sobre o prazer de ler

Os escritores e vovô

Se olharmos no calendário, quase todos os dias do mês há uma data para comemorar algo. Algumas, em minha opinião, nem deveriam ser destacadas. A troco de quê se comemora o Dia da Identificação?  Ou o Dia do Pensamento Livre?.  Em julho, entre os dias Disso e Daquilo, dois deles me trouxeram sentimentos carinhosos. O Dia do Escritor e o Dia dos Avós. Não sou nem um nem outro, mas, graças a eles, desenvolvi um dos grandes prazeres da minha vida: a leitura.

Desde pequena fui estimulada a ler. Alfabetizada aos quatro anos, mais pelas circunstâncias do que por genialidade. Explico: minha mãe era professora em uma escola rural, no tempo em que as paredes da sala eram ocupadas por quadros negros, cada um deles destinado para uma das quatro primeiras etapas do ensino fundamental. Ela não tinha com quem me deixar em casa e lá ia eu estudar. Ficava num canto da sala com lápis, papel e uma boneca que deveriam fazer parte de brincadeiras individuais e silenciosas, pois estava em aula. Devo ter achado mais divertido imitar as crianças copiando letras. Acabei aprendendo a ler e escrever.

Com cinco anos fui morar com meus avós. Vovô era um homem rude em muitos aspectos. Tinha, no entanto, um grande bem querer pelo mundo das artes. Gostava de tocar violão ao final da tarde e declamar poemas gauchescos. À noite, antes de dormir, pedia que eu lesse uma página de meus livros de histórias infantis ou de aventura. Inverteu a lógica: geralmente os pais e avós leem para os filhos e netos dormirem. Assim nasceu meu carinho e admiração por escritores de quase todos os tipos de literatura.

No Dia dos Avós, o meu marido, que é vovô da Marina, uma esperta menina de quatro anos, foi à escolinha que ela frequenta para homenagem referente à data. Lá a professora da guria perguntou se ele lê bastante para ela, pois o vocabulário da pequena é amplo para sua idade. Em nossa casa a neta de Mário tem uma cesta para livros ao lado de uma cadeira de balanço de criança e, desde seu primeiro ano de vida, muitas historinhas ali são lidas para ela. A rotina dela é ir até a cesta, escolher um livro, sentar-se na cadeira e chamar a mim e ao vovô para que contemos as histórias dos livros. Depois ela nos conta a mesma história, com a sua versão.

Graças aos escritores, esses seres especiais que criam mundos através de seus escritos, eu tenho belas memórias de meu avô. Marina certamente terá as suas. 

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