3º NEURÔNIO

Os vilões do clima ganharam mais uma vez

“Decisões da COP 28 não estão à altura da urgência climática”. Recomendamos o artigo da jornalista Cristina Serra, publicado pelo ICL Notícias


O texto da Conferência do Clima, em Dubai, a COP 28 foi mais um resultado frustrante diante da urgência climática e da ameaça existencial diante de nós.

O resultado desta COP não está à altura dos desafios que temos pela frente. Nem o fato de estarmos vivendo o ano mais quente da História foi capaz de levar a COP a um compromisso claro e objetivo de eliminação gradual da produção e consumo de combustíveis fósseis, com metas, prazos e responsabilidades definidas.

Não é uma surpresa numa cúpula colonizada por lobistas da indústria petrolífera e presidida pelo principal executivo da empresa de petróleo do país anfitrião. A ausência das autoridades máximas dos dois maiores poluidores do planeta – China e Estados Unidos – também foi um sinal de que a COP seria mais um evento do tipo “a gente faz de conta que está fazendo alguma coisa para salvar o planeta, mas vamos deixar tudo como está”.

O investimento em fontes de energia renovável, o combate ao desmatamento, a restauração de florestas e a proteção da biodiversidade são fundamentais, mas é quase como enxugar gelo se os países não forem capazes de assumir um compromisso firme com a eliminação progressiva do uso de combustíveis fósseis, principal fator responsável pelo aquecimento global. Dois terços das emissões mundiais de carbono têm origem no uso de petróleo, carvão e gás.

E o que faz o Brasil, bem no centro de tantos conflitos de interesse? Anuncia um megaleilão de blocos de… petróleo! Já não tinha sido um bom sinal anunciar que irá integrar a OPEP +, grupo de países observadores junto à OPEP, cartel que controla os preços mundiais do petróleo. Agora, com o chamado “leilão do fim do mundo”, segue o “business as usual”.

A Agência Nacional de Petróleo (ANP) faz nesta semana a maior oferta de blocos de exploração de petróleo e gás da nossa história. São 610 áreas ofertadas a investidores, muitas delas próximas e até em sobreposição a territórios indígenas e quilombolas, e unidades de conservação como Fernando de Noronha, Atol das Rocas e o arquipélago de Abrolhos.

Como tudo sempre pode piorar, 21 blocos ficam na bacia do Amazonas. São áreas em terra e não na chamada Margem Equatorial, que não foi licenciada pelo Ibama e é alvo de discussão no governo Lula, com setores pressionando contra e a favor da liberação dessas áreas para exploração.

Você pensa que acabou? Pois um dos blocos fica a apenas dois quilômetros de distância das minas de sal-gema da Braskem, em Alagoas, onde ocorre o maior desastre socioambiental em solo urbano do mundo. O governo precisa parar de emitir sinais trocados. A direção precisa ser clara e nortear a construção de alianças nos organismos multilaterais.

No livro “O Decênio Decisivo – propostas para uma política de sobrevivência”, que recomendo com entusiasmo, o professor Luiz Marques analisa a urgência da situação climática e quais os caminhos para conseguirmos deter o colapso ambiental. Um bom começo seria uma governança global mais ousada, “na qual todos terão de ceder muito para não perder ainda mais”.

Em linguagem acessível para que todos entendam a gravidade do momento, Marques traz um resumo de tudo o que a ciência produziu de conhecimento sobre as mudanças climáticas e os impactos do aquecimento global sobre o planeta e as nossas vidas. Como o título do livro diz, o autor também apresenta propostas para que as sociedades se contraponham à marcha predatória do capitalismo enquanto nos resta algum tempo para agir.

Encerro este texto com uma passagem do livro, em que Marques traz uma citação do filósofo francês Edgar Morin, em diálogo com a fantástica primatóloga britânica Jane Goodall, que passou boa parte da vida estudando os chimpanzés na Tanzânia. Na conversa sobre momentos críticos enfrentados pelas sociedades e como elas têm capacidade de reagir, Morin afirma: “Coloco esperança no improvável.”

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