Em uma missão que pode definir o futuro de Cacheirinha frente às mudanças climáticas, o prefeito Cristian Wasem (MDB) e o secretário de Planejamento, Paulo Garcia, embarcam no próximo dia 25 de junho para Pequim, China.
O convite partiu do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), instituição que se comprometeu a financiar o ambicioso Programa Cachoeirinha 2050 – Resiliência Urbana e Inovação na Gestão de Riscos Climáticos, no valor de US$ 78 milhões (cerca de R$ 500 milhões) – o maior investimento da história do município.
A viagem, que se estenderá até o dia 27, tem dois objetivos centrais: formalizar as tratativas junto à sede do AIIB e apresentar os projetos técnicos detalhados a potenciais investidores chineses interessados no município gaúcho.
A agenda ocorre em um momento crucial, meses antes da assinatura oficial do contrato de financiamento, prevista para novembro durante a COP30 em Belém do Pará.
A urgência da missão tem raízes profundas na tragédia que assolou Cachoeirinha em maio de 2024. Enchentes catastróficas alagaram bairros inteiros (como Meu Rincão e Vila Eunice), danificaram infraestrutura pública, isolaram a cidade e deixaram 3 mil desabrigados. Os prejuízos econômicos foram estimados em milhões, mas o trauma social foi imensurável.
– Ficamos ilhados. Foi um alerta para agirmos com urgência – já disse o secretário Paulo Garcia, ao revelar que as tratativas sigilosas com o AIIB começaram já em agosto de 2024. O sigilo, segundo ele, foi estratégico: “para não utilizar esse processo de forma eleitoreira”.
Cachoeirinha 2050: um legado em três eixos
Apresentado com pompa no dia 7 de maio no Centro das Indústrias (CIC), o programa é uma resposta estrutural à vulnerabilidade exposta. O prefeito, que nasceu e cresceu na cidade, defendeu o projeto com emoção:
– Vamos marcar história para nossos filhos, netos e as próximas gerações. Temos responsabilidade com o meio ambiente – disse, no lançamento.
Ele destacou que a opção pelo financiamento internacional surgiu da demora em ações dos governos estadual e federal.
Os investimentos estão divididos estrategicamente:
1.Infraestrutura Resiliente (R$ 78 milhões):
- Prolongamento da Av. Fernando Ferrari e construção da RS-010 (“Eletrovia Urbana”) como dique contra enchentes (R$ 25 mi).
- Viaduto na Av. Fernando Ferrari com drenagem eficiente (R$ 7 mi).
- Urbanização do Arroio Passinhos (canalização e recuperação ambiental – R$ 36 mi).
- Modernização de casas de bomba e sistema de drenagem.
2.Edificações Públicas (R$ 72 milhões):
- Novo Centro Administrativo com Centro de Controle de Desastres (R$ 30 mi).
- Centro de Eventos Sustentável com resistência climática (R$ 42 mi).
3.Inovação e Gestão (R$ 2,4 milhões):
- Capacitação de mulheres e jovens em gestão de riscos.
- Ferramentas de georreferenciamento (SIG) para monitoramento hidrológico.
O projeto prioriza Soluções Baseadas na Natureza (SBN): jardins de chuva, parques lineares (incluindo um de 8 km em áreas ribeirinhas), arborização massiva e requalificação de vias com calçadas acessíveis e vegetação nativa. “Não são soluções pontuais, mas um redesenho da cidade para as próximas décadas”, enfatizou Garcia.
Por que Cachoeirinha?
O consultor do projeto, Boris Utria, explicou o atrativo para o AIIB: “Esse é um crédito concessionário, de 30 anos, com custo muito menor do que os praticados no Brasil. O esforço da cidade em garantir transparência, compromisso ambiental e uso de tecnologia de ponta foi decisivo”.
O planejamento técnico iniciado em 2024 e a ampla reeleição de Cristian (70% dos votos válidos) também pesaram.
Manuel Benard, chefe da missão do AIIB, destacou o caráter colaborativo: “Estamos felizes por contribuir com os projetos propostos pelo governo municipal”.
Para o prefeito, o financiamento é “um voto de confiança na nossa capacidade de execução”, vinculado ao Plano Diretor municipal.
Transparência e cronograma
O prefeito garantiu rigor no uso dos recursos: “Cada centavo será monitorado”.
Uma empresa especializada fará supervisão, com auditorias externas anuais e fiscalização dos Tribunais de Contas. Após a assinatura na COP30 e aprovação da Câmara de Vereadores, as licitações estão previstas para 2026.
No lançamento, André Lima, assessor do prefeito, rebateu a ideia de que o programa é distante: “As obras começam em 2025 e trarão resultados imediatos”. O nome “2050” simboliza a visão de uma cidade adaptada, onde tragédias como a de 2024 não se repitam.
– Estamos construindo o amanhã, hoje – resume o prefeito Cristian, definindo o programa como “um pacto com as próximas gerações”.
A viagem a Pequim é o próximo passo crucial para transformar esse pacto em realidade concreta para Cachoeirinha.
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