Como para o Seguinte: Gravataí é a capital do mundo, analiso alguns reflexos nas eleições municipais de 2020 da soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e de um provável, porém não certo, ‘nós contra eles’ entre ‘petralhas’ e ‘bolsominions’.
1.
Anabel Lorenzi (PDT), que aparentemente é a maior beneficiada, parece temer o ‘contágio’ na Gravataí que deu sete a cada dez votos para o homem da casa 58 nas eleições presidenciais de 2018.
De cidadã militante em manifestações do #EleNão, e posicionamentos nas redes sociais pelos quais a homenageei com a alcunha de ‘A Esquerdista do Ano’, hoje foca as postagens e vídeos na candidatura a prefeita, em filiações, problemas da cidade, pautas locais e, para ouvir críticas da professora a Jair Bolsonaro, Sérgio Moro, Vaza Jato & Cia., por exemplo, só ‘ao vivo’.
É estratégia eleitoral, por óbvio. Um pouco mais suave, mas análoga àquela que descrevo como (e com a qual Anabel já concordou em entrevista), ‘atrás do muro’, do também candidato a prefeito Dimas Costa (PSD). Aguardemos se muda até 2020. Hoje, por exemplo, tinha postagem condenando o golpe militar na Bolívia…
Já Rosane Bordignon (PDT), que será vice de Anabel, exacerbou o método em declarações, e suas conseqüências, que apresentei nos artigos PT só tem ladrão e defensor de ladrão, diz Rosane Bordignon; os perigos desse discurso e PT responde Rosane Bordignon; Irmã Dulce não, né?.
Sob mais um teste da fama de ‘Grande Eleitor’ em 2020, Daniel Bordignon (PDT) também parece evitar manifestações públicas a favor ou contra Lula. Balança a experiência de sempre ter feito votos para além do PT e, agora, do PDT.
Quem talvez entregue seu coração e mente é a filha, Danielle Bordignon. A advogada tuitou, após a soltura de Lula, “eu e meu pai estávamos em uma palestra quando o Lula saiu; acompanhamos pelo celular, de mãos dadas e olhos marejados”.
Tuitada que certamente carrega a experiência da família com as condenações de Bordignon, que o levaram a ‘pedir música no Fantástico’ em impugnações de candidaturas. Nenhuma condenação criminal, como Lula, mas todas questionáveis: se no ‘caso do triplex’, o próprio Moro e o TRF4 admitem a condenação do ex-presidente mais pelo ‘domínio do fato’ do que por provas robustas, o ex-prefeito foi condenado por um convênio de R$ 6 mil, pelo qual depois foi absolvido, e teve os direitos políticos suspensos por cinco anos pela contratação considerada irregular de funcionários, entre eles, como recorda o próprio, de “médicos e professores”, e todas por meio de projetos aprovados pela Câmara de Vereadores.
Pesa também Anabel, Rosane e Bordignon estarem no PDT, partido de Ciro ‘O Lula tá preso babaca’ Gomes, desde a volta de Paris após o segundo turno da eleição em que Jair Bolsonaro foi vitorioso, sempre presente nas manchetes ao criticar o ex-presidiário mais famoso do Brasil.
Fato é que, como os três sempre se referem ao ‘Partido Histórico’, um ente impalpável que reuniria forças de centro-esquerda, nem falando em voz alta para convencer alguém de que seus legados, ideologias e projetos estão dissociados do ‘lulismo’.
2.
Outro ex-petista, Dimas Costa, como já referi, anda ‘atrás do muro’ desde as eleições presidenciais. A expectativa é como o vereador colocará a cabeça para fora na eleição de 2020 com a provável radicalização do ‘nós contra eles’, ‘petralhas’ contra ‘bolsominions’.
É que o vereador Evandro Soares (DEM), número 1 para ser seu vice, é o ‘cara’ de Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil do governo Bolsonaro. Apesar da discrição e moderação alheias ao bolsonarismo, Evandro postou vídeo, vestido com camiseta da CBF e verde amarelo, em frente à Prefeitura, comemorando a vitória no segundo turno, como tratei em Eu sou mais Bolsonaro que você.
Guinada a direita, posso apostar, que Dimas não dará. Ou não entra em casa, já que a companheira Anna Beatriz da Silva, hoje conselheira tutelar e em 2020 candidata a vereadora, foi, é e será #EleNão.
Como Dimas suportará a pressão para ‘ter lado’, seja de eleitores ligados à esquerda, principalmente ao funcionalismo, alvo da nova PEC de Bolsonaro, ou de fanáticos do bolsonarismo que lhe apoiam, muitos reis da fake news nas redes sociais gravataienses, e que são muitos?
3.
O governo Marco Alba ainda não confirmou o candidato a prefeito. Levi Melo, Jones Martins e Luiz Zaffalon são os nomes mais falados, tanto entre governistas, quanto oposicionistas.
Mesmo que nos congressos nacional, estadual e municipal de 2019 o MDB tenha se auto-definido como “centro”, é difícil, em Gravataí, o partido se equilibrar no alto da ferradura. Se a eleição convocar para o ‘nós contra eles’, é possível prever reações com base no histórico de seus principais políticos, além da estratégia eleitoral.
Jones Martins anda mais suave, principalmente após a convivência com o estilo ‘estadista’ de Michel Temer, do qual integrou a tropa de choque como deputado federal por um ano e meio, e a quem já chamava “Michel”. Mas é o mesmo político que, na inauguração da UPA da 74 e na festa da vitória de Marco’, gritava “canalhas, canalhas, canalhas” aos ‘petralhas’, para desespero do prefeito que tinha feito a campanha com bandeiras brancas decorando o comitê.
Quem o conhece sabe que o advogado, mesmo tendo trabalhado com o MDB no Ministério da Saúde do governo Dilma Rousseff (PT), não economizaria críticas aos ‘petralhas’ em uma radicalização da campanha.
É a mesma experiência pela qual passou Zaffalon, que em entrevistas e notas enviadas a este jornalista no pós-golpeachment contra a prefeita Rita Sanco (PT) e até a vitória de Marco Alba em 2012, usava e abusava da expressão ‘petralhas’, até o prefeito, buscando governar sem polêmicas ideológicas, pedir para o então gerentão do primeiro governo dar uma acalmada no vocabulário.
Se o ‘petralha’ ficou no passado, nas idéias e postagens Zaffa sempre foi, e segue crítico a Lula, ao PT, ao STF & Cia. Nas redes sociais, dos três prefeituráveis é o que faz ataques mais fortes à ‘esquerda’.
Já Dr. Levi, que só será o candidato se voltar ao MDB, é hoje presidente do Republicanos, partido cujo sobrenome é ‘Igreja Universal do Reino de Deus’ e que, apesar de participar dos governos petistas, como o MDB, ocupa hoje ministérios e seus deputados e senadores estão entre os mais fiéis ao presidente.
Mas a nuvem guarda o médico com o rosto pintado, vestido de verde amarelo, ao lado da esposa Jucelei, no Parcão, apoiando o impeachment de Dilma. Segue antipetista, no segundo turno da campanha apoiou Bolsonaro, mas nas falas e postagens lembra mais o estilo do colega de profissão Geraldo Alckmin, presidenciável do PSDB na última eleição.
Que a estratégia da campanha será conduzida por Marco Alba, ninguém duvida, e já mede em pesquisas o humor dos eleitores. Em 2018, diferente da vontade da primeira-dama Patrícia Alba de colar em Bolsonaro já no primeiro turno, quando era candidata a deputada estadual, Marco Alba segurou o MDB, que tinha Henrique Meirelles como candidato a Presidência da República, e só abriu apoio oficialmente no segundo turno em Gravataí.
Com a vitória, o deputado federal Osmar Terra, o político gaúcho hoje mais próximo do prefeito e da primeira-dama, assumiu como ministro, mas neste momento enfrenta uma crise com os filhos do presidente após ser desautorizado em nomeações na área da cultura.
Entre ‘bandeiras brancas’ e ‘minha bandeira nunca será vermelha’, pode ser uma senha algo que o prefeito repetiu em discursos antes da soltura de Lula, inclusive na inauguração das novas pontes do Parque dos Anjos:
– Tem quem defenda presidiário, quem quer solto.
4.
Por fim o PT, porque apesar do óbvio benefício de Lula Livre para o discurso de candidatos e militantes, eleitoralmente o partido não deve escapar de um novo ‘golpe das urnas’ em Gravataí, como em 2017, quando o candidato a prefeito Valter Amaral fez menos votos que Rafael Linck, do PSOL.
Talvez um ganho mútuo seja uma aproximação entre os dois partidos. Guilherme Boulos, presidenciável psolista, abraçou Lula no primeiro palanque após a saída da solitária em Curitiba.
5.
O PSL, ao que tudo indica, não terá candidato.
Analiso.
Ao fim, pelo menos neste momento, e para os candidatos com chance de eleição, não parece bom para ninguém em Gravataí aderir a um dos lados da ferradura.
Nem para os que defendem o legado do passado, nem para os que defendem o legado do presente e nem para os que vendem a esperança.
Até porque o ‘nós contra eles’ é uma possibilidade, mas não uma certeza, principalmente para os que lembram, e viveram, o ‘Lulinha Paz e Amor’.
A Rede Globo já deu o tom huckiano, alertando para os riscos da ‘radicalização’.
Mas que em 2020 o eleitor vai querer saber o que pensa cada um, aposto que sim.