RAFAEL MARTINELLI

Onyx ganhou ou perdeu a eleição ao permitir a homofobia como polêmica da campanha; O RS vai responder

Foto Mateus Bruxel | Agencia RBS

Ou Onyx Lorenzoni (PL) ganhou, ou perdeu a eleição entre esta quinta e sexta-feira. Reputo não ao usar em sua propaganda eleitoral que “o Rio Grande do Sul terá um governador e uma primeira-dama de verdade”, e sim ao confirmar a suspeita de homofobia ao dizer no debate da Rádio Gaúcha, que respeita a “escolha” de Eduardo Leite (PSDB).

O Rio Grande do Sul responderá minha dúvida, apesar de eu observar na bolha da esquerda nas redes sociais, para além dos que já votariam em Leite contra o bolsonarismo, um movimento de quem votaria branco, nulo ou não iria às urnas, agora contra Onyx após a baixaria dos últimos dias.

Por outro lado, um movimento arriscado como esse de Onyx só se faz com base em pesquisas; e, talvez, seja o que o ‘gaúcho’ quer.

Nesse debate tão profundo quanto uma poça de água, ou de lama, me permita, candidato. Talvez não compreendas, pelo desconhecimento, ou pelo preconceito (aí é uma coisa que só o senhor pode responder), mas o homossexualismo não é uma “opção”: a expressão correta é “orientação”, e, mais precisamente, “condição” humana!

Mas, o que esperar de um político negacionista, e por isso, anticiência, que no mesmo debate disse que, 700 mil vidas perdidas depois, ainda não se vacinou contra a covid-19, por “não ter comprovação científica”, apesar da aprovação da Anvisa e da vacinação salvar vidas mundo afora.

Inegável é que o uso da condição gay de um candidato coloca a política gaúcha não à beira do precipício, mas lá embaixo, babando de preconceito e ódio; como nunca testemunhei, em 25 anos de cobertura política, em que candidaturas de diferentes condições sexuais já disputaram o Palácio Piratini.

E Onyx foi covarde.

Entre trechos da Bíblia que não lembro citar em sua história pregressa, ao menos antes do episódio do caixa 2, negou o que entendeu um bobo, como eu, ou qualquer imbecil, ao acessar sua propaganda.

– Não assumo – disse Onyx, sobre a acusação de homofobia feita pelo adversário, que assumiu publicamente a homossexualidade em 1º de julho do ano passado, no programa Conversa com Bial, da Globo.

Já tinha Onyx, segunda-feira, no debate da Band TV, insistido em citar por mais de uma vez sua “primeira-dama”, numa estratégia que, ao negar, considera idiotas os gaúchos que, por óbvio, entenderam bem a insinuação.

Se o criminoso sou eu, ao acusa-lo, desafio Onyx com a figura jurídica da ‘exceção da verdade’: saiamos às ruas, mostremos a propaganda para 10 pessoas e vejamos o que cada um entende.

É imensuravelmente obvio que Onyx quis trazer a condição sexual de Leite para a campanha.

É mais feio negar, candidato.

Negou também Onyx, como acusou Leite no debate de hoje, ter relação com postagens de parceiro de palanque que ligou o adversário, em postagens que a justiça eleitoral mandou retirar, a uma atividade cultural chamada ‘Roda Bixa’, de Santa Catarina, na qual insinuaria que o pelotense, em suas palavras, aprovaria “bolir com crianças”.

Isso é Damares! É nojento, por mais que Onyx tente se mostrar, em fala mansa, como um ‘Bolsonaro Rivotril’.

Sinto por políticos, e amigos, de Gravataí, que por gosto, ou pelas suas circunstâncias, se rebaixam em suas incontestáveis biografias, e resultados para a comunidade de Gravataí, ao fazerem campanha para um candidato que também escolheu cair para a Segundona do bolsonarismo raiz; algo que não era, até aderir aos dogmas dessa seita.

Eduardo Leite pode ser um mentiroso, e mentiras não faltam para lembrar, do ICMS à reeleição, mas reputo Onyx comete crime de homofobia. Sofisticado, já que deixa uma saída para absolvição caso seja julgado por algum magistrado amigo, ou que não queira se incomodar. Permite até, mesmo defensor da “liberdade de expressão”, processe quem assim identifica sua estreia na propaganda eleitoral do segundo turno.

Fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos, é que o rabinho do nosso gato, é do nosso gato, por mais que o bichinho ache estar escondido por detrás da cortina. E o gato é o gato; senciente, como já admite até a justiça, mas ainda impedido de concorrer em eleições.

O requinte de crueldade de Onyx foi dizer que Leite se “vitimizava”, no que entendo completar o combo de culpar a vítima, no caso, o político gay, conforme denunciou Leite, a partir da postagem do tarado que estava no palanque bolsonarista e, a partir da ‘Roda Bixa’, teria-o acusado de se associar ao ‘bolir’ com crianças.

Amigos, gays e não, me instaram a não ficar atrás do muro nessa destruição da política, tão necessária, não para pobres premium, como a maioria de quem me lê, mas para quem mais precisa.

Jamais ficaria. Quem me acompanha sabe que sou dos últimos a permitir aos políticos apenas a ‘presunção de culpa’. Mas, se em junho fiquei refletindo se tinha sido duro demais (e me achei indelicado, confesso) ao analisar a palestra de Onyx na Acigra, a associação comercial de Gravaaí, em Vou fazer igual Bolsonaro no RS, diz Onyx em Gravataí; Dr. Jekyll e Mr. Hyde na Acigra, o tempo agora me conforta.

Essa eleição gaúcha me lembra “Um dia”, de Millôr: “O dia amanheceu manhoso, avançou perigoso, foi nos cercando insidiosamente, chegou ao meio-dia ameaçador, armou suas circunstâncias com crueldade, cometeu muitos adultérios, desonrou juízes, caiu em cima de um avião, fez descer metade da montanha sobre centenas de inocentes, destruiu papéis irrecuperáveis, matou animais de estimação, e foi embora silenciosamente, como se fosse um dia qualquer, ainda se dando à ironia de um crepúsculo espetacular”.

Ao fim, a grande verdade protagonizada pelo futuro governador do Rio Grande do Sul, seja um ou outro, foi não terem se cumprimentado. De hipocrisia, aposto o povo está cheio.

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