eleições 2018

OPINIÃO | Como entendi nota das Irmãs do Dom Feliciano sobre eleições

A Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, que administra o Dom Feliciano, mais tradicional colégio de Gravataí, e que por 50 anos operou milagres no hospital Dom João Becker, divulgou nota pública “sobre o momento atual brasileiro”.

Reproduzo, analisando cada trecho. Por obrigação de ofício, já que o texto é bem objetivo e de fácil compreensão.

 

“(…)

A Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, quer atualizar a palavra da Fundadora, a Bem-Aventurada Bárbara Maix, que escreveu “todos estão seriamente obrigados a não esquecer os pobres” (Const. 1852); quer ser fiel a Jesus Cristo, que responde ao doutor da lei: “vai e faze tu o mesmo” (Lc 10,37).

(…)"

 

Perfeito. Para alguns é o óbvio, mas no dia da eleição, quando postei no facebook um card com a frase “Na dúvida, fique do lado dos pobres”, de autoria de Dom Pedro Casaldáliga, a maior parte dos comentários foi de xingamentos.

– Comédias!

– Postagem ridícula!

Pergunto: então o Brasil que alguns querem não deve olhar primeiro para os mais pobres?

 

"(…)

Com uma história de 170 anos de atuação na defesa, na promoção da vida e no resgate da cidadania e, face ao momento sociopolítico e econômico em que vivemos, manifesta seu posicionamento:

A FAVOR: da vida, da misericórdia, da caridade, da paz, do respeito, da liberdade, da verdade, da democracia, da participação cidadã, da solidariedade, e de todos os valores do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

CONTRA: a guerra, a violência, a ditadura, a tortura, a mentira, a exploração, a discriminação, o preconceito, o racismo, a dominação, o medo, o desemprego, a perseguição e tudo o que torna menos digna a vida – dom de Deus.

(…)"

 

Inegável que a nota condena pilares que conduziram discursos de antes e durante a campanha, que estão gravados e documentados em falas dos próprios autores, não em fakenews distribuídas por ‘cidadãos de bem’ em grupos da família ou em disparos pagos por grandes empresários.

Alguém recorda de em alguma outra eleição a Congregação das Irmãs ter publicado nota precisando manifestar apoio à vida?

Não será porque nesta eleição tantos defenderam a pena de morte?

Alguém recorda de em alguma outra eleição a Congregação das Irmãs ter publicado nota precisando se manifestar contra o racismo?

Não será por que nesta eleição se mediu negros em arroubas?

Alguém recorda de em alguma outra eleição a Congregação das Irmãs ter publicado nota precisando se manifestar contra o preconceito?

Não será porque nesta eleição se difundiu tanto o discurso de que surrar um filho gay é uma prática normal de ser aceita por cristãos? Ou que é justo que mulheres ganhem menos que os homens? Ou que uma mulher não merece ser estuprada porque é feia?

Alguém recorda de em alguma outra eleição a Congregação das Irmãs ter publicado nota precisando se manifestar contra a ditadura?

Não será porque, numa obscura exortação de sentimentos e circunstâncias – medo, desinformação, fanatismo, maldade… escolha ou acrescente outros – pessoas foram às ruas pedir intervenção militar?

Alguém recorda de em alguma outra eleição a Congregação das Irmãs ter publicado nota precisando se manifestar contra a tortura?

Não será porque vestiram a camiseta com a face do mal, tratando como um ídolo pop, um herói, o coronel torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra?

– Eles colocam muitos fios elétricos descascados dentro da vagina, colocam dentro do ânus. Você grita de dor, perde o equilíbrio e cai no chão. Eles vêm em cima de você, para te estuprar. O momento de maior dor foi ver Ustra levando os meus dois filhos, assim, na sala de tortura, onde eu estava nua, vomitada, urinada – contou essa semana, na TV, Amelinha Teles, torturada durante a ditadura pelo militar que deveria envergonhar os colegas e provocar nojo em qualquer ser humano.

Para comprovar que o inferno é aqui, e os demônios são de carne e osso, a filha de Amelinha, Janaína, acrescentou:

– Lembro de entrar na cela e ver meus pais sem se mexer, muito machucados.

Ah, mas as Irmãs também falaram em medo, violência e desemprego! Sim, desafio para o próximo presidente tentar resolver pelas vias democráticas, não à faca ou à bala.

 

"(…)

Considera urgente retomar e analisar os dois projetos que disputam a Presidência da República do Brasil e, pensando nas famílias, nas crianças, nos jovens, nos adultos e nos idosos, apoiar o projeto que garanta o Estado Democrático de Direito.

(…)"

 

Alguém recorda de em alguma outra eleição a Congregação das Irmãs ter publicado nota precisando manifestar apoio ao “projeto que garanta o Estado Democrático de Direito”?

Não será porque, enquanto os políticos, boa parte da mídia e tantos eleitores enxergam apenas ideologias ou o pragmatismo do anti-isso ou anti-aquilo, a democracia brasileira corre riscos quando figuras que provavelmente comandarão o país falam sem vergonha – até em horário nobre da Globo! – em “auto-golpe”?

 

"(…)

Ainda é tempo. A sabedoria de Deus nos mova, fortaleça e oriente nossas decisões.

(…)"

 

“Ainda é tempo”, é a conclusão. Não é preciso comentar mais nada.

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