que foi um dos políticos mais carismáticos de Gravataí

 

Abílio Alves dos Santos foi sepultado agora há pouco ao lado de dois amores da sua vida: o filho Vânius e a ex-esposa Irany, falecidos em 1984 e 2010.

Sob os olhos emocionados da filha Lisiani, das netas Paloma, Fernanda e Cássia, da companheira Nara Campos e da fiel escudeira Bia Padilha, o ‘pai dos pobres’, como seu grande inspirador Getúlio Vargas, em sua aldeia saiu da vida para entrar para história.

– Abílio, amigo do povo! – gritou entre poucos dentes Claudionor Maia, 60, um humilde coveiro aposentado ali do Cemitério Central, assim que se ouviram mais das tantas palmas do dia, no momento em que o caixão era coberto por dezenas de coroas de flores.

O ex-prefeito e ex-deputado por três mandatos, falecido na tarde de sábado vítima de complicações em um câncer no esôfago que tratava há cerca de um ano, foi sepultado às 16h35 deste domingo, após ser velado na Prefeitura, que decretou luto oficial de três dias, e ter o esquife carregado num caminhão do Corpo de Bombeiros em cortejo pelas ruas do Centro de Gravataí.

Indissociável da política, naquelas coincidências da vida, morreu durante uma campanha eleitoral.

 

 

Um bonachão

 

O ato ecumênico, num saguão da Prefeitura lotado por familiares, amigos, políticos, candidatos e eleitores, onde Abílio jazia observado por sua foto na parede, entre as de outros 16 ex-prefeitos, trouxe a Gravataí o ministro do Trabalho Ronaldo Nogueira, do PTB, partido do ex-prefeito.

– Como fazia com todo mundo, ele me chamava de ‘filhinho’, ‘gurizinho’. Era uma assinatura de seu grande coração – lembrou o gaúcho de Carazinho e pastor evangélico, que ministrou as celebrações ao lado do também pastor Paulo Ricardo Pereira, convidado especial da família, e dos padres católicos Tarcisio Rech e Lucas Mendes.

– Um bonachão. Um homem bom. Foi o que mais ouvi entre ontem e hoje, enquanto anunciava nas igrejas que o seu Abílio havia falecido – contou o padre Tarcício que, religiosamente, todos os sábados conversava com aquele baixinho, gordinho e de cabelos lambidos, que nos mais altos que baixos de sua vida estava lá, orando no quarto banco da Santa Luzia.

– Sempre gostei de política, e aos 12 anos datilografei uma carta dizendo ao deputado Abílio que queria conhecê-lo. Ele me chamou. Pedi a minha avó um terno e fui. Nunca esqueço o tratamento que teve comigo, a simplicidade e o saber acolher – recordou o jovem padre Lucas.

– Entrou rico na política e saiu pobre! – descreveu o radialista Maurílio Moraes, 70, que arrancou palmas ao dar um discurso sobre o amigo de horas boas, como as vitórias políticas dos últimos 40 anos, e ruins, como a morte do filho Vaninho num acidente automobilístico na RS-020.

 

 

Causos do Abílio

 

Um rosto entre os inconsoláveis era Bia Padilha, há três décadas cuidando de Abílio como ex-secretária, ex-chefe de gabinete e amiga mais íntima da família. Quando o caminhão dos Bombeiros estacionou na praça Borges de Medeiros, em frente à Prefeitura, ela contava a ouvintes emocionados histórias bonitas, pontuadas por sorrisos e lágrimas, sobre o chefe que virou pai, filho, irmão e companheiro de Natais e pescarias.

– O Abílio falava com o coração. E quem fala com o coração, fala aos anjos – recitou, após contar causo onde Abílio foi personagem de reportagem de Giovani Grizotti sobre diárias da Assembleia Legislativa ao contar que as usava para “dar um rancho para um, uma cadeira de rodas para outro”.

– Chamado para falar ao juiz, para desespero dos advogados disse a verdade. Saiu sem condenação.

– Ele era assim, e eu nesse tempo todo nunca tive um momento de vergonha do jeito dele ou do que ele fazia, porque era puro e verdadeiro – contou, lembrando que ela e Abílio brincaram há poucos dias sobre o histórico debate na TV, nas eleições de 2004, onde o então candidato a prefeito chamava os adversários de “despreparados”, e para muitos perdeu ali uma eleição que era dada como ganha.

– O Abílio não cultivava inimigos nem sabia odiar ou arquitetar maldades políticas. Muitos se aproveitaram e lhe fizeram mal, mas nunca roubaram dele a inocência – orgulhava-se, feliz que o amigo tinha mantido a fé e o bom humor até os últimos dias.

– Eu dirigia para ele e ele sempre gostava de dar uma olhadinha em mulheres bonitas que passavam. Eu dizia: “que é isso, seu Abílio”, levava a mão até os olhos dele e tapava. Esses dias fizemos o mesmo gesto, rindo, ao passar em frente a uma funerária. Ele era um otimista e dizia para todo mundo que logo ficaria bom.

– A ausência dele já dói tanto… – chorava ao lado a companheira Nara, observando o prefeito Marco Alba e Edir Oliveira, presidente do PTB e sucessor de Abílio na Prefeitura, ajudarem a levar o caixão até o caminhão, que partiu num cortejo silencioso até o cemitério da rua Ciprestes.

 

 

O Abílio legal

 

Ao lado do caixão coberto com bandeiras de Gravataí e do PTB, Edir Oliveira pediu a palavra:

– Alguns podem pensar que isso não é hora de falar de política. Mas não falar do político e dos 40 anos onde a política misturou-se com a vida do Abílio seria esquecer o principal.

Com a voz trêmula e em lágrimas, Edir rememorou a trajetória de Abílio, que se mistura com a dele, em bons e maus momentos.

– Ele me levou para o PTB e me fez prefeito – recordou 1992, eleição em que Abílio teve a candidatura impugnada e ele, Edir, que era o candidato a vice, foi eleito com 23.968 votos embalados com o célebre slogan “Abílio é Edir, Edir é Abílio”.

Quinze anos antes, o prefeito Dorival de Oliveira, tio de Edir, o vice Ely Correa e Pedro Simon, acamparam em Morungava para convencer Abílio a entrar na política e compor a chapa com Ely.

– Era o Abílio legal com as pessoas, do posto de gasolina Legal. Ele demorou a aceitar. Quando disse sim, virou esse fenômeno que conhecemos.

– Desde esse dia de 1977, ele fez o que disse que ia fazer: ajudar as pessoas. E sempre tratou a todos da mesma forma, da maior autoridade ao mais simples, era ‘gurizinho’, ‘filhinho’, ‘tontinho’, ‘minha véinha, meu véinho…

Edir lembrou a vontade de Abílio de concorrer a vereador nesta eleição. Já estava em campanha, mas a saúde debilitada o tirou das urnas.

– Ele brincava que eu e o Marco tínhamos sido vereador, prefeito e deputado. E ele ainda não tinha sido vereador. Seria o mais votado da história de Gravataí!

Instigado por Bia, o prefeito Marco Alba encerrou a cerimônia com breves palavras, enquanto olhava para a lápide onde estava também a foto de Vaninho, de quem fora o melhor amigo e, ao lado de Jair Dilarez e Maurício Barcellos formavam os “menudos” do governo Abílio, onde estreou como secretário de Indústria e Comércio.

– Era meu padrinho. Que esse grande coração e esse legado de bondade e amizade que ele deixou sirvam de inspiração a todos nós.

 

: Últimas despedidas a Abílio dos Santos no cemitério central | Foto RAFAEL MARTINELLI

 

A última entrevista

 

Nós do Seguinte: tivemos a honra histórica de sermos recebidos em sua casa por um Abílio que, mesmo em meio à guerra contra sua doença, nos deu uma entrevista sensacional, com causos e lembranças históricas. Foi há um mês. E foi sua última entrevista, "Uma tarde com o pai dos pobres".

Nossos sentimentos à família e amigos.

Você lê clicando aqui ou na imagem abaixo. 

 

 

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