“Mercado financeiro se deixou levar pela ideologia contra Lula”. Recomendamos o artigo da jornalista Míriam Leitão, publicado em sua coluna em O Globo
Uma pesquisa da Genial/Quaest ouviu 88 executivos do mercado financeiro, e apenas 2% disseram que a política econômica está certa, 98% acham que está errada.
Na expectativa dos próximos 12 meses, 6% dos executivos apostam que vai melhorar. A mesma pergunta feita para a opinião pública em geral indica que 62% acreditam que vai melhorar.
Neste mesmo público, 20% estão pessimistas, contra 78% do mercado financeiro que dizem que vai piorar.
A pesquisa inédita mostra de forma evidente que os executivos do mercado financeiro se deixaram levar pela ideologia.
O bolsonarismo contaminou sua visão do que está acontecendo no país, quando a visão objetiva é a mais eficiente para quem toma decisões em relação ao dinheiro dos outros.
Se pensassem de forma objetiva veriam bons e maus sinais. As ameaças do presidente Lula ao Banco Central foram um dado negativo, da mesma forma que as indicações de mudanças na lei das estatais e na política de paridade internacional de preços dos combustíveis.
Mas o ministro Fernando Haddad está pavimentando com medidas concretas uma redução do déficit público. Uma delas foi reonerar a gasolina que o governo anterior desonerara por motivos absolutamente eleitoreiros.
A administração Bolsonaro furou o teto de gastos várias vezes, pedalou precatórios, aprovou medidas demagógicas, derrubou quatro presidentes da Petrobras e criou o maior risco jurídico recente com as ameaças à democracia. Era um risco fiscal e um risco institucional.
Dos entrevistados, 73% acham que há risco de recessão este ano e só 20% acreditam que haverá aumento do investimento externo. Na realidade, o país está de fato desacelerando, mas a recessão ainda não é uma probabilidade, e o investimento pode subir dependendo da aprovação, por exemplo, do novo arcabouço fiscal.
Apenas 1% acha a relação com o Banco Central positiva, e 90% acham negativa. De fato, o BC foi alvo de bombardeio do presidente e outras lideranças petistas, mas a relação com a equipe econômica vai bem.
Apenas 16% acham alta a possibilidade de o Banco Central antecipar o corte dos juros e 45% apostam em baixa. Na verdade, há uma possibilidade real de antecipação dos cortes. Uma pergunta sobre se o BC pode manter a taxa de juros em 13,75% até o fim do ano, 72% acham que essa é a indicação da instituição.
A política fiscal do governo vai gerar sustentabilidade da dívida pública? Dos que responderam, 90% disseram que não. Ao mesmo tempo, 61% acham alta a chance de o governo aprovar a nova âncora fiscal, 31% acham que é regular e apenas 8% consideram baixa essa possibilidade.
Na reforma tributária, 32% acham alta a possibilidade de aprovação, 41% regular, mas 98% concordam com a unificação dos impostos.
O mau humor demonstrado na pesquisa com os executivos do mercado financeiro é tão alto que faz duvidar da capacidade de análise dos que avaliam a conjuntura para tomar as decisões sobre o dinheiro de terceiros que administram.