RAFAEL MARTINELLI

Relatório das Forças Armadas manda golpistas para ‘debaixo da cama’; A Gal Costa e o vereador mais votado de Gravataí que desconfiou da eleição

Debaixo das bombas, das bandeiras (os clarins da banda militar)

Debaixo das botas (os clarins da banda militar)

Debaixo das rosas, dos jardins (os clarins da banda militar)

Debaixo da lama (os clarins da banda militar)

Debaixo da cama (os clarins da banda militar)


É trecho da letra de Enquanto Seu Lobo Não Vem, terceira do lado B de Panis et Circencis, disco de 1968 lançado por Gal Costa, que partiu nesta quarta-feira, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé.

“Debaixo da cama” restaram aqueles que esperavam um relatório golpista das Forças Armadas sobre as eleições de 2022.

Torço Bombeiro Batista (sem partido), militar e vereador mais votado em 2020 não faça parte daqueles ‘torturados pela esperança’; e é o que prestidigita Jair ‘Jim Jones’ Bolsonaro.

Explico mais adiante o porquê de trazer para este artigo, como personagem local, o político que recebeu 12.756 votos no RS concorrendo a deputado federal, 10.958 em Gravataí.

Antes vamos às informações.

O ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, enviou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o resultado da ‘fiscalização’ do processo de votação que, nas 63 páginas, não aponta qualquer fraude eleitoral e ainda reconhece que os boletins de urnas e os resultados divulgados pelo TSE são idênticos.

Ou seja, diferente do que diga algum argentino, ou ET que baixe das luzes sobre o Rio Grande do Sul, o boletim que a urna imprimiu registrando os votos dados ao final da votação confere com o resultado da totalização divulgada pelo tribunal.

Clique aqui para ler a nota oficial do Ministério da Defesa e baixar o relatório completo.

Por que coloco aspas em ‘fiscalização’?

Porque, como escrevi ainda em julho, em O ‘conto de fardas’ da apuração paralela na eleição; Voltem aos pijamas, milicos golpistas! Forças Armadas não mandam, obedecem, associo-me ao comentarista da Globo News, Daniel Sousa, que entende que as Forças Armadas nem deveriam ter sido ouvidas no processo eleitoral.

– As Forças Armadas não têm que ser ouvidas neste processo. Não é papel delas, numa República, dar palpite sobre processo eleitoral. Dizer se o processo eleitoral deveria ser assim ou assado – disse o economista, ensinando a quem não conhece sua Constituição, a Bíblia da República:

– É sempre importante lembrar que as Forças Armadas não são um poder. Elas não são, de forma alguma, um poder revisor. Não estão no mesmo patamar do Supremo Tribunal Federal. As Forças Armadas são burocracia do Estado. Burocracia do Estado obedece, não manda. Burocracia do Estado não dá palpite.

É uma vergonha que militares de verdade, que juraram defender a Constituição, tenham permitido colegas alimentar essa aventura golpista da seita bolsonarista; quando descrevo como ‘seita’, não generalizo, mas delimito, e me preocupo, já que apenas 1% dos 58.206.322 eleitores de Jair Bolsonaro no segundo turno correspondem a quase 600 mil brasileiros.

O Exército Brasileiro tem hoje, na ativa, 360 mil homens e mulheres.

Querem mais? No fim do primeiro semestre já estavam registrados 673.818 ‘CACs’, sigla fofa para Colecionador, Atirador e Caçador.

Conforme o Decreto 9.846/2019, tara de Bolsonaro, por dez anos esses brasileiros tem o direito de adquirir até 60 armas de fogo – desde revólveres de baixo calibre a fuzis de repetição – e até 180 mil cartuchos de munição anualmente.

Voltemos ao Bombeiro.

João Batista Pires Martins é hoje um político, já que abriu mão da carreira militar. Mas usa a alcunha de Bombeiro na urna eletrônica.

Reproduzo o que ele tuitou. Instiguei-o comentando no post. Restei no vácuo. Abaixo, sigo.

Bombeiro tem 45 anos. Novo para a política. Nada novo para a carreira militar, onde nossos heróis se aposentam cedo, mas tempo suficiente para, como atesto na década que o conheço, amar pertencer a uma categoria auxiliar das Forças Armadas.

É por isso que não entendo compactuar ele com o rebaixamento das Forças Armadas às aventuras políticas, por vezes tão rasas quanto um cuspe no chão.

Constrange-me mais ainda esse Twitter, que reproduzo e, abaixo, sigo.

Agarro-me, talvez pelo bairrismo, ao entendimento de que Bombeiro, que napoleão de hospício sei não é, tem tara por caçar-cliques, ou é ingênuo, e acha mesmo que estamos diante, apenas, de uma comoção popular, já que, é inegável, tem muito povo nestes atos antidemocráticos. Acontece que promotores do Ministério Público de diferentes estados já comunicaram ao TSE de Alexandre de Moraes nomes dos patrocinadores político-empresariais.

Amigo Bombeiro, um ganhou, outro perdeu. Os EUA, a China, a França, a Alemanha e o Paraguai já reconheceram. Até o PL, partido do candidato derrotado, logo após garantir ao presidente de turno mansão e salário, já comunicou que vai fazer “oposição”. Num exercício de lógica, só há oposição quando há governo.

Assuma sua responsabilidade com a democracia, João! Gostem ou não do senhor, és um símbolo para a Câmara de Vereadores de Gravataí, por ter sido o mais votado.

Foste, como reconhecimento ao tamanho que ganhou nas urnas eletrônicas, lançado candidato a prefeito de sua Gravataí, como reportei em Loucura, loucura, loucura!: ‘Vereador do Lula’ lança ‘Vereador do Bolsonaro’ a prefeito de Gravataí; A sopa reacionária e Vereador Cláudio Ávila se filia ao União Brasil e Bombeiro é convidado para concorrer a prefeito de Gravataí; Deadpool ganha desfiliação.

Ao fim, reputo se a política foi atirada no lixo pelos políticos, os militares estão fazendo o mesmo.

Parafraseando o som da Gal, que citei na abertura do artigo, “o lobo não veio”.

E, se viesse, ganharia não mais que um pijama e uma pantufa.

Um atestado de ‘dezoitão’, talvez.

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