Eu poderia falar de coisas boas, comungar esperança, mas jornalismo é ‘o poste mijando no cachorro’. Então, como mensagens bonitinhas do ‘cachorro mijando no poste’ você já recebeu aos montes em suas redes sociais, farei o serviço sujo, de sugerir um pouco de reflexão, o que sinto caber a quem, como eu, tem como lida opinar.
Observe.
Hoje não é a noite perfeita para muitos se embebedarem de hipocrisia? Para o ‘tio do churrasco’ cantar canções natalinas das quais não pratica uma nota de bondade, um solo de empatia ou mesmo uma desafinada que seja de sua intolerância, para além da fakenews da família de cera na foto do post feliz?
Isso os que ainda se importam em fingir um pouquinho, não são escrotos o tempo todo.
(você lembrará o artigo ao testemunhar algumas conversas daqui a pouco, caso em sua ceia conviva com mais pessoas – e, caso isso ocorra, pense nas crianças).
Não tenho dúvidas de que se Jesus descesse de um Sogil amanhã pela manhã e saísse pregando Dorival afora, seria perseguido de dia e xingado de noite, principalmente no Grande Tribunal das Redes Sociais.
Onde já se viu falar na busca da verdade, se fatos são os chatos que atrapalham argumentos, o santo da vez é o WhatsApp e a parábola é um meme preconceituoso e violento?
Onde já se viu falar em amar ao próximo, oferecer a outra face, orar pelos que o perseguem, e fazer ao outro só aquilo que gostaria que fizessem a ti, em tempos de pequenas e grandes corrupções, corações de talião e dedos de arminha?
Onde já se viu esquecer os tesouros que a traça e a ferrugem corroem, e servir aos miseráveis, dar voz às minorias, ou vandalizar os vendilhões do templo? Enfim, essas coisas de revolucionário que – delatam – o cara lá de Nazaré fazia.
A diarista do prédio contou que nesta semana que passou uma vizinha a chamou de ‘negra suja’ – e não foi a primeira vez. Ao fundo, a guirlanda pendurada na porta convidava: “Feliz Natal”.
Antes que os fanáticos metralhem teclados, das trincheiras digitais da Grande Guerra Ideológica Nacional, achando que estou falando de política ou ideologia, sinto informar que estou tratando antes de tudo de caráter, de civilidade. Alternância de poder é da democracia. Convulsão social, não. É sintoma do início do fim.
Num dia de festa isso soa amargo – coisa que não sou e quem me conhece sabe. Acredito nas pessoas e avalio que o custo da decepção é sempre menor que o valor de um coração aberto e cheio de esperança. O que não me impede de convocar a furarmos a bolha da insensatez. Façamos nossa parte, exercendo a bondade e a tolerância. Nunca calemos frente às injustiças. É um dia bom para lembrar uma história que contam, de um cara torturado e crucificado injustamente, que acredite-se, ou não, mudou o mundo moderno.
Se enfrentar os dias de hoje seria difícil para o Jesus de Nazaré do filme clássico, de olhos azuis e cabelo bom, coloque-se no lugar da diarista.
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