DAS URNAS #9 | Gravataí amarga mais uma eleição sem representantes eleitos para a assembléia legislativa e câmara federal. Siga uma análise sobre erros e acertos eleitorais dos três candidatos mais votados
PATRÍCIA ALBA
Candidata a deputada estadual, Patrícia Alba (MDB) se colou pouco aos feitos de Marco Alba (MDB) – que existem, apesar desses tempos onde aos políticos resta apenas a presunção de culpa. Você pode achar essa análise incoerente em uma eleição onde, em todos os níveis, quem mais ganhou foram os candidatos ‘contra tudo o que está aí’. Mas a primeira-dama era a única que tinha realizações para mostrar.
Usando apenas três exemplos: há a experiência de governo com salários pagos em dia, quando os atrasos viraram rotina em municípios e no estado; a participação decisiva da prefeitura despejando dinheiro no hospital para viabilizar a ‘venda’ do Dom João Becker para a Santa Casa; e o projeto de construção das novas pontes do Parque dos Anjos, reivindicado há 40 anos, e que além da arquitetura aprovada já começou, com a duplicação da Centenário e a revitalização da Adolfo Inácio Barcelos.
O que se percebe é que os integrantes do governo Marco – a grande maioria apoiadora da candidatura de Patrícia – são tímidos ao defender suas obras. É mais fácil você ver no facebook a centena de CCs compartilhando alguma coisa da dupla GreNal, uma corrente ou um meme contra o PT, do que reportagens sobre coisas positivas do governo. Sete anos de governo também já parecem suficientes para cobrar mais ‘rua’ de secretários e assessores.
Impossível também não debitar parte do resultado na conta dos vereadores e suplentes do MDB – Clebes Mendes, Alex Tavares, Alan Vieira, Nadir Rocha, Paulinho da Farmácia, Alison Silva e Eduardo Muller – e de Áureo Tedesco (PSDB), eleito que depois renunciou para concorrer a vice-prefeito na eleição suplementar, todos apoiadores de Patrícia, e que na eleição de 2016 fizeram 16.532 votos, enquanto a candidata fez 12.713, em 2018, em Gravataí.
Observando apenas as estratégias eleitorais, sem fazer avaliações sobre o que fica na biografia e os reflexos futuros (Patrícia não é candidata a prefeita), não ter aberto voto a Jair Bolsonaro (PSL) para presidência da república, em respeito à candidatura do partido, Henrique Meirelles, pode ter custado votos que foram dados a candidatos ‘estrangeiros’ que colaram no bolsonarismo. Quando o fez, no segundo turno, a primeira-dama arrancou sorrisos de apoiadores, além de confissões de que o ‘mito’ já tinha sido a escolha no primeiro turno. Como foi o voto dela, também.
De positivo, mostrou-se correta estratégia de ganhar votos no interior a partir dos contatos políticos e o legado de Marco Alba como secretário de estado e chefe da Corsan. Mesmo nove anos depois do atual prefeito ter sido eleito o segundo deputado estadual mais votado do Rio Grande do Sul, com 67.199 votos feitos fora de Gravataí (onde recebeu 15.070), Patrícia fez 20.677 em urnas no interior.
Também se pode considerar expressiva a votação – tanto fora, quanto na aldeia – feita por uma candidata que tinha trabalho social em sua trajetória profissional como advogada e também como primeira-dama, mas era praticamente desconhecida do grande eleitorado até antes da campanha mais curta da história. Se Marco em 2002, ficou na primeira suplência e assumiu como deputado pela primeira vez, Patrícia ficou na segunda suplência e, em caso de vitória de José Ivo Sartori, ou assume o mandato com a ascensão de eleitos para o secretariado, ou certamente estará na lista dos secretários de estado do novo governo.
Ao fim, Patrícia saiu como uma cara nova da política de Gravataí. Candidata a prefeita ou vereadora só pode ser caso Marco renuncie, já que é sua esposa e há vedação da lei eleitoral. Uma jogada arriscada demais até para um destemido politicamente, e de comportamento, como Marco.
JONES MARTINS
O melhor dos mundos também foi o pior para Jones Martins (MDB) na tentativa de reeleição. Em apenas um ano e meio de mandato, foi o deputado federal que mais trouxe recursos para Gravataí em todos os tempos. Foram R$ 20 milhões em emendas e no aumento dos repasses para a saúde. Também conseguiu articular, com dinheiro na conta e pedra fundamental, o início das obras de um hospital do câncer, junto ao Grupo Hospital Conceição, que em três anos vai atender a toda região metropolitana.
Mas o preço que pagou pela influência no governo federal foi debitado nas urnas. Além de aparecer até no Jornal Nacional defendendo o impopular Michel Temer de denúncias de corrupção que levaram a dois pedidos de impeachment, votou a favor do congelamento de gastos por 20 anos, o que a oposição batizou de ‘PEC da morte’, e defendeu a reforma da previdência. Seu rosto foi parar em outdoors de toda região como um dos ‘vilões’ dos trabalhadores e do funcionalismo público.
Beneficiado pelo fundo partidário, como todos os colegas de congresso nacional, Jones também não conseguiu transformar o dinheiro em votos. Se a média do ‘custo do voto’ entre os federais foi de R$ 7 em 2014, seus 26.924 votos custaram R$ 37 cada nesta eleição, em que tinha próximo a R$ 1 milhão para fazer campanha.
Vale também para Jones a mesma análise feita sobre Patrícia em relação aos tímidos apoios do secretariado e vereadores. O ex-deputado ainda sofreu uma defecção pública entre os parlamentares: Nadir Rocha, o ‘camerlengo da sé vacante’, prefeito interino indicado pelo partido em 2011 e 2017, presidente da câmara por três vezes e vereador no quinto mandato, apoiou Márcio Biolchi – eleito, que fez 762 votos em Gravataí.
A falta de um sim definitivo do, como chamava na eleição, ‘padrinho’ Marco Alba, também impediu Jones, pelo menos até hoje o ‘ficha 1’, fazer uma campanha a deputado se apresentando como candidato a prefeito em 2020. As candidaturas de Jones e da primeira-dama Patrícia só se colaram realmente na reta final, quando até subiram juntos em caminhão de som pelos bairros e vilas.
Sobre um apoio de Jones a Bolsonaro (não manifesto no primeiro turno), a interpretação de que renderia votos não parece tão direta quanto para Patrícia e outros candidatos. Muitos poderiam considerar oportunismo, por Jones ter sido uma das vozes do governo Temer.
De positivo, o envolvimento que criou em sua página no facebook onde, apesar de ter postado muitos links patrocinados, tinha trabalho para mostrar e criou uma persona, um jeito de se comunicar com os eleitores, principalmente em vídeos onde apresentava a desenvoltura de experimentado político.
E, talvez para Jones o mais importante, nos bastidores da escolha da sucessão à prefeitura, que é sua obsessão, sai das urnas como o mais votado do partido em Gravataí e com tamanho para pelo menos reivindicar um sinal do prefeito de que é o ‘ficha 1’ para 2020.
DIMAS COSTA
A eleição do ‘contra tudo que está aí’ fez de Dimas, candidato a deputado estadual, o campeão de votos de Gravataí (18.013) – mais que as candidaturas ligadas ao governo, Patrícia (12.713) e Jones (15.061).
O vereador era oposição ao governo Marco Alba, ao governador José Ivo Sartori – em vídeo gravado na tribuna disse que não votaria no candidato que tem como vice José Cairoli, de seu PSD – e ao presidente Michel Temer.
Como muitos de seus eleitores têm o avatar no facebook identificado com o ‘mito’, dá para interpretar que, mesmo sem abrir apoio, pegou carona na onda bolsonarista de indignados com a política. Ainda que sem acenar publicamente a Fernando Haddad ou Ciro Gomes, manteve votos de centro esquerda – professores, inclusive – conquistados pela oposição a Marco, pela trajetória de uma década no PT e, em alguns momentos, próxima a Daniel Bordignon, com quem nesta eleição já concorreu rompido, mas de quem conseguiu herdar votos órfãos da oposição (a vereadora Rosane, esposa do ex-prefeito, desistiu de concorrer à assembléia legislativa no último dia).
Erro eleitoral momentâneo, mas que poderia ser trágico para sua biografia futura porque poderia perder eleitores de centro esquerda em uma candidatura a prefeito em 2020, Dimas não abriu apoio a Bolsonaro. Se o fizesse, possivelmente estaria eleito, numa Gravataí onde seis de cada 10 que foram as urnas deram seu confirma para o B17.
Ninguém aproveitou melhor a ‘rua’ (desde o primeiro dia de seu mandato de estréia, em 2013, o vereador está quinzenalmente em algum bairro com a tenda do ‘Mandato na Rua’ e, para surpresa geral, estava na praça do Centro na segunda-feira seguinte à eleição) e o contato com os eleitores pelas redes sociais. Um dos vereadores mais marcados em grupos de facebook em reivindicações de eleitores, Dimas fez da ligação direta, ele mesmo respondendo as mensagens e conferindo as denúncias, uma rede de apoios que lhe renderam votos em todas as urnas da cidade. Com uma persona já construída no facebook – ele próprio, sem assessores respondendo – teve o perfil com maior engajamento entre todos os candidatos, conforme as métricas da rede social.
Apoiado pelo controverso Cláudio Ávila (algoz do impeachment de Rita Sanco em 2011, vice de Bordignon em 2016 e hoje inimigo do ex-prefeito), Dimas conseguiu segurar o ímpeto do advogado por polêmicas. Pouco se ouviu falar de Ávila na campanha, apesar de atuar nos bastidores como um dos principais articuladores de uma candidatura tocada sem recursos do fundo partidário. Também acertou uma dobradinha fora da coligação, com Mano Changes (PV), que fez 3.523 votos em Gravataí e foi mestre de cerimônias em seu aniversário comemorado às vésperas do período eleitoral.
Pelo menos durante a eleição o dono do insípido, inodoro e incolor PSD, Dimas pode fazer campanha a deputado já se apresentando como candidato a prefeito em 2020, o que as eleições na aldeia mostram que funcionou pelo menos com Bordignon em 94, Sérgio Stasinski em 2002, Bordignon novamente em 2006 e Marco Alba em 2010.
Não dá para dizer nem que a derrota seja prejudicial a Dimas. Corria o risco de ser eleito e, com uma vitória de Sartori, obrigado pelo partido, sob a ameaça de cassação do mandato por infidelidade partidária, a aderir ao governo do mesmo MDB que enfrentará em 2020 na disputa pela prefeitura de Gravataí. Fora da assembleia, mas como o mais votado da cidade e com mais dois anos de mandato como vereador, Dimas pode continuar ‘contra tudo que está aí’.
O ‘monstro’ foi criado, como descreveu um experiente político da cidade, adversário de Dimas. Resta observar se o vereador não sofrerá desgaste por estar nem em cima, mas atrás do muro, fugindo de um posicionamento, num momento em que a eleição presidencial coloca praticamente todo mundo, até as famílias, em algum dos ‘lados’.
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