Não deixa de ser curioso um prefeito socialista dirigir por seis horas para tentar convencer os donos da Havan a escolher o município para hospedar uma de suas réplicas da Estátua da Liberdade.
Na segunda-feira em meio ao último feriadão, Miki Breier (PSB) percorreu mais de 500 quilômetros pela BR-101 para visitar a sede da gigante em Brusque, Santa Catarina, em busca de uma filial da maior loja de departamentos do Brasil.
Uma das principais estrelas gaúchas do Partido Socialista Brasileiro, Miki gravou um vídeo na loja que tem como proprietário o polêmico Luciano Hang, o biótipo do ‘capitalista selvagem’, entusiasta da reforma trabalhista de Michel Temer e crítico da participação estatal na economia.
Como gerente da cidade, Miki tenta um ‘negócio da China’, analogia apropriada já que garante que Cachoeirinha quer a loja de 15 mil metros quadrados e os 300 empregos prometidos, mas não está ofertando terreno ou incentivos fiscais.
O que deve colaborar com que a iniciativa não passe de uma demonstração de boa vontade do prefeito para atrair investimentos. É que, apesar do discurso ‘neoliberal’ do empresário, não há almoço de graça com a Havan.
– Eu não tenho nenhum empréstimo do BNDES. Lamentavelmente, durante os últimos anos, os bons empreendedores não conseguiram os empréstimos que precisavam para se desenvolver. Não é pecado pegar dinheiro do BNDES, quero deixar bem claro, mas eu não pego dinheiro. O dinheiro da Havan é do próprio investimento da empresa, é o retorno do que nós fizemos e dos meus parceiros privados, de bancos como Santander, Itaú, Bradesco e Safra – disse Hang à imprensa, em fevereiro, em meio a críticas à esquerda e a governos do PT, após o anúncio de investimentos de quase R$ 2 bilhões no Rio Grande do Sul.
Só que não é verdade.
A Havan expandiu seus negócios mexendo com dinheiro público.
Conforme reportagem de Flávio Ilha para o Extra Classe, “o empresário realizou, entre abril de 2005 e outubro de 2014, 50 empréstimos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar a expansão de suas atividades comerciais no país, que resultaram na abertura de quase 100 lojas em 13 estados do Brasil. No total, os empréstimos, com prazos de pagamento entre 60 meses (cinco anos) e 48 meses (quatro anos), totalizaram R$ 20,6 milhões”.
Mal e mal botando a cabeça para fora da fumaceira da crise potencializada pelo pinote da Souza Cruz, Miki está na dele ao deixar – se é que deixou – a ideologia no porta-luvas. Cumpre com a obrigação de tentar aumentar a receita para pelo menos pagar os salários em dia. Por sua obra, está nas redes a campanha #CachoeirinhaQuerHavan #VemHavan. Infelizmente, como já observava o realista Balzac, “os negócios não assentam nos sentimentos”.
A REPORTAGEM
Para ler a reportagem completa sobre o jeito da Havan fazer negócios, clique aqui.
Assista ao vídeo postado pelo prefeito
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