Não dou os dias e horas porque os políticos de Gravataí não usam Telegram. Mas Marco Alba disse mais ou menos assim em reunião com vereadores de seu MDB:
– Vocês querem que eu sente em uma mesa e resolva a eleição?
Dias depois o prefeito recebeu, como antecipei no artigo Dr. Levi no MDB? Carlos Gomes vai na casa de Marco Alba, ‘bispos políticos’ do PRB, o partido que carrega no sobrenome ‘Igreja Universal do Reino de Deus’. Estacionaram no Oriçó o presidente estadual, deputado federal Carlos Gomes; o vereador Fábio Ávila, o secretário de Assistência Social Tanrac Saldanha e o presidente municipal e ungido da conversa, Levi Melo.
Pelo menos um dos presentes comentou que não se falou em uma filiação do Dr. Levi no MDB para ser o candidato do governo. Marco teria citado a mão de candidaturas que são especuladas no partido, deixando para o ex-deputado federal Jones Martins a ficha 1 pelo critério de antiguidade.
Horas depois, Marco e Levi foram flagrados conversando sozinhos em uma lanchonete, como revelou nesta terça o blogueiro Chico Pereira, respeitado como colunista social em Gravataí, no post 'Paparazzi flagra Marco Alba em reunião com Levi Melo em Cachoeirinha'.
Há leituras possíveis para o movimento de Marco. Arrisco inclusive projetar o tempo da decisão mais esperada entre as hostes governistas. Ou pelo menos os primeiros sinais.
Vamos lá.
Na entrevista em vídeo ao Seguinte:, Quem Marco Alba apoiará para Prefeitura em 2020?, o prefeito disse que o partido começaria a tratar de 2020 a partir de outubro. Não porque seja o prazo para que prefeituráveis tenham filiação e domicílio eleitoral definido. Como alertei no artigo Como ler Marco Alba; o card que até agora é ’a’ peça de 2020, a minirreforma eleitoral de 2015 mudou as regras. Eleitos podem trocar de partido, sem risco de cassação por infidelidade partidária, ao cumprir 3 anos e 3 meses de mandato. Os que não têm mandato, como Jones e Levi, também, conforme a alteração na Lei 9.504/97, que agora prevê:
“(…)
Art. 9. Para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva circunscrição pelo prazo de seis meses e estar com a filiação deferida pelo partido no mesmo prazo.
Assim, é possível especular que Marco pode antecipar para outubro uma filiação de Levi para ter tempo de acalmar Jones e outros pré-candidatos a prefeito do MDB, como os vereadores Clebes ‘Bolsonaro da Aldeia’ Mendes e Nadir ‘Camerlengo da Sé Vacante’ Rocha.
Melhor uma crise a um ano da eleição do que faltando seis meses. Empurrar Levi goela abaixo no limite da troca de partido pode fazer com que os vereadores fiquem no MDB, mas sintam-se traídos e cruzem os braços na campanha – o que, para muitos observadores, de certa forma aconteceu na última eleição, quando a primeira-dama Patrícia Alba não fez em Gravataí o número de votos que os emedebistas somaram na eleição para a Câmara em 2016.
Levi poderia participar da inauguração das pontes do Parque dos Anjos, que Marco programa para o aniversário oficial de Gravataí, em 23 de outubro. Com o governo indo bem, e há mais obras para inaugurar, como Emeis, a UPA da Morada do Vale e o Centro de Educação Especial, os políticos da base ficariam tentados a embarcar em uma aventura na nau da oposição?
Melhor um selfie na obra, não?
Do lado do PRB, a política mais confortável é a redução de danos. Os evangélicos sabem que perderam a confiança de Levi quando ele caiu não no conto do vigário, mas na liturgia dos pastores, ao ser preterido como candidato a deputado estadual em 2018 em nome dos chefões da Iurd gaúcha, Sérgio Peres e Carlos Gomes.
Em outras palavras: Levi não deve nada ao PRB, pelo contrário, é ele a emprestar prestígio ao partido em Gravataí para além dos cultos.
Dá até para imaginar Carlos Gomes no carro, pegando a Freeway no sentido Gravataí-Porto Alegre e comentando com um obreiro:
– Olha, melhor deixar o Levi se filiar ao MDB e indicarmos o vice do que ficar sem um ou outro!
O vice seria Tanrac, com quem Marco sente uma dívida de gratidão. Foi seu companheiro de chapa em 2016, na eleição perdida para Daniel Bordignon (PDT), e depois anulada pelo TSE, e, sem estresse, abriu mão de repetir a dobradinha na eleição suplementar de 2017 para que o vereador Áureo Tedesco, então no PSDB e hoje no MDB, fosse o vice, para captar votos na região das Moradas do Vale, onde o empresário tem uma tradicional agropecuária.
Para completar, Fábio teria sido confirmado como candidato da Universal a vereador, fechando as portas dos templos para Tanrac.
Para aguçar o Netflix da política da aldeia, uma semana antes teve spoiler do próprio Dr. Levi, na Festa do Divino, insinuando para mais de uma pessoa não acreditar ser Jones o candidato a prefeito de Marco Alba.
Na entrevista Dr. Levi é candidato a prefeito em 2020; e espera por Marco Alba e Bordignon, dada em março ao Seguinte:, Levi declarou sobre Jones que "infelizmente para ele, as últimas eleições mostraram que ele não tem estofo para ser o candidato do governo".
Aguardemos.
A retomada da parceria partidária entre Marco e Levi (o médico já apoiou a reeleição do prefeito na eleição suplementar) logo pode ter seus sinais. Régis Fonseca, procurador-geral de Glorinha, suplente de vereador pelo PSD e o número 1 de Levi, até então cotado para vice de Dimas Costa, como tratei nos artigos Partido de Dimas parece o de Bolsonaro e O dia em que Régis não foi o vice de Dimas, fez post no Facebook anunciando que seguirá o médico da Paragem Verdes Campos até onde for.
Os fofoqueiros da aldeia já prevêem Régis na Secretaria da Saúde.
Mas também pode ser tudo teoria da conspiração e Marco e Levi, como bons amigos, falaram sobre o Colorado ou a Maçonaria, lanchando em Cachoeirinha numa noite agradável de domingo.
Vai, ao fim, não há mais coisas no céu e na terra, Horácio, do que sonha a tua filosofia!
