No artigo Por que Marco Alba é um pai para quem assumir Gravataí já tratei sobre ajustes, por vezes impopulares, feitos pelo prefeito nas contas públicas. Porém, mesmo se tratando da personagem singular, não é de se esperar que o desgaste de adaptar para Gravataí as alterações da reforma da previdência seja assimilado pelo atual governo que, afinal, apagará as luzes, possivelmente, 18 meses após a aprovação da proposta de emenda constitucional na Câmara e no Senado Federal.
Numa sondagem informal, adianto que os políticos pedirão ao prefeito para deixar a responsabilidade com o/a próximo/a a sentar, a partir de janeiro de 2021, na cadeira principal do palacinho ocre da José Loureiro.
Com uma base de 11, em 21, Marco poderia tentar aprovar as mudanças, mas ouviria de seus vereadores o alerta de que poderiam colocar em risco suas reeleições. Essa é a bomba que o Congresso Nacional deixa armada para governadores e deputados; prefeitos e vereadores. Normal na mais antiga das profissões, um óbvio estratagema para atingir subterfúgios aprovado por uns quantos deputados que querem dividir o desgaste com adversários em suas bases eleitorais.
Para medir o custo político, a projeção da área econômica do governo, com base em cálculos da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), é de que Gravataí reduza o déficit previdenciário de R$ 2,3 milhões por mês para entre R$ 700 mil a 800 mil.
Seria preciso mexer no bolso dos servidores, principalmente na aposentadoria dos professores, a grande maioria mulheres, o que provoca um impacto de 30% nos recursos para previdência municipal.
Caso a reforma passe no Congresso, professoras poderão se aposentar com 57 anos e professores, com 60, regra igual para rede pública e privada. Hoje, não há idade mínima na rede privada, mas é exigido tempo mínimo de contribuição. No setor público, a idade mínima nas regras atuais são 50 anos (mulheres) e 55 (homens).
Conforme a PEC final aprovada, ainda pode ser facultado ao município dividir com o funcionalismo a alíquota complementar para custear o déficit atuarial, hoje bilionário e arcado apenas pela Prefeitura, em uma contribuição que para garantir as aposentadorias em 15 anos praticamente custará uma nova folha de pagamento, para além dos 15% que o governo municipal já desconta da parte patronal.
Para novamente trazer à baila o custo político, os servidores vivem um fim de mês perpétuo, com quatro anos sem reajuste e já colaboram com o Ipag no teto de 14% autorizado pelo Supremo. Para efeitos de comparação, é de 11% a alíquota dos servidores para o Iprec, o instituto de previdência de Cachoeirinha.
Mas, Printe & Arquive na Nuvem: há também o risco de um custo político semelhante ao que aconteceu com a reforma trabalhista, vendida como solução para um desemprego que só aumenta. Agora, a reforma da previdência é a nova pedra fundamental da economia brasileira, a desculpa para tudo aquilo que parece não haver risco de dar certo no atual governo.
Quem serão os vilões, os culpados de sempre, quando a campanha midiática apresentando a reforma como a ‘caçadora de marajás’ parir uma tragédia social custeada por pobres e miseráveis?
Um vídeo do genial Eduardo Moreira é didático, é 'ideologia dos números' no Grande Tribunal das Redes Sociais. Antes de alguém metralhar o teclado p-e-t-r-a-l-h-a ou c-o-m-u-n-i-s-t-a apresento-o:
(…)
É formado em engenharia pela PUC do Rio de Janeiro e estudou economia da Universidade da Califórnia de São Diego, onde foi eleito o melhor aluno do curso dos últimos 15 anos (GPA 4.0). Trabalhou no Banco Pactual até 2009 onde foi sócio responsável pela área de Tesouraria.
Em 2009 junto a outros sócios fundou a empresa Brasil Plural e criou a Genial investimentos.
Em 2013 Eduardo foi eleito pela revista Época Negócios um dos 40 brasileiros de maior sucesso com menos de 40 anos e em 2016 votado pela revista Investidor Institucional como um dos 3 melhores economistas do Brasil.
Escreveu 8 livros, entre eles o bestseller Encantadores de Vidas, livro que atingiu o primeiro lugar em todas as listas de mais vendidos do Brasil.
Em 2015 formou-se como roteirista pela New York Film Academy e em 2017 estreou como dramaturgo ao escrever a peça infantil Branca de Neve e Zangado, sucesso de público e crítica.
Eduardo foi colunista da revista Exame.
Em 2012 foi o primeiro brasileiro a ser condecorado pela Rainha Elizabeth II em Londres.
(…)
Reproduzo o vídeo ao final do artigo. Antes trago números. Aprecie a cronologia e prepare o bolso. Se há privilégios cortados, você é o privilegiado atingido.
Aos fatos, os chatos que atrapalham argumentos:
O texto da PEC 06/2019, que você clica aqui para ler na íntegra, e não a propaganda oficial, mostra que a economia de R$ 1 trilhão em 10 anos será dividida assim:
1.
R$ 715 bilhões com o RGPS, o regime geral de previdência social, o INSS dos ‘mortais’, cujo teto é de R$ 5,8 mil, 90% ganha até 3 salários mínimos e onde estão as aposentadorias rurais, 98% delas de um salário mínimo ou menos.
2.
R$ 173 bilhões com alterações nas regras do RPPS, o regime de previdência dos servidores públicos federais, e outros R$ 29 bilhões em alíquotas, que aí sim, poderiam ser tratadas como corte de privilégios.
Mas, repare a diferença: 715 bilhões para os comuns, 29 bilhões para os nababos.
No cruzamento das tabelas tem mais. Leia com a paciência de quem teve a sorte de se aposentar bem, como um político, funcionário público, promotor ou juiz.
3.
R$ 182 bilhões serão ‘economizados’ do corte no abono salarial, que fica restrito a quem ganha no máximo um salário mínimo, e ao BPC, benefício pago a pessoas com invalidez ou vivendo na miséria.
Você, o ‘rico’
Na ‘ideologia dos números’, 83% do trilhão de economia em 10 anos, ou 8 a cada 10 reais, virão do RGPS (os mortais do INSS) e dos deficientes e miseráveis do BPC.
Mas fica pior.
Eduardo Moreira alerta para a tabela que calcula uma economia de R$ 4 trilhões em 20 anos. A soma do regime geral corresponde a R$ 2,7 trilhão, ou uma multiplicação de 4.8 vezes. A dos miseráveis, 469 bilhões, é multiplicada por 3.6. Os privilégios? R$ 16 bilhões, metade do previsto para os primeiros 10 anos.
Assim, essa ‘ideologia dos números’ mostra que 93,5% da economia nos anos seguintes à primeira década da reforma serão bancados pelos trabalhadores do regime geral e pelos deficientes e miseráveis do benefício continuado.
– O pobre e trabalhador, em 10 anos, experimentará a impossibilidade de se aposentar – é a tradução que o economista faz, com base em dados da PEC do próprio governo.
Na página 53, item 50, a prova de que quando o privilégio é institucionalizado, a canalhice vira religião: o governo considera como ‘ricos’ aqueles que recebem R$ 2.231 de aposentadoria. Não, não são aqueles que ganham R$ 100 mil, não é o funcionário público aquele de Gravataí que apoia a reforma ganhando R$ 30 mil. No ‘posto ipiranga’, o rico ganha R$ 2.231.
A conclusão do economista é perfeita: ou você é rico e não sabe, ou você é o privilegiado que vai pagar pela reforma.
Assista e tire suas conclusões.
LEIA TAMBÉM
A eleição de 2020 e a ’Gravataí do faturo’; a ’ideologia dos números’