A Câmara de Cachoeirinha aprovou projeto de Cristian Wasem (MDB) que tem seduzidos políticos destros, canhotos e muristas parlamentos Brasil afora: a proibição de inauguração de obras públicas municipais inacabadas e sem condições de uso pela população.
Se é para fazer escalte, postar no Facebook e printar a manchete do jornal para ilustrar material de campanha, até vá lá, é da marquetagem política. Mas, na prática, convenhamos, é uma grande bobagem e, possivelmente, o prefeito Miki Breier (PSB) inclusive vete – não só por ser uma intromissão do legislativo no executivo, inconstitucional, aposto, mas pelo projeto parecer um ‘corretivo’ para o governo.
Wasem, que como os 17 vereadores de Cachoeirinha é da base do governo e, como todos os colegas, com exceção de Jack Ritter (PSB), tem cargos indicados na Prefeitura, justifica assim o projeto:
– Não são raros os momentos em que observamos a inauguração de obras mal-acabadas no setor público que, muitas vezes, se arrastam no tempo.
Tem mais:
– Com efeito, o presente projeto de lei tem como escopo o sepultamento da sacramentada prática eleitoreira de inaugurar obras públicas que não cumpram a função de, efetivamente, servir aos cidadãos-contribuintes.
Leia a íntegra do projeto clicando aqui.
Posso estar errado, e aí me corrijam os universitários, mas não lembro Miki ter inaugurado obras inacabadas, nas poucas obras que conseguiu anunciar nos dois primeiros anos já que, com a crise do pós-pinote da Souza Cruz, vira-se para não ser apenas um administrador de uma folha de pagamento que já consumiu 8, e hoje consome 6 em cada dez reais arrecadados. Dos que acompanhei dos anos 90 para cá, também não lembro de Vicente Pires, José Stédile ou Valdecir Mucillo terem feito isso.
É também um projeto inócuo porque sem punições. Não há referência a sanções no corpo da lei. Se resolver ‘inaugurar’ uma ‘pedra fundamental’, não é preciso ao prefeito da vez nem pedir desculpas ao xerife de plantão.
Há coisas bem mais importantes para se preocupar, como o rombo no Iprec, o instituto de previdência de Cachoeirinha, que poucos políticos sabem ao menos o que significa a sigla, quanto mais o valor do milionário déficit atuarial que compromete o pagamento das aposentadorias dos servidores.
Mas também não é o fim do mundo. Comento porque é uma notícia do dia que ganhou grande repercussão local. Certamente, há coisas piores, municípios afora, como vereadores – de governo e oposição – em cima de máquinas que asfaltam ruas, distribuição de remédios e cadeiras de rodas levadas na casa de necessitados, ONGs de fachada, entre tantos outros desvirtuamentos da função parlamentar, espertamente executados para enganar os eleitores.
Ao fim, o que acredito ser boa intenção do vereador Wasen em combater demagogias eleitorais, demagogia eleitoral parece…
Em maio do ano passado, no artigo Vereadores precisam cuidar com projetos demagógicos, escrevi no Seguinte:
“(…)
A grande maioria dos parlamentares entende seu papel, mas vai junto para a marca da cal. Muitas vezes votando a favor de propostas populistas por obrigação, para não ter que ficar se explicando nas redes sociais.
Ao fim, é a política que perde mais uma.
Certamente cada vereador sonha em transformar sua cidade numa Suíça.
É preciso cuidar para que não vire uma Nova Bréscia.
(…)”
Não é por pegação de pé que comento, é mais como sugestão de preservação para os políticos, aliens para os quais o Grande Tribunal das Redes Sociais não dedica nada além da presunção de culpa.
Dói, para quem reconhece como tão necessária a política, quando sessões da Câmara configuram quase que um crime ambiental, porque se gasta mais energia elétrica e se consomem mais copos plásticos de cafezinho do que algo relevante é produzido.