Nunca fui um expert em política, muito menos um cara afeito às análises que a movimentação desse campo enseja, o que é muito bem feito, aqui no Seguinte: pelo colega e amigo Rafael Martinelli. Hoje, entretanto, ouso escrever algumas mal-traçadas linhas sobre o que aconteceu neste domingo, com a volta de Luiz Inácio Lula da Silva para um inédito terceiro mandato como presidente dos brasileiros, no pleito mais aguerrido e com o resultado mais apertado, a menor diferença de votos entre eleito e derrotado, desde a redemocratização do país.
Eu disse, na noite do domingo, quando apuração estava nos 30/40 por cento, que o agora presidente em reta final de mandato, Jair Bolsonaro, seria reeleito. O Martinelli retrucou, garantindo-me que o quadro se alteraria lá pelos 70 por cento de urnas apuradas. Não foi o que aconteceu. Foi bem mais adiante. Mais tarde, brinquei com ele dizendo que Lula havia vencido a eleição “com o c.. na mão”, assim como estávamos todos nós que torcíamos pela sua vitória.
Foi isso que Lula fez com a gente, ontem. Nos deixou, literalmente, “com o c.. na mão”, como diziam os mais antigos depois de superarem uma situação complicada.
Foi uma eleição para testar a saúde dos cardíacos!
Não gosto de discutir política. Meu pai me ensinou que não se deve fazê-lo, que é para não perder amigos. Mas não deixo de assumir posição e a manifesto com os mais próximos.
Eu torcia pela vitória do Lula, sim. Assim como torci para o Edgar Pretto ganhar o governo do Rio Grande do Sul, no primeiro turno, e votei no Eduardo Leite, no segundo turno.
“Ainnnn… Tu não quer o bem do Brasil, nem da tua família”, cheguei a ouvir de algumas pessoas. Quero sim. Amo meu país, amo minha família. Por isso não votei no Bolsonaro e por isso não votei no Onyx.
São duas pessoas destemperadas, que se completam pelas m. que falam, pela violência que incentivam, pela negação à saúde que ambos praticam, pela perseguição às minorias em nome da família (quem é Bolsonaro para falar em família? Dá um Google aí!). São duas pessoas que condenam a corrupção e a roubalheira, mas é só da boca para fora, porque sob as cobertas do poder… Se saberá muita coisa com a quebra do sigilo dos 100 anos, além do que já se conhece.
“Ainnn, mas o Lula é ladrão, um descondenado”. Jura? Até hoje não vi prova cabal, definitiva, indiscutível, de que Lula tenha roubado. Se seus assessores o fizeram, foram denunciados, julgados, devolveram dinheiro. Lula foi julgado atendendo-se a um quadro de interesses políticos que todos sabem no que resultou, em 2018. Por isso as sentenças que lhe impuseram foram anuladas. Ponto. Sob a ótica legal, é inocente. Ponto de novo.
Votei em Lula com prazer. E votaria outra vez.
Sabem por que?
Porque tenho 64 anos. Me tornei gente em meio a um regime militar. E comecei minha vida profissional vendo colegas, de rádio e jornal, sendo levado aos quartéis para darem explicações sobre o que haviam dito ou escrito. Porque nos anos 70 a tal polícia do Exército desmanchava, com cacetadas, grupos de pessoas que comemoravam, nas calçadas, reencontros regados a risadas, entre amigos.
Votei e votaria porque, nesta minha longa e cansada vida, foi só no primeiro mandato do presidente Lula, em que pese ser eu um trabalhador – de sol a sol – desde os meus 15 anos, que eu consegui comprar minha casa própria. Porque foi no governo do Lula que consegui comprar meu primeiro caro zero. Porque os pobres, ou pessoas da classe média mais para baixo, como eu, passaram a ter acesso a bens antes nunca vistos neste país.
Foi assim com meu filho, com minha filha, com muitos amigos, vizinhos e colegas de profissão. Passamos a comer mais e melhor, passamos a ter mais e melhores opções de lazer, vestir melhor, passamos a viajar mais (até de avião, imagina!), começamos a ter acesso à educação universitária (alguém vai negar?), a saúde pública se tornou muito mais ampla…
Enfim!
Não preciso continuar elencando razões para deixar de votar em um ou para eleger outro.
A eleição já passou, Lula está eleito. Resta-nos torcer para que ele possa fazer, pelos brasileiros, pelo menos igual, ou parecido, ao que fez quando governou o Brasil pela primeira vez.
Foi uma vitória apertada esta, de ontem.
Daquelas de deixar a gente “com o c.. na mão!”