No ouroboros do PDT de Gravataí, Dilamar Soares é, ao menos hoje, o último a abocanhar alguma cauda. O vereador nomeou Josué Bitelo, primeiro suplente do partido, como seu chefe de gabinete na Câmara.
Dila, para quem não sabe, é ameaçado de expulsão por suposta infidelidade partidária desde que votou a favor da reforma da previdência do prefeito amigo, Luiz Zaffalon (MDB). Fosse cassado, Josué assumiria.
O líder comunitário da Costa do Ipiranga ficou como segundo suplente na eleição, com 656 votos, mas hoje é o primeiro porque a digital influencer Daiana Luz, que fez 810, foi para o União Brasil e é apresentada como candidata a deputada federal.
Fato é que, ao empregar Josué, o vereador faz um gesto que nenhum partidário fez. É, hoje, o único suplente chamado para um CC para cargo de indicação política.
Os outros vereadores, Bino Lunardi e Thiago De Leon (que é presidente do partido), não tem em seus gabinetes pedetistas que enfrentaram as urnas em 2020 – e, na proporcionalidade dos votos, ajudaram a elegê-los.
É Josué, também, e aí resta habilidade política do vereador (já um veterano em terceiro mandato), o único que poderia assumir no caso de uma improvável expulsão de Dila, já que outros suplentes não fizeram os 10% do coeficiente eleitoral exigidos por lei, e no PDT ficou apenas a bióloga Daniela Diedrich.
Outros suplentes, Evandro Raupp e Nando Trindade, são, hoje, vice-presidente e secretário-geral do Podemos, ex-partido daquele que adversários chamam ‘juiz ladrão’.
Mas há outro aspecto na parceria de Dila e Josué que vai além da articulação política, ou do ‘patrão e empregado’ na Câmara. Josué fez uma campanha de apenas 15 dias, só abanando de dentro do carro, com dificuldades de fala e locomoção, após ganhar alta de infecção severa pela covid-19, que o derrubou logo após a perda da mãe.
Poucos lhe estenderam a mão.
Isso conta, ao menos moralmente, na fidelidade do ex-petista a ele.
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Ao fim, do jeito certo, ou errado, Dila ganhou um ‘habeas corpus político’ porque faz o que o partido não fez pelos seus, empregando o primeiro suplente e último presidente eleito pelo voto.
O ‘infiel’ foi fiel ao partidário desempregado melhor colocado na eleição.
Lembrou-me um causo sobre Brizola. Diz que, depois de, num comício, defender com a competência que ninguém discute seus inatacáveis pontos de vista socialistas, perguntou a um companheiro mais simples o que tinha achado do discurso.
– Olha – respondeu o companheiro – apesar de tudo que o senhor disse, que foi impressionante!, eu ainda prefiro o socialismo.
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