A presidente da Câmara de Cachoeirinha, Jussara Caçapava (Avante), divulgou na tarde desta segunda-feira uma “Nota de Esclarecimento e Repúdio” em resposta ao pedido de impeachment protocolado horas antes pelo prefeito Cristian Wasem (MDB) — episódio marcado por tumulto no Legislativo, registro de ocorrência policial e novas acusações cruzadas entre os poderes.
No documento, Jussara afirma que o prefeito passou a adotar “atitudes absolutamente incompatíveis com a responsabilidade do cargo” desde a abertura dos dois processos de impeachment que investigam ele e o vice-prefeito Delegado João Paulo Martins (PP).
A presidente acusa o chefe do Executivo de promover ataques sucessivos ao Parlamento, perseguição a vereadores, uso de fake news financiadas com verba pública e violência política de gênero.
No texto, Jussara afirma que o prefeito iniciou uma retaliação política ao exonerar servidores indicados por vereadores, “sem pagamento de salários e verbas rescisórias”, e fomentar, por meio de veículos de comunicação “financiados com recursos públicos”, ataques direcionados especialmente contra parlamentares mulheres.
A presidente também cita o caso de um advogado que, segundo ela, exerce simultaneamente função na Prefeitura e presta serviços particulares ao prefeito.
O profissional teria feito “ataques ofensivos, machistas e de baixo nível” contra a vereadora Sandrinha (REP) às 23h de um dia útil, comportamento descrito como planejado, reiterado e voltado especificamente a mulheres do Legislativo.
O advogado é André Lima, assessor especial do prefeito e integrante da defesa nos processos de impeachment.
“Processo artificial” e crítica à tentativa de impedir voto da presidente
Em resposta ao pedido de impeachment formalizado por Cristian — uma denúncia de mais de 30 páginas que aponta supostas irregularidades em sete grupos de contratos da Câmara — Jussara afirma se tratar de um ato “artificial, desprovido de fundamento e dissociado da realidade administrativa”.
Segundo a nota, a gestão da Câmara é “reconhecida por legalidade, transparência e retidão”, e as acusações do prefeito seriam “factoides, distorções e acusações vazias”.
A presidente critica ainda a postura do prefeito ao solicitar que ela fosse impedida de votar nos processos de impeachment que investigam Cristian e o vice.
O pedido foi acatado pelas comissões processantes na semana passada. Jussara afirma, entretanto, que não se manifestará publicamente sobre o mérito dos processos enquanto o Plenário não deliberar, “para não influenciar o voto de seus colegas”.
Prefeito havia acusado família Caçapava
Horas antes da divulgação da nota, Cristian e o vice João Paulo realizaram um pronunciamento no Hotel Alano, com escolta da Brigada Militar. No evento, o prefeito apresentou as denúncias que embasam seu pedido de impeachment contra Jussara e classificou os processos de cassação que enfrenta como parte de um “golpe político”.
Cristian acusou a “Família Caçapava” de tentar assumir o comando do Executivo desde a crise que derrubou o ex-prefeito Miki Breier, em 2021.
Ele afirmou ter “limpado o nome de Cachoeirinha” administrativamente, disse não ser réu em nenhum dos casos investigados contra sua gestão e sugeriu que adversários “possam destruir celulares” após seu pedido de cassação.
O prefeito ainda afirmou que levará seu dossiê ao Ministério Público, ao Tribunal de Contas do Estado e ao DEIC.
Crise explode na fase decisiva dos impeachments
A troca de acusações ocorre seis dias após a Comissão Processante do Impeachment 2.0 aprovar o parecer que manteve o prosseguimento do processo contra o prefeito e o vice, rejeitando todas as alegações de nulidade apresentadas pelas defesas.
O processo agora entra na fase de instrução e pode ser concluído em até 90 dias. Caso o relatório final recomende a cassação, o tema será levado ao Plenário, onde são necessários 12 votos entre 17 — número já alcançado nas admissibilidades.
Caso Cristian e João Paulo percam os mandatos, Jussara assume a Prefeitura.
Câmara promete responder tecnicamente: “A verdade prevalecerá”
Ao final da nota, Jussara afirma que todas as acusações feitas pelo prefeito serão rebatidas “de forma clara, técnica e documentada”. A presidente reforça que a Câmara “não se curvará a pressões ou intimidações” e diz que não descerá “ao nível de quem debocha das instituições”.
“Quanto ao campo político, o conjunto de vereadores dará a resposta que suas consciências determinarem”, conclui.
A íntegra da nota
NOTA DE ESCLARECIMENTO E REPÚDIO
A Presidência da Câmara de Vereadores de Cachoeirinha vem a público manifestar veemente repúdio às atitudes recentemente adotadas pelo Senhor Prefeito Municipal que, após a abertura de duas Comissões Processantes para apurar possíveis infrações político-administrativas, passou a promover sucessivos ataques ao Parlamento e aos seus membros.
Nos últimos dias, o Chefe do Executivo tem utilizado mecanismos absolutamente incompatíveis com a responsabilidade do cargo que ocupa. Entre eles, a demissão de servidores nomeados e indicados por vereadores, sem o pagamento de salários e verbas rescisórias; bem como a disseminação diária de fake news por meio de veículos de comunicação financiados com recursos públicos, direcionando ataques especialmente contra vereadoras, em um padrão claro de assédio político e violência institucional de gênero.
Em ato ainda mais grave, um advogado que simultaneamente exerce função na Prefeitura e presta serviços particulares ao Prefeito realizou ataques ofensivos, machistas e de baixo nível contra a Vereadora Sandrinha (REP), em plena noite, às 23h — uma conduta planejada, reiterada e direcionada a mulheres do Parlamento.
A escalada de hostilidades avançou quando o Prefeito, pessoalmente, protocolou nesta Casa um processo artificial, desprovido de qualquer fundamento e absolutamente dissociado da realidade administrativa da Câmara, reconhecida pela sua legalidade, transparência e retidão.
Além disso, o Prefeito passou a atacar também a Presidência da Câmara, solicitando que a vereadora presidente fosse impedida de votar nos processos de impeachment que apuram denúncias contra o próprio Prefeito e o Vice. Pedido que, lamentavelmente, foi acatado pelas comissões. Diante disso, e em respeito à independência dos demais vereadores, a Presidente da Câmara não se manifestará publicamente sobre o mérito dos processos até que o plenário delibere, para não influenciar o voto de seus colegas.
Todos os factoides, distorções e acusações vazias apresentados serão rebatidos de forma clara, técnica e documentada. A verdade prevalecerá.
A Câmara de Vereadores reafirma à população de Cachoeirinha que não se curvará a pressões, intimidações ou narrativas falaciosas. Continuaremos conduzindo os trabalhos com serenidade, firmeza institucional, respeito às leis, às mulheres e à democracia.
Não desceremos ao nível de quem sistematicamente debocha das instituições e deve explicações relevantes ao povo e às autoridades competentes.
Quanto aos fatos apontados pelo Prefeito sobre a gestão da Câmara, todos são de cristalina retidão, como ficará demonstrado nas próximas horas. Quanto ao campo político, o conjunto de vereadores e vereadoras dará a resposta que suas consciências determinarem.
Jussara Caçapava
Presidente da Câmara de Vereadores de Cachoeirinha
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