RAFAEL MARTINELLI

‘Prefeito da GM’, OP, 30% para professores, UPA na Caveira, ‘Corsan municipal’, PAC do Lula para cheias e todas ruas urbanas asfaltadas: o que Bordignon prometeu na sabatina do Sindilojas

Daniel Bordignon, candidato a prefeito de Gravataí pela coligação “O povo feliz de novo” (PT /PC do B/ PV / PSB / PSOL / REDE), participou na noite de segunda-feira do Fala Candidato, promovido pelo Sindilojas, Observatório Social e Giro de Gravataí. Usando a memória de seu legado como prefeito por dois mandatos, entre 1997 e 2004, disse querer voltar à Prefeitura para “fazer mais” com recursos que não teve da GM, que defendeu ter tido participação na negociação para escolha por Gravataí para instalar sua fábrica mais produtiva no mundo.

Entre as principais propostas apresentou a volta do Orçamento Participativo (OP); prometeu até o fim do mandato asfaltar todas as ruas da zona urbana; corrigir a defasagem salarial dos professores e servidores e buscar junto ao governo federal por uma terceira UPA, na região da Caveira, além da agilização da liberação de R$ 450 milhões previstos no PAC para prevenção de cheias e secas.

Também disse estudar a contestação do contrato da Prefeitura com a Corsan, que permitiu a privatização, para poder criar uma companhia de águas municipal.

Numa casa de empresários, avaliou o IPTU como “exorbitante” e se comprometeu a não aumentar impostos – e sim criar incentivos para a redução de tributos conforme a criação de empregos, como fez “duas vezes” com ISSQN –, além de lembrar ter encerrado o governo em 2004 com Gravataí como a cidade mais segura da região metropolitana, conforme estatísticas da Secretaria de Segurança do Estado.

Ataques aos adversários Marco Alba (MDB) e Luiz Zaffalon (PSDB), que serão sabatinados hoje e amanhã? Sim, mas feitas de forma conceitual. Numa comparação com o nível da campanha de São Paulo, talvez até os padres sejam mais incisivos em um carteado no Seminário São José.

– Não quero viver de passado, mas é preciso recordar – disse o professor aposentado, ex-vereador, ex-deputado estadual e ex-prefeito de 65 anos, entre a série de referências a seus governos.

Bordignon lembrou ter assumido a Prefeitura em 97 com um Orçamento Municipal de menos de um terço do R$ 1 bilhão atual, em um momento em que Gravataí tinha triplicado a população nos 20 anos anteriores, era o maior devedor do Rio Grande do Sul em INSS e FGTS com um débito correspondente a três orçamentos, devia outro orçamento a fornecedores, tinha 80% da receita comprometida com folha de pagamento e três meses de salários atrasados.

– Fizemos muito, hoje quero fazer mais – disse, citando os R$ 600 milhões correspondentes à arrecadação da GM que, após a carência da negociação, que envolveu também empréstimo e incentivos fiscais, começaram a engordar o orçamento em 2011, dez anos após a inauguração.

Sobre a vinda da montadora, negociada em 1996, quando já estava eleito, e anunciada oficialmente em 97, quando já tinha tomado posse, disse ser “uma escolha da empresa”, na qual colaborou “pela política adequada”, em reuniões com executivos da empresa e “em um debate feito no Palácio Piratini, na residência oficial do governador” Antônio Britto, mesmo PT e MDB representando à época o ‘GreNal político’ do RS.

– Foi um momento histórico. Sem a GM hoje Gravataí não conseguiria pagar a folha salarial – disse.

A prioridade para “as periferias hoje esquecidas” e “os professores e servidores massacrados” foi uma das sinalizações do ex-prefeito.

Prometeu “já no primeiro ano” enfrentar “a defasagem de 30%” nos salários. Para efeitos de comparação, reajustar os salários corresponderia a um aumento de R$ 60 milhões anuais em uma folha de pagamento de R$ 430 milhões, além dos impactos na previdência.

Sobre o plano pedagógico, disse que não vai “contratar empresas privadas, de SP, MG, para fazer educação em Gravataí” – referência aos R$ 100 milhões investidos nos governos Alba e Zaffa com os sistemas Positivo e Moderna, até o fim do último contrato em 2023.

– Os professores é que tem que fazer a educação – disse, também defendendo investimentos em arte e cultura.

Para os bairros pobres, prometeu “asfaltar todas as ruas da zona urbana até o fim do mandato” – projeto que chegaria a um custo aproximado de meio bilhão, se incluso o saneamento, em mais de 300 ruas ainda sem asfalto –, além de, “a partir do segundo mês”, construir creches para enfrentar uma fila de “cinco mil famílias”.

– A Tom Jobim não tem uma escola – exemplificou, citando uma das vilas mais pobres de Gravataí.

Para a escolha das obras, projetou ressuscitar o Orçamento Participativo e ampliar o diálogo com entidades.

– Participação popular – prometeu, dizendo que esta eleição pode mudar a relação dos últimos governos com a sociedade, “onde o prefeito diz o que o povo precisa”.

– Quem sabe das prioridades é o povo – disse, lembrando slogan do OP, “é decidiu, valeu”.

Sem citar o alvo da crítica, que são as municipalizações para investimentos nas rodovias estaduais 030 e 020, Bordignon defendeu que o município “cuide de suas atribuições”.

– Asfaltaram o Centro três vezes nos últimos 10 anos, enquanto a Jobim, o Xará, o Rincão e outras áreas estão abandonadas – acrescentou, também condenando a prioridade para construção por R$ 8 milhões “de um Mercado Público que será privado”.

– O OP, com o povo conhecendo as contas da Prefeitura, também é garantia de controle público. Nunca tive nenhuma licitação com apontamento em meus governos – disse.

Na saúde, disse que não prometeria um novo hospital – referência velada a proposta do plano de governo de Marco Alba – pelo custo de manutenção, “que corresponde a construir um hospital por ano”, mas projetou uma terceira UPA, para atender a região da Caveira e Parque dos Anjos, policlínicas equipadas para pequenas cirurgias em programa do governo federal, investimentos em equipes de saúde da família e “médicos, que hoje faltam nos postos”.

– É preciso desafogar o hospital – disse, também defendendo maior controle sobre os recursos públicos destinados ao Dom João Becker, administrado pela Santa Casa, que além do SUS opera convênios e atendimentos particulares.

– Como prefeito eu ia, de madrugada, visitar as unidades de saúde – disse.

Sobre ações no pós-enchente, Bordignon se comprometeu a, eleito, já no dia seguinte à votação começar a gestionar junto ao governador Eduardo Leite (PSDB) – com quem disse ter uma “excelente relação” – e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para a liberação e execução dos R$ 450 milhões previstos no PAC para Gravataí, parte de R$ 2,9 bi em obras em diques e barragens na Bacia do Rio Gravataí.

– Vou me empenhar pessoalmente – disse, lembrando ter sido um dos fundadores em 1979 da Associação de Preservação da Natureza do Vale do Gravataí (APN-VG).

– Gravataí está a 9 metros acima nível do mar e na tragédia de maio não sofreu o mesmo impacto de outras cidades, como Canoas, Cachoeirinha e Alvorada, mas há comunidades que sempre sofrem com alagamentos. Vamos investir – disse, garantindo que não vai liberar “loteamentos sem infraestrutura” e em áreas alagadiças identificadas pela mancha de inundação do Rio Gravataí e afluentes.

Para os resíduos urbanos, Bordignon defendeu o depósito e tratamento em Gravataí, lembrando ter “acabado com o lixão da Santa Tecla” com “um aterro padrão japonês” – política ambiental que disse ter sido barrada por interesse de empresas em levar o lixo para cidades como Minas do Leão.

– É um custo de R$ 40 milhões por ano – disse, sustentando que “Gravataí tem áreas adequadas, argilosas”.

Em ousada proposta, seja pela guerra judicial que abriria com a Corsan privatizada para a Aegea, como pelo investimento necessário para interligação da captação e abastecimento, Bordignon manifestou a intenção de questionar a cessão da outorga pela Prefeitura, porque projeta criar uma agência de águas municipal, “como o DMAE em Porto Alegre” – uma ‘Corsan municipal’.

Em sua conclusão, Bordignon identificou um “momento crucial na história da cidade” para “resgatar a participação popular” e parte de uma “missão” para unir “mulheres, negros e toda diversidade” em um “projeto democrático e fraterno”, para que “cidadãos não caiam na propaganda de incensar a ditadura e quebrar o Estado de Direito” e “não se implante no Brasil um estado totalitário”.

– A partir daqui também enfrentamos os que disseminam ódio, discriminação e fazem das fake news, da mentira, uma arma política – disse, também citando Abraham Lincoln para prometer um governo “do povo, para o povo e pelo povo”.


Assista a sabatina completa, que começa com Bordignon contando sua história


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