"Um crime contra Gravataí". Assim o prefeito Marco Alba (MDB) descreveu, em audiência na Câmara, a desistência do Mercado Livre investir, em cinco anos, cerca de meio bilhão num centro logístico na RS-118.
– É uma marca negativa na história de Gravataí e do Rio Grande do Sul, que não vou deixar ninguém esquecer – disse, projetando a perda de 500 empregos diretos, e 1500 indiretos.
A gigante do e-commerce era uma das esperanças do prefeito para equilibrar o desemprego que já acontece com o ‘contágio econômico’ da pandemia, e tratei em O café frio que custou 2 mil empregos para Gravataí.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) brasileiros mostram que, entre janeiro e maio deste ano Gravataí teve 1515 vagas de trabalho perdidas.
– 2 mil empregos perdido no pior momento possível do mundo! Qualquer explicação é justificar um erro trágico, principalmente para Gravataí – reforçou Marco Alba, refirmando lutar pelo interesse do município que governa, acima de disputas políticas.
A tragédia do desemprego piora como extinção de 850 vagas na Pirelli, de 2019 até 2021, quando conclui o Plano de Demissões Incentivadas (PDI), além da ameaça de perder a Prometeon, como alertei nesta semana em A esperança para salvar mais de 2 mil empregos de Pirelli e Prometeon; e o temor do pior.
Como fez na audiência pública remota na Assembleia Legislativa, e tratei em Os ’negócios sigilosos’ do RS e o tchau, Mercado Livre, Marco Alba criticou a falta de transparência nas negociações. Na troca de notas oficiais, vídeos e audiência públicas, restou que o Mercado Livre pediu um regime tributário diferenciado, o Governo do Estado alega ter concedido, mas houve desacerto em outros pontos “que não podem ser revelados por questões de mercado”, conforme Eduardo Leite.
– O governador não sabia o que estava acontecendo. Levantou tarde da cadeira – resumiu, da mesma forma que reportei em Perder Mercado Livre é pior que Ford, diz Marco Alba a Eduardo Leite; o ’delivery’, dando também verniz político à polêmica ao citar nominalmente como um dos vilões o secretário-adjunto da Fazenda gaúcha, Ricardo Neves, “que exerceu funções na Receita Federal, no governo Tarso Genro (PT), e na Sefaz no governo Olívio Dutra (PT)”.
– Em Gravataí demos um tratamento ágil, para um negócio dos novos tempos, e em 60 dias o Mercado Livre tinha endereço, alvará e começou contratações, até ser impedida de se instalar por uma ação criminosa do governo.
Além do delivery de 2022, eleição na qual o prefeito de Gravataí é potencial candidato como oposição ao governador (ou o candidato do governo), como tratei em Marco Alba critica Eduardo Leite por perda do Mercado Livre; ’parole, parole, parole’, também identifiquei na audiência na Câmara de Gravataí um delivery da campanha na eleição municipal de 2020.
– Perder o Mercado Livre não foi culpa só governador. O senhor também demorou a levantar a voz. Faltou articulação – cobrou Dimas Costa (PSD), no espaço aberto para manifestação dos vereadores, recomendando ao prefeito “manter a relação institucional com o governador para não atrapalhar outros negócios bons para Gravataí”.
– O senhor tem mais afinidade com o governador, participa de audiências e aparece em fotos com ele. Espero que essa proximidade ajude Gravataí – respondeu o prefeito.
– O governador ainda está tentando manter o Mercado Livre e enfrentar dificuldade como as que o prefeito enfrentou em Gravataí nos primeiros anos – disse o presidente da Câmara, Neri Facin, que é do PSDB de Leite, ao encerrar a audiência.
Ao fim, o MDB, e também o PSD, estão no Governo do Estado, mas em Gravataí Dimas é candidato a prefeito em oposição a Luiz Zaffalon, o candidato de Marco Alba. Na comparação entre projetos e formas de governar, Eduardo Leite pode ser o ‘comunista na sala’ na campanha da aldeia.
Siga vídeo, com análise e falas de Marco Alba e Eduardo Leite
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