Lá no começo dos anos 2000 ele era apenas uma criança que, incentivada pelo pai, Luiz, descobria o gosto pela bola de futebol (sozinho, sem ter com quem jogar, jogava contra a parede de casa) e a habilidade para realizar embaixadinhas. Tanta habilidade que no dia das mães de 2003 Emerson dos Santos Medeiros foi parar no Domingão do Faustão, da Rede Globo, levado pela sua mãe Marisa, para participar do quadro “Se vira nos 30”.
Como recompensa pelos 30 segundos sem deixar a bola cair e umas três dezenas de sucessivas embaixadinhas com a perna esquerda, além de beijos de duas das bailarinas, autógrafo do jogador Robinho e de andar pelo palco carregado pela mão pelo próprio Fausto Silva, ganhou os primeiros R$ 10 mil que serviram para começar a mudança na vida da família.
Abaixo tem o vídeo da apresentação do gravataiense no dominical da vênus platinada!
Rei das embaixadinhas
Além do pai e da mãe, o hoje adulto Emerson Medeiros, de 21 anos completados em 1º de agosto passado, mora também com as irmãs Maiara e Franciane. A família – de classe média – mora em uma casa simples na rua Espanha, vila Central, cuja reforma foi possível com os prêmios em dinheiro que o garoto ganhou. Grana que permitiu até a compra de um carro. Popular. Usado. Mas é um carro.
Emerson Medeiros, o “rei das embaixadinhas” como ele ainda se auto intitula, não cresceu muito em estatura física. Tem 1,55 metro, 56 quilos e uma cabeleira estilo… estilo… Deixa assim! Mas agora ele não faz apenas embaixadinhas. Partiu para algo mais radical, que é a prática do freestyle.
Trata-se da arte de realizar malabarismos com uma bola, em pé ou deitado, com os pés, o tronco ou a cabeça, sem deixá-la cair. Ele, hoje, tem sido chamado para algumas apresentações, cobra cachês modestos, na faixa dos R$ 300,00, e quando viaja para outra cidade pede que as despesas sejam bancadas por quem o contratou.
Falta de apoio
E tanto Emerson quanto seu pai-empresário-tutor-incentivador-controlador Luiz reclamam da falta de apoio, do poder público e da iniciativa privada, para que o atleta pudesse brilhar mais e participar de campeonatos da modalidade, em âmbito nacional e no estrangeiro.
Para ser um bom atleta de freestyle, modalidade que descobriu há cerca de cinco anos e que pratica de forma profissional desde 2014, Emerson conta que treina pelo menos duas horas todos os dias. E a bola, especial, é importada. O tênis, também especial, igualmente veio da terra do “tio Sam”. Custou cerca de R$ 500,00.
— Até que dá para conseguir dinheiro, mas seria melhor se houvesse um patrocínio da Prefeitura, por exemplo, e das empresas da cidade — pondera, com cautela, o atleta.
O pai, Luiz, é mais contundente.
— Tá faltando ‘força’ para o guri deslanchar e participar destes campeonatos. É um atleta que representa Gravataí e região, tinha que ter apoio — reclama o vendedor de algodão doce que, em época de “vacas magras”, oferece de porta e porta artigos de cama, mesa e banho.
: Emerson com a família: as irmãs Fanciane e Maiara e os pais, Marisa e Luiz
: Matéria emoldurada. Emerson tinha cinco anos e já fazia embaixadinhas
: Com os pais e algumas das cerca de 50 bolas que o atleta guarda em casa
Guinness book
O já nem tão garoto Emerson alimenta outro sonho, além de viajar o país e disputar certames internacionais de freestyle. Quer ver registrado no Guinnes Book seu recorde – que garante ser mundial – de 50 mil embaixadinhas que fez em pouco mais de oito horas, tudo monitorado pelo pai que registrou em uma folha o feito do filho.
Para chegar ao Guinness, porém, necessita de uma câmara capaz de filmar toda façanha, sem cortes, que ele nem sabe quanto custa. Mais: Vai ter que repetir as 50 mil embaixadinhas já que do feito anterior só tem como prova as anotações e a palavra do pai.
E Luiz mais uma vez intervém.
— Mas ele não vai querer fazer só as 50 mil embaixadinhas. Depois que chega nessa marca vai querer sempre fazer mais. E duvido, não conheço ninguém no mundo que tenha atingido essa marca — completa o ex-vendedor de churrasquinho.
Confira o vídeo que o Seguinte: produziu com o Emerson das embaixadinhas.
Personagem infantil
Guardando umas cerca de 50 bolas em casa, Emerson, que já foi garoto-propaganda de uma empresa em comercial para televisão, já fez embaixadinhas vestido como Batmann, se diz disposto a realizar apresentações em eventos, feiras e até em festas. De aniversário infantil, por exemplo.
— Se a pessoa quiser e for uma festa temática, posso ir caracterizado com um super-herói, sem problemas! — diz, com fala mansa.
Homem da bicicleta
O pai de Emerson Medeiros, o vendedor Luiz, ficou bastante conhecido em Gravataí por utilizar em suas andanças uma bicicleta toda enfeitada com os mais variados adereços. No lugar do guidom, em certa época, tinha o volante de um carro. E para se proteger da chuva, inventou e instalou uma capota.
— Aquela bicicleta ainda está guardada, mas agora estou ajeitando outra, com dois metros de altura, que vai ter capota também. Até para subir nessa é mais difícil — fala, com peito estufado.
Reclamando que a crise “está difícil” porque fez suas vendas se reduzirem bastante, Luiz aposta na carreira do filho e afirma que não desiste de suas atividades como vendedor de rua há mais de 20 anos.
— As coisas estão mais devagar, mas a gente vai levando. Uma hora melhora — filosofa.
Abaixo, outras fotos do álbum pessoal de Emerson.
O que é freestyle
1
Futebol freestyle é uma variante do futebol em que um jogador realiza manobras (tricks) com uma bola ou a equilibra em várias as partes do corpo.
2
Baseia-se na arte de compor sequências de manobras, tentando unir controle, criatividade e dificuldade utilizando o corpo todo em interação com a bola.
3
É um esporte que vem se desenvolvendo rapidamente e está ganhando seu espaço, se consolidando como atividade esportiva de alto nível e ganhando novos praticantes a cada dia.
4
Também chamado de street style (estilo livre), é um modo de mostrar habilidades de várias maneiras.
5
Teve influências de Maradona e ganhou importância a partir de 2005 (aproximadamente), talvez pelos vídeos feitos pelos jogadores Ronaldinho Gaúcho e Cristiano Ronaldo, que tiveram grande repercussão na mídia.
6
No entanto o praticante do freestyle não precisa ser um bom jogador de futebol, por ser considerado por alguns praticantes um esporte diferente no qual o que conta mais é a concentração, equilíbrio e perseverança.
7
Os freestylers, como são conhecidos, são pessoas com faixa etária de 13 a 35 anos, e um dos melhores freestylers do mundo é o francês Seán Garnier.
Confira, abaixo, um vídeo com Garnier, de 2014, que tem mais de 3,3 milhões de visualizações no YouTube.