Até o fim de 2023 Gravataí estará aportando um milhão de reais por mês para o transporte coletivo, caso não receba socorro do governo federal, ou aumente as tarifas municipais.
As passagens estão congeladas desde o governo Marco Alba, em 2019, e foram mantidas em R$ 3,75 ao combustível de mais de R$ 15 milhões desde 2021. Para efeitos de comparação, sem o aporte a tarifa técnica seria hoje de R$ 7,92.
A Granpal, que é a associação das prefeituras da Grande Porto Alegre, se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em março e pediu recursos para bancar as gratuidades acima de 65 anos.
O governo Jair Bolsonaro liberou subsídio, mas num valor considerado três vezes menor que o necessário. Gravataí recebeu R$ 3,5 milhões.
Hoje as isenções correspondem a 7 a cada 10 reais que a Prefeitura repassa para a Sogil. Os 30% restantes ajudam a recompor o desequilíbrio contratual, já que o volume de passageiros estagnou em 75% do que representava em 2018; ou seja, não dá nem para culpar a pandemia.
Deixar a concessionária Sogil ‘quebrar’ é irresponsabilidade inimaginável, já que há contrato assinado, a empresa poderia buscar indenizações, o sistema notoriamente dividido entre consórcios não apresenta interessados e, legalmente, só teremos licitação para transporte coletivo na região metropolitana a partir de 2026.
Em resumo: é um ‘pauta-bomba’ para desarmar, a base de subsídios, ou jogar no colo do pobre um aumento estratosférico nas tarifas.
Sim, porque o sistema é sustentado não por aquelas pessoas que pegam ônibus eventualmente, e podem cotejar o custo com uma corrida de uber, e sim pelo trabalhador que precisa do transporte rotineiramente; custo que divide com seu empregador, isso quando tem carteira assinada.
A tragicômica comparação é que, em um ônibus, se tem um estudante, um juiz ou o dono da Sogil (que tem isenção de idoso) e um gari, quem paga a tarifa dos três é o último.
Para piorar, em junho tem reajuste nos salários dos motoristas e cobradores que restaram, além da contratual renovação da frota, projetada em mais de uma dezena de novos veículos com ar condicionado.
A projeção da Secretaria de Mobilidade de Gravataí é de que o subsídio chegue a R$ 900 mil por mês até o fim do primeiro semestre. Até o fim do ano, talvez R$ 1 milhão mensal.
Ao fim, até acharmos uma solução para o transporte coletivo enfrentar a uberização, potencializado pela interminável crise, é um debate que não acabou no gostei-ou-não-gostei de ‘dar dinheiro para Sogil’.
Não é diferente o caso do transporte intermunicipal, para o qual os governos Eduardo Leite-Ranolfo Jr. (PSDB) também precisaram subsidiar.
Se Lula não ajudar, não vejo saída que não Zaffa aumentar as tarifas. Com uma perda de quase R$ 50 milhões em receitas, parte da pandemia, outra do assalto eleitoral de Bolsonaro com a redução da gasolina, Gravataí não está tão bem de contas quanto já esteve.
Resta em curso um corte linear de 20% em contratos. Talvez tenhamos chegado ao limite do congelamento. Mesmo com todo dinheiro que facilmente quem não entende nada do que está falando pode dizer que foi “dado para a Sogil”.
Costumo alerta que é um debate que precisa que ‘tirem as crianças da sala’. Os caça-cliques já podem começar a babar nas redes sociais.