3º Neurônio | humor

Parasitas

Eu parasito, tu parasitas, ele parasita, nós parasitamos, vós parasitais, eles parasitam.

Eu parasito este organismo já há muito desorganismizado por maus hábitos, bons vícios e costumes por demais acostumados comigo mesmo. Parasitei-o desde que este corpanzil era um corpinho, e se ele tivesse chegado a corpitcho também teria parasitado todo ele, com prazeres inomináveis e manias indeclaráveis. Em troca, meu hospedeiro topou uma osmose que incluiu RG e CPF, cabelos e calvície ao vento, roupas P/M/G/L/XL, voz roufenha, olhar entre o arguto e o alerta e entre o atento e o acurado. Parasitado por mim, esse organismo tolerou simbiose cultural e ideológica, se alimentando das minhas incontáveis ideias e zero ideais enquanto  me banqueteio com suas estranhas entranhas. De dia me eleva a nuca, de noite me areja a touca, e assim sem sobrevida vamos vivendo de amor.

Tu, empresa e empresário de qualquer setor, parasitas o empregado, o funcionário, o cliente, o consumidor, o usuário, o professor, o serviçal, o fiel no templo, o atleta no campo e nas quadras e qualquer um que atue em qualquer explorador mercado de trabalho. Tu, besta do capitalismo, hiena do neoliberalismo, no teu parasitismo sem fim aviltas a perna e o braço e a mão de obra e o dedo mindinho também. Parasitando qualquer trabalhador, sonegas impostos e direitos e benefícios do hospedeiro, enquanto sufocas todo e qualquer conceito de mutualismo. Tu, parasita com ventosas sociais e tentáculos antissociais, explode forças e implode bens, trucidas a esperança dos ovos de ouro. E assim vamos vivendo de dor. 

Nós parasitamos o planeta, que nos dá tudo e nada recebe. Sete bilhões e milhões de bocarras abocanhando recursos finitos com infinita volúpia consumidora. Nós, parasitas terrestre, engolimos sem reserva as reservas vegetais, animais e minerais, esburacamos o ozônio e nos fossilizamos em gasolina e plástico. Parasitado, o hospedeiro reage com inclemências climáticas, os parasitas reclamam do tempo inclemente, logo nós, que nunca tivemos clemência com a natureza. Parasitas desgastantes e hospedeiro desgastado, ambos no começo do início do fim de um comensalismo agonizante, devoramos a ele e ele deglute, e assim vamos vivendo de horror.

Vós parasitais a sociedade, fazendo dinheiro produzir mais dinheiro. Vós, grupelho de uns milhares que tudo têm e detêm tudo, sugais as forças produtivas e criativas do coletivo global. Vós, vorazes contumazes e rapinas repentinas, insaciados e insaciáveis, chupais sangue como se milkshake de frutas vermelhas fosse. Vós, gananciosos nascidos em berços de carvalho, sanguessugas biliardários, com nada nem com ninguém se importais, explorais todas possibilidades e probabilidades e oportunistas sacrificais as oportunidades alheias. Vós, que com pregões das bolsas crucificais a humanidade inteira, e acumulais fortunas que enriquecem sem outro fim que o lucrativo. Vós que se embuchais de títulos ao portador e ações preferenciais e que gozais com as subcotações da vida ordinária. Vós, se cuidais: o hospedeiro tem fome milenar, mais de sete bilhões de bocas, e está no limiar da paciência com vós. E assim vamos vivendo de rancor.

Eles, entronizados nos três poderes, parasitam o Brasil, 26 estados  um distrito federal e 5.570 municípios. Eles, presidentes e governadores, senadores e deputados, prefeitos e vereadores, com seus vices e seus subs e suplentes, se locupletam na danação geral da nação. Parasitas sugadores de cidadãos e eleitores, corporativistas da pior espécie, eternos deitatistas do berço esplêndido, parasitam os cofres públicos e o bolso privado. E, num comensalismo onde só eles são comensais, nada deixam para a sobrevivência do hospedeiro de 8 milhões de km2. E assim vamos vivendo de democrático torpor.

O único Parasita de se bater palmas é coreano, levou os prêmios do Oscar e do Globo de Ouro. Extraordinário, arrasou o parasita-mor – o cinema americano -, sugador dos quintais cinematográficos do mundo todo. E assim vamos vivendo com genial diretor.

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