Emoção!
A palavra sai quase que ao mesmo tempo e é a escolhida por dois experts em fotografias, ou amantes da arte de fotografar, para definir o que nada mais é do que um hobby que eles adotaram para os momentos de lazer: o registro em imagens para reproduzir e guardar para a posteridade os fatos do cotidiano, o contorno dos casarios, os sorrisos das pessoas e – por que não? – seus momentos de tristeza, festas, alegrias e as promoções e eventos da cidade…
Os dois são figurinhas ‘carimbadas’ da aldeia dos anjos.
Um é Jorge Tafras – que recebeu o Seguinte: em seu apartamento no bairro Dom Feliciano – com 53 anos, aposentado da multinacional e pujante Dana que tem sede no Distrito Industrial de Gravataí. Morando sozinho, mas namorando, é pai do Rafael, de 20 anos.
O outro é Júlio Barbosa dos Santos Júnior, o popularíssimo Julinho Barbosa, um aposentado que fez de tudo ao longo da vida, casado há 40 anos, pai de três filhos e avô de um neto. Um aficionado por fotografia desde sempre, garante.
: Jorge Tafras fez questão de registrar com selfie o encontro com o Seguinte: para um bate-papo sobre… fotografia! A partir da esquerda: Tafras, Júlio Barbosa, Guilherme Klamt e Silvestre Santos
Gostos distintos
Embora a palavra emoção seja a escolhida por ambos para definir o que sentem em relação à fotografia, Tafras e Barbosa são distintos. O primeiro até chegou a usar uma máquina fotográfica convencional, mas agora emprega o próprio celular – que tem câmera de alta resolução – e um tablet para fazer e armazenar fotografias.
O segundo, Julinho, é mais tradicional. Até alguns anos atrás usava máquinas convencionais, do tipo analógica, daquelas em que se punha bobinas de filme. Viu-se pressionado há algum tempo a adotar máquinas digitais. Mas é daqueles que se apega ao equipamento, tanto que a máquina atual está cheia de remendos, e ele hesita em trocá-la.
A fotografia, entretanto, para os dois e cada um ao seu estilo, é uma forma de eternizar momentos, situações, acontecimentos… Jorge Tafras gosta mais de registrar pessoas, mas não se furta em clicar quando a situação se oferece como um ângulo diferente da cidade, esquinas ou casas e lojas que já não existem mais.
Ele vai lá, resgata a foto antiga e busca o mesmo ângulo para fotografar nos dias atuais e mostrar o que agora existe no lugar. Depois, publica ou guarda ambas, digitalizadas. Tafras, alias, é moderador do grupo “Remember Gravataí”, voltado a contar a história da cidade “mostrando também os moradores de ontem, hoje e sempre”.
Júlio Barbosa – que se intitula ‘retratista’ ao invés de fotógrafo, e fala que bate retratos no lugar de fotografar – saltou dos filmes de 36 poses, que usava no máximo três dependendo da grandiosidade do acontecimento, da festa, ou da disponibilidade e vontade de tempo para registrar alguma coisa.
Agora, em uma festa em que ‘bateria’ cerca de 60 ‘chapas’, talvez 100, é comum armazenar mais de 300 fotografias no cartão de memória do seu equipamento digital. E o gosto pela foto despertou em Júlio Barbosa, segundo ele mesmo diz, por causa de suas frustrações de infância.
— Da época em que eu era escoteiro, lá pelos meus 13 ou 14 anos, tenho, se não me engano, apenas três fotografias. Da minha passagem pela Banda Marcial Dom Feliciano, onde toquei 10 anos, tenho só uma foto. E essa é uma preocupação que eu tenho, que as pessoas tenham seus momentos registrados — diz Julinho.
Antiga e digital
Barbosa não faz distinção quanto à importância da fotografia antiga, em preto e branco e impressa no papel em relação às de hoje, digitalizadas e armazenadas não em um álbum físico, de cartão especial revestido às vezes com couro, mas guardadas virtualmente em cartões de memória ou em hard disk, os HDs, ou discos rígidos dos computadores.
— Todas as duas formas têm a mesma importância — garante.
Jorge Tafras concorda.
— A foto digital facilita a distribuição através da internet, e o romantismo da fotografia antiga se dá pelo resgate do passado, das raízes das pessoas.
Ambos também estão de acordo no que se refere às vantagens oferecidas a partir do avanço da tecnologia. Enquanto os equipamentos do passado e que permitiam apenas o registro sem cores, evocavam na pessoa que olhava as fotos o sentimento até de sabores e odores, os atuais se destacam pelos incontáveis recursos que oportunizam.
— O aparelho antigo, a foto antiga, em preto e branco, simbolizam a pureza, valores pessoais, as questões mais humanas e sentimentais. A minha impressão é que hoje a gente apenas produz fotos, a gente faz coloridos, modificamos e tiramos a naturalidade delas para que as fotos fiquem o mais bonito possível. Usamos os chamados recursos de edição que a tecnologia nos permite — diz Jorge Tafras.
PARA SABER
1
Júlio Barbosa tem arquivadas entre 150 mil e 160 mil fotos digitalizadas. Ele não arrisca dizer quantas fotos possui das antigas, impressas em papel.
2
Jorge Tafras diz que tem cerca de 22 mil fotografias. São imagens que produz com seus equipamentos ou que captura da internet para arquivar, guardar para a posteridade.
Foto é cultura, é história?
Tafras:
Sem dúvida alguma, com certeza. É história, cultura, aprendizado…
Barbosa:
Com certeza. Fotografia é vida, só é história e cultura.
Fala, Tafras!
— A fotografia não vai morrer por mais que a tecnologia evolua. As fotos, com o passar do tempo, estarão cada vez mais ao dispor das pessoas, poderão ser mais facilmente acessadas independente da idade ou condição econômica destas pessoas. Uma coisa interessante: Sou plenamente a favor da grande quantidade de fotos que a tecnologia permite, mas que dentro dessa grande quantidade exista uma boa qualidade, que as pessoas tenham cuidado para alcançar uma boa qualidade daquilo que querem mostrar para os demais.
Fala, Barbosa!
— A única coisa que me preocupa, hoje, e nisso não vai nenhuma condenação a quem quer que seja até porque na minha família se faz isso muito, também, diz respeito à banalização da exposição. A facilidade com que se faz uma fotografia, banaliza a exposição das pessoas. Todo mundo, a primeira coisa que faz quando chega numa festa por exemplo, é a tal de selfie para postar no Facebook.
HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA
1
A primeira fotografia reconhecida remonta ao ano de 1826 e é atribuída ao francês Joseph Nicéphore Niépc. Contudo, a invenção da fotografia não é obra de um só autor, mas um processo de acúmulo de avanços por parte de muitas pessoas, trabalhando, juntas ou em paralelo, ao longo de muitos anos.
2
A fotografia não é a obra final de um único criador, ao longo da história, diversas pessoas foram agregando conceitos e processos que deram origem à fotografia como a conhecemos. O mais antigo destes conceitos foi o da câmara escura, descrita pelo napolitano Giovanni Baptista Della Porta, já em 1558, e conhecida por Leonardo Da Vinci que a usava, como outros artistas no século XVI para esboçar pinturas.
3
O cientista italiano Angelo Sala, em 1604, percebeu que um composto de prata escurecia ao Sol, supondo que esse efeito fosse produzido pelo calor. Foi então que, Johann Heinrich Schulze fazendo experiências com ácido nítrico, prata e gesso, em 1724, determinou que era a prata halógena, convertida em prata metálica, e não o calor, que provocava o escurecimento.
4
A primeira fotografia reconhecida é uma imagem produzida em 1826 pelo francês Joseph Nicéphore Niépc, numa placa de estanho coberta com um derivado de petróleo fotossensível chamado Betume da Judeia. A imagem foi produzida com uma câmera, sendo exigidas cerca de oito horas de exposição à luz solar.
5
Nièpce chamou o processo de "heliografia", gravura com a luz do Sol. Paralelamente, outro francês, Daguerre, produzia com uma câmera escura efeitos visuais em um espetáculo denominado "Diorama". Daguerre e Niépce trocaram correspondência durante alguns anos, vindo finalmente a firmarem sociedade.
NO BRASIL
: No Brasil, o francês radicado em Campinas (São Paulo), Hércules Florence, conseguiu resultados superiores aos de Daguerre, pois desenvolveu negativos. Contudo, apesar das tentativas de disseminação do seu invento, ao qual denominou "Photographie" – foi o legítimo inventor da palavra – não obteve reconhecimento à época. Sua vida e obra só foram devidamente resgatadas em 1976 por Boris Kossoy.
: A fotografia popularizou-se como produto de consumo a partir de 1888. Foi quando a empresa Kodak abriu suas portas com um discurso de marketing segundo o qual todos podiam tirar suas fotos, sem necessitar de fotógrafos profissionais, com a introdução da câmera tipo "caixão" e pelo filme em rolos substituíveis, criados por George Eastman.
: A partir daí o mercado fotográfico experimentou uma crescente evolução tecnológica, como o surgimento do filme colorido como padrão e o foco automático, ou exposição automática, nas máquinas fotográficas. Essas inovações facilitaram a captação da imagem, melhoraram a qualidade de reprodução e a rapidez do processamento, mas muito pouco foi alterado nos princípios básicos da fotografia.
DIGITALIZAÇÃO
: A grande mudança foi mais recente, produzida a partir do final do século XX, com a digitalização dos sistemas fotográficos. A fotografia digital mudou os paradigmas no mundo da fotografia, minimizando custos, reduzindo etapas, acelerando processos e facilitando a produção, manipulação, armazenamento e transmissão de imagens pelo mundo.
Maior câmera
No início do século XIX, o fotógrafo e pesquisador George Raymond Lawrence criou a maior câmera fotográfica do mundo, a Câmera Mamute. Com mais de quatro metros de comprimento e pesando 640 quilos, o enorme artefato foi desenvolvido a pedido da companhia ferroviária Chicago & Alton Railway, exclusivamente para fazer o registro da locomotiva “The Alton Limited”, um grande símbolo do desenvolvimento ferroviário americano.
Primeira imagem
A maioria dos historiadores datam que em 1826, Joseph Niépce conseguiu efetuar a primeira fotografia do mundo, hoje conhecida como Point de Vue du Gras. A foto foi tirada da janela da casa de Niépce. Atualmente a casa é um museu histórico de fotografia.
Confira no video abaixo a conversa de Jorge Tafras e Júlio Barbosa, com a reportagem do Seguinte:, sobre a fotografia de antes e de hoje.