A operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal (PF) na manhã da sexta-feira, 17 de março, para coibir irregularidades envolvendo principalmente frigoríficos – a maioria do Paraná – respingou em Gravataí. Desde o dia 20 a maioria dos 27 mil alunos das 75 escolas da rede municipal não têm carne na merenda.
É que o Serviço de Alimentação Escolar (SAE) enviou e-mail na tarde da segunda-feira, dia 20, determinando a suspensão na entrega e que não fossem consumidos os cortes de frango e carne bovina que já haviam sido recebidos nos educandários, na parte da manhã, por serem de empresas que estavam sendo investigadas pela PF.
Até a reposição dos estoques a merenda deveria ter atum, sardinha e ovos no lugar das carnes. O recolhimento do que já estava nas escolas deveria ser feito pelas empresas fornecedores – Frigopar e Seara, frigoríficos do Grupo JBS – até quinta-feira da semana passada, dia 23, o que acabou não se confirmando.
: Dia 20 o SAE encaminhou e-mail às escolas vetando o recebimento e o consumo de carnes de frango e bovina
Laudo para consumo
Segundo a assessoria de comunicação da Prefeitura de Gravataí, em algumas escolas já foi retomado o abastecimento de carne e naqueles estabelecimentos em que o produto recebido foi mantido congelado o consumo foi autorizado agora à tarde pelo SAE.
Os fornecedores encaminharam documento informando que as carnes enviadas para as escolas de Gravataí não são de plantas frigoríficas sob a investigação da Polícia Federal através da operação Carne Fraca. A situação em todas as escolas da rede deve voltar ao normal até sexta.
Carne estragada
O caso ganhou repercussão nas redes sociais, nesta quarta, porque parte da carne entregue na Escola Municipal de Ensino Fundamental Antônio Aires de Almeida acabou deteriorando na semana passada. Cerca de 100 quilos de carne bovina foi estocado em um refrigerador porque seria utilizado em breve e porque não havia espaço no freezer para congelar toda carne recebida.
Outra parte, 50 quilos de cortes de frango, foram congelados em um freezer para serem utilizados na merenda dias depois do recebimento, que aconteceu na segunda-feira dia 20. O que foi congelado está sendo autorizado, hoje, em novo e-mail distribuído pelo SAE, para consumo dos alunos.
Mau cheiro
A carne que estragou dentro do refrigerador na escola Antônio Aires provocou mau cheiro que foi sentido – especialmente à noite – por alunos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) que denunciaram a situação. Foi o único caso entre as 75 escolas da rede municipal em que a carne ficou sem condições de consumo.
O produto foi vistoriado e recolhido ao meio dia de hoje por técnicos do setor de Fiscalização Sanitária, da Prefeitura. Neste meio tempo a merenda servida foi basicamente arroz e feijão e, hoje, a carne bovina voltou ao cardápio já que a escola recebeu 38 quilos na segunda-feira passada.
: Cortes de frango, congelados na escola Antônio Soares, podem ser consumidos na merenda escolar
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O que levou à suspensão do consumo da carne na merenda escolar
Cronologia
Dia 17 de março
A Polícia Federal colocou 1.100 agentes nas ruas na sexta-feira dia 17 passado para cumprir a maior operação da história da corporação. Chamada de "Carne Fraca", a ação mira a venda de alimentos adulterados. Eles cumprem 309 mandados judiciais em sete estados: São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás.
Dia 20 de março
Na segunda-feira pela manhã, produtos da Frigopar e da Seara foram distribuídos nos estabelecimentos de ensino de Gravataí para serem utilizados na merenda escolar.
Dia 20 de março
Na mesma segunda-feira, à tarde, o Setor de Alimentação escolar (SAE) da Secretaria Municipal de Educação envia e-mail para todas as escolas – inclusive as da educação infantil – informando a suspensão da entrega dos produtos da Frigopar e determinando que os cortes de carnes bovinas e aves não sejam utilizados na merenda.
No mesmo e-mail, o SAE informa que foi solicitado à Frigopar o recolhimento das carnes até o dia 23, quinta-feira da semana passada, o que não aconteceu.
29 de março
Hoje à tarde o Serviço de Alimentação Escolar distribuiu novo e-mail autorizando o consumo da carne que havia ficado armazenada, congelada, nos estabelecimentos de ensino.
: E-mail distribuído hoje pelo SAE autoriza o consumo da carne que havia sido mantida congelada nas escolas
Na Antônio Aires
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A Escola Municipal de Ensino Fundamental Antônio Aires de Almeida recebeu dia 20, pela manhã, 150 quilos de carnes – 100 quilos de cortes bovinos e 50 quilos de cortes de frangos – para a merenda.
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Como a carne de frango tem durabilidade menor, foi estocada no freezer. A carne bovina, que seria utilizada em seguida, foi para o refrigerador da escola.
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Em razão do e-mail do SAE determinando que estas carnes não fossem consumidas, e pela falta de espaço no freezer (já lotado com cortes de frango) os cortes bovinos (iscas, carne moída e peças maiores) foram mantidas no refrigerador e acabaram se deteriorando.
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A Escola Municipal de Ensino Fundamental Antônio Aires de Almeida tem 987 alunos – do 1º ao 9º anos e Ensino de Jovens e Adultos (EJA) – atendidos em três turnos e distribuídos em 15 salas de aula.
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A merenda, na escola, é servida em cinco dias da semana. Em dois dias é lanche e em três dias são refeições, com carnes. Os alunos da noite também recebem a alimentação diária.
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Uma funcionária da escola, que pediu para não ser identificada, disse que a proibição de consumo da carne recebida dia 20 foi uma precaução do SAE, considerando a operação que a Polícia Federal havia deflagrado na sexta-feira anterior.
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A mesma servidora comentou que o Serviço de Alimentação Escolar é muito rigoroso no controle de qualidade dos alimentos, que sempre faz a reposição quando algum problema é detectado, e que a administração municipal, como um todo, “nunca deixou faltar produtos para a merenda escolar”.
O consumo semanal
Dependendo do cardápio elaborado pelo SAE a Prefeitura adquire em média, por semana, aproximadamente:
– 1.200 quilos de carne bovina moída
– 1.400 quilos de iscas de carne bovina
– 1.200 quilos de cubos de carne bovina
– 1.700 quilos de coxa e sobre-coxa de frango.
Obs.: Há semanas em que algum ou outro tipo de carne não é adquirida, dependendo do cardápio elaborado poelas nutricionistas do SAE.