RAFAEL MARTINELLI

Cachoeirinha 2050: os detalhes sobre onde prefeito Cristian vai investir meio bilhão em resiliência climática com financiamento de banco chinês

Um ano após enchente, prefeito Cristian apresenta ousado plano de investimentos

 O prefeito Cristian Wasem apresentou nesta quarta-feira o Programa Cachoeirinha 2050 – Resiliência Urbana e Inovação na Gestão de Riscos Climáticos, o maior investimento da história do município, financiado por um crédito de 78 milhões de dólares (cerca de meio bilhão de reais) do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), que tem sede em Pequim, na China.

O anúncio, feito no auditório do Centro das Indústrias (CIC), marca uma resposta estrutural às enchentes catastróficas de maio de 2024, que deixaram 3 mil desabrigados e expuseram vulnerabilidades críticas na infraestrutura local.

– Vamos marcar história para nossos filhos, netos e as próximas gerações. Este é o começo de uma nova etapa para Cachoeirinha. Muitos dizem que vamos destruir o Mato do Júlio, pelo contrário. Temos responsabilidade com o meio ambiente – destacou o prefeito, lembrando que nasceu e cresceu no município.

Cristian explicou que a opção pelo financiamento foi motivada pela demora na execução de projetos antienchente dos governos estadual e federal.

Do caos à transformação: o impacto das enchentes de 2024

As chuvas de maio do ano passado não apenas alagaram bairros inteiros como Meu Rincão e Vila Eunice, mas também danificaram escolas, unidades de saúde e isolou a cidade, gerando prejuízos econômicos estimados em milhões.

– Ficamos ilhados. Foi um alerta para agirmos com urgência – afirma o secretário de Planejamento, Paulo Garcia, revelando que as tratativas acontecem desde agosto do ano passado, mas o sigilo das reuniões com representantes do banco foi mantido “para não utilizar esse processo de forma eleitoreira”.

– Com este projeto, vamos restaurar a vida das pessoas atingidas. Não é só um resgate financeiro ou habitacional. É, sobretudo, um resgate psicológico. Vamos construir uma cidade moderna, forte e mais preparada. Este programa é de Cachoeirinha e independe de quem esteja à frente do governo municipal – projetou Cristian.

O programa em números

Com recursos garantidos pela União e assinatura prevista para a COP30, em Belém (2025), o programa divide-se em três eixos principais:

1.Infraestrutura Resiliente (R$ 78 milhões):

: R$ 25 milhões para prolongamento da Av. Fernando Ferrari e construção da RS-010 (“Eletrovia Urbana”), que funcionará como dique contra enchentes.

: R$ 7 milhões em um viaduto na Av. Fernando Ferrari, integrando drenagem eficiente e paisagismo.

: Urbanização do Arroio Passinhos (R$ 36 milhões), com canalização e recuperação ambiental.

: Modernização de casas de bomba e sistema de drenagem em áreas críticas.

2.Edificações Públicas (R$ 12 milhões):

: Novo Centro Administrativo com Centro de Controle de Desastres (R$ 30 milhões).

Centro de Eventos Sustentável (R$ 42 milhões), projetado para resistência climática.

3.Inovação e Gestão (R$ 2,4 milhões):

: Capacitação de mulheres e jovens em gestão de riscos.

: Ferramentas de georreferenciamento (SIG) para monitoramento hidrológico.

Clique aqui para ver a apresentação distribuída pela Prefeitura.

O projeto inclui intervenções baseadas na natureza, como jardins de chuva, parques lineares em áreas vulneráveis e arborização massiva. A requalificação da Av. General Flores da Cunha, por exemplo, terá calçadas acessíveis e vegetação nativa.

– Não são soluções pontuais, mas um redesenho da cidade para as próximas décadas – destacou o secretário do Planejamento.

Entrevista coletiva de apresentação do Cachoeirinha 2050 teve participação de comitiva do banco chinês


Por que o AIIB escolheu Cachoeirinha?

Segundo o governo, fatores como o planejamento técnico (iniciado em 2023), compromisso com metas ambientais e a reeleição de Cristian com 70% dos votos dos votos válidos foram decisivos.

Representando o AIIB, o chefe da missão internacional, Manuel Benard, destacou o caráter colaborativo da construção do programa.

– Estamos felizes por contribuir com os projetos propostos pelo governo municipal – disse.

Já o consultor Boris Utria reforçou a natureza do crédito e o comprometimento demonstrado pela cidade.

– Esse é um crédito concessionário, de 30 anos, com custo muito menor do que os praticados no Brasil. O esforço da cidade em garantir transparência, compromisso ambiental e uso de tecnologia de ponta foi decisivo para o andamento do projeto – explicou.

– É um voto de confiança na nossa capacidade de execução – afirmou o prefeito, que vinculou o programa ao Plano Diretor municipal.

O que muda na prática?

Redução de alagamentos em 15 bairros prioritários.

Novos acessos viários, como a RS-010, conectando a cidade a rodovias estaduais.

Geração de renda com 500 vagas em cursos de sustentabilidade.

Parque linear de 8 km em áreas ribeirinhas, combinando lazer e prevenção de cheias.

Fiscalização e transparência

Uma empresa especializada supervisionará as obras, com auditorias externas anuais, além das auditorias permanentes dos tribunais de contas do Estado e da União.

– Cada centavo será monitorado – garantiu o prefeito.

O cronograma do financiamento, que terá garantia do governo federal e ainda precisa ser aprovado pela Câmara de Vereadores, prevê início das licitações em 2026, após a assinatura na COP30, em novembro, em Belém do Pará.

Um legado para 2050

– Este não é um projeto para daqui a 25 anos. As obras começam em 2025 e trarão resultados imediatos – explicou André Lima, assessor do prefeito.

O nome “2050” simboliza a visão de futuro: uma cidade adaptada às mudanças climáticas, onde tragédias como a de 2024 não se repitam.

– Após o período eleitoral, vem a vida real e a gestão teve a sensibilidade de perceber que tudo passa por um planejamento de longo prazo – acrescentou Lima.

Para o prefeito, o programa é “um pacto com as próximas gerações”:

– Estamos construindo o amanhã, hoje.

Analiso.

O ousado programa apresentado pelo prefeito serve como uma resposta às críticas pela falta de obras estruturantes no pós-enchente. Eu mesmo cobrei, um mês atrás, em Prefeito Cristian deve explicações às vítimas da enchente em Cachoeirinha; Foi eleito por e para isso.

E, ao menos nos planos apresentados, inclui ações técnicas, não na base de indicações de políticos. Os chineses são hoje os maiores investidores mundiais, mas não rasgam dinheiro.

Se o governo conseguir manter as contas em dia e manter em dia as certidões negativas de débitos, enfim, não cair no ‘SPC das prefeituras’, para não colocar o financiamento em risco, Cristian pode seguir os passos dos prefeitos Marco Alba (MDB) e Luiz Zaffalon (PSDB), que nos últimos oito anos transformaram Gravataí a partir de mais de R$ 300 milhões empréstimos.

Ao fim, inegável é que Cachoeirinha, que terá quase meio bilhão, estava precisando de esperança – isto, hoje Cristian ofereceu.


Assista a apresentação completa na SEGUINTE TV


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