Ao assumir a presidência do PSD na noite desta segunda-feira o prefeito Luiz Zaffalon confirmou que apóia a reeleição do deputado estadual Dimas Costa, em Gravataí ‘embaixador’ de Eduardo Leite –– o governador que Zaffa disse ter sido sua inspiração para se filiar ao partido.
Quem lê o Seguinte:, já sabia. Quem observa as redes sociais dos dois já devia ter percebido: das altas rodas às periferias, dos anúncios de obras às inaugurações, os stories e posts conjuntos são diários.
No ato de filiações, cujo ápice foi a assinatura de ficha e condução do empresário da indústria, dono do Cerâmica Atlético Clube e ex-vice-prefeito Décio Becker à presidência de honra do partido à convite do prefeito, os discursos guardaram símbolos com potencial de alcance não só em 2026, mas em 28.
Analiso neste artigo. Sem muita dificuldade. Zaffa é alegria para jornalista político. Sincericida, não se apega a subterfúgios da retórica política; simplesmente dá a real.
– É um compromisso meu, nosso, daqui a um ano eleger esse cara aqui deputado por Gravataí, assim como fazer um segundo governo melhor do que o primeiro – disse, abraçando Dimas.
– Nunca perdi eleição. Sempre entregamos resultados – acrescentou, sem costear uma responsabilidade que a política impõe a todo mandatário: ser o ‘Grande Eleitor’; desafio que Zaffa enfrenta pela primeira vez em 26 e serve como um aquece para sua sucessão em 28.
O Partido Pragmático
A construção do discurso do prefeito sociólogo procurou posicionar o PSD não atrás ou em cima do muro, mas como o ‘Partido Pragmático’.
Ao lembrar a militância política de Carlos Becker –– pai de Décio e pioneiro da indústria em Gravataí, no antigo PSD do presidente Juscelino Kubitschek, até a dissolução da sigla pelo AI-2 da ditadura –– Zaffa rememorou a sinopse que o presidente nacional Gilberto Kassab indicou na refundação do partido, em 2011:
– Ele disse que o PSD não é direita, não é esquerda e aí deu nó em quem ouvia ao acrescentar que também não é de centro: é um partido para resolver os problemas do Brasil, independentemente do lado de cada um na ferradura ideológica.
– Hoje vivemos uma polarização de esquerda, direita, e ninguém tem razão. Somos um partido com razão – disse, posicionando Eduardo Leite como símbolo político de um comportamento moderado e com o qual comunga o jeito de governar que “ouve todos os lados”.
– Quando o MDB me fechou a porta, o governador me convidou para o PSDB. Disse que o seguiria onde fosse e aqui estou. Governamos com um pragmatismo político que entrega resultados às pessoas. O PSD se encaixa nisso – disse, lembrando que mesmo quando estava no MDB era atendido por Leite.
– À época, o viaduto da 118, sonho de 50 anos, foi garantido por ele. Em dois meses estará entregue – exemplificou, citando a obra da elevada que liga a ERS-118 à Av. Centenário e o Distrito Industrial.
O impedimento à sua candidatura à reeleição, que o levou a trocar de partido, pode não ter sido a única referência ao MDB do ex-prefeito Marco Alba e da deputada estadual Patrícia Alba, principal força política de oposição em Gravataí; indireta, ao menos, pareceu a políticos presentes.
O prefeito encerrou o discurso dizendo que “o PSD não é o partido do Zaffa, não tem dono como outros na cidade”.
– E a dona Marlene não é candidata a nada – disse, tocando o braço da esposa ao elevar o tom e carregar a vocalização de ironia.

A sucessão após a vírgula
Onde 2028 apareceu, para além da certeza de que já há data marcada para os grupos de Zaffa e Alba disputarem o atual GreNal da Aldeia pela Prefeitura? Em um detalhe após a vírgula.
Ao elogiar os legados do governador e do prefeito, “responsáveis pelos maiores investimentos da história em Gravataí”, Dimas disse que “infelizmente” Zaffa só será prefeito até 2028. E instou:
– Temos que trabalhar para fazer um governo ainda melhor e eleger o sucessor, não é Davi?
Davi Severgnini é notoriamente o ‘número 1’ do prefeito. Secretário da Fazenda por uma década, coordenador político do governo e, na campanha pela reeleição em 24, articulador da maior aliança partidária já construída em Gravataí, é o candidato de Dimas à sucessão.
Para muitos do meio político, de governo e oposição, Davi também é profetizado como o preferido do prefeito –– um potencial ‘Zaffa do Zaffa’, uma reedição do outsider da política que concorre tendo um ‘Grande Eleitor’; assim como aconteceu com Zaffa em sua primeira eleição, em 2020, com apoio do então prefeito Marco Alba.
Discreto, Davi reafirmou seu apoio à eleição de Dimas para a Assembleia Legislativa, falou das entregas do governo e reforçou o desafio de fazer do PSD “o maior partido de Gravataí”.
O que foi corroborado por Zaffa, que convidou para acompanhá-los os vereadores tucanos Alex Peixe, Márcia Becker e Bino Lunardi, além do presidente da Câmara Clebes Mendes.
– Só Clebes ainda não respondeu, mas é uma liderança que queremos muito. Com mais a vereadora Anna Beatriz já teríamos a maior bancada na Câmara – disse.

O Poder, o substantivo e o verbo
Ao fim, as filiações de ontem, no CTG Carreteiro da Saudade, antecipam que o projeto ‘maior partido’ é questão de um segundo para completar dois minutos.
A convocação do prefeito foi atendida e a noite foi marcada pela adesão de nomes de peso do governo municipal. Secretários como Gustavo Cavalheiro (Administração, Modernização e Transparência), Guilherme Ósio (Parcerias Estratégicas, Projetos e Captação de Recursos), João Maria (Desenvolvimento Econômico e Turismo), tenente-coronel Emílio Barbosa (Segurança Pública), Aurelise Braun (Educação) e Analu Sônego (Mulher e Direitos Humanos) formalizaram a filiação, assim como Rafael Evaldt, presidente do IPG, as conselheiras tutelares Elis Fernandes e Rafaella Nauane –– e mais uma centena de pessoas.
Já Dimas, com o anúncio público de apoio de Zaffa, certamente começará a experimentar os efeitos práticos em sua jornada pela eleição a deputado. O Poder, como substantivo, é vazio; só tem sentido como verbo, no exercício da ação, já constatava Foucault.
Com governo bom, o Poder em uma cidade é do prefeito –– quando este quer exercê-lo. Este parece ser o caso, em Gravataí. Zaffa quer eleger Dimas.
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Uma resposta
Caro jornalista, tens que perguntar para o ZAFFA o porque de 7 lojas da Rua Coberta estão fechadas. As operações faliram. Ele vai culpar o Bolsonaro ? ou o Lula? o Leite jamais ele vai culpar não é mesmo. O slogan que Gravataí é a melhor para investir e morar não bate, fora a Lojas Gang que fechou em uma prédio na frente do Hospital Dom João Becker.