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OPINIÃO | Saída de médicos cubanos é desastre para Gravataí

Tuitada de Bolsonaro confirmando o rompimento com Cuba

É um desastre para o atendimento das comunidades mais pobres de Gravataí a saída de Cuba do Programa Mais Médicos, anunciada nesta quarta após o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) por em questão a preparação dos médicos cubanos e condicionar a permanência deles à validação do diploma e a contratações individuais.

É burrice ideológica do futuro governo, aliada à pressão do corporativismo de uma classe que não cansa de dar demonstrações de que pensa mais no bolso do que em salvar vidas.

Volto a isso, depois de apresentar os fatos – aqueles chatos que contrariam argumentos.

O Brasil tem cerca de 11 mil médicos cubanos. Gravataí já teve 30 e hoje restam 17. Entusiasta do programa, o então secretário da saúde Jones Martins (MDB) articulou a adesão do município entre os primeiros do país, ainda em 2013, na estréia do governo Marco Alba (MDB).

Os médicos, distribuídos em unidades de saúde principalmente de periferias, como as Águas Claras, para citar um exemplo, fazem pelo menos 5 mil atendimentos por mês, o que dá uma média de mais de 200 pacientes por dia. Calcula-se em 60 mil habitantes o espectro coberto pelo programa.

É que são médicos ligados à Estratégia de Saúde da Família, que cumprem expediente de 8h, atendendo por chegada, sem ficha ou consulta marcada e, quando há necessidade, visitam pacientes em casa.

Pesquisa de satisfação feita pela Ufrgs junto a usuários do SUS mostra que a nota dos cubanos é 9, numa escala de 0 a 10. Em Gravataí, são queridíssimos em suas comunidades, pelo trato humano com os pacientes e por passarem o dia acordados no posto.

Agora se prepare para mensurar a trapalhada em números: cada médicos cubano custa R$ 1,5 mil para a prefeitura. É um auxílio-moradia, muitas vezes pago diretamente em aluguel de residência para os profissionais. O restante, entre R$ 7 e 8 mil, é dividido entre o governo federal e a autocracia cubana, num convênio com a organização pan-americana da saúde (Opas).

Qualquer um que entenda o mínimo de saúde sabe que se Gravataí abrir amanhã um concurso para contratar médicos substitutos para trabalhar oito horas por dia, não aparece ninguém por salários abaixo de R$ 15 mil.

Infelizmente, o caminho tomado pela medicina brasileira não parece ser o da abnegação dos cubanos, que estão não apenas no Brasil, mas em outros países ainda mais pobres, como o Afeganistão e a Nigéria. No que os brasileiros estão em seu direito, de trabalhar pelo salário que acham justo. Mas, pragmaticamente falando, escorraçar os cubanos vai penalizar as prefeituras, já quebradas.

Se não houver diminuição nos atendimentos, será inevitável o aumento de gastos nos municípios, já que hoje os cubanos são a terceira opção no Mais Médicos. Só quando os brasileiros formados no país, os brasileiros formados fora e com diplomas validados e os estrangeiros com diplomas validados não preenchem as vagas é que se chamam os cubanos!

O diagnóstico óbvio é que Bolsonaro já está escutando aquele que deve ser seu ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta. O médico ortopedista tem ligação íntima com a saúde de privada, onde já foi diretor da Unimed. É daqueles que levanta o estetoscópio para defender a corporação e valorizar “os nossos” profissionais.

Torçamos que, no recuo presidencial de cada dia, Bolsonaro poste novo tuite revendo a posição.

Bobagens ideológicas à parte, mexer num programa que está funcionando com excelência, como o Mais Médicos, é uma facada no SUS que o futuro governo dá antes mesmo de assumir.

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