Um governo de conciliação de forças “por Gravataí”. Assim o prefeito pré-candidato à reeleição Luiz Zaffalon apresentou o projeto que lidera ao lado do vice Dr. Levi Melo na convenção do PSDB, que superlotou a Câmara de Vereadores e chegou a trancar a Av. José Loureiro da Silva, na noite desta quarta-feira.
Além de confirmada a chapa Zaffa-Dr. Levi e uma coligação com 11 partidos, 14 vereadores e 200 pré-candidaturas ao legislativo, o ato político foi palco para anúncio de que Dimas Costa (PSD), que desistiu da candidatura para apoiar a reeleição, assumirá nos próximos dias como deputado estadual.
Reportei em tuíte ontem, que motivou postagem de Rosane Oliveira, em GZH, sobre mudanças no governo e na base do governo Eduardo Leite na Assembleia Legislativa.
O frentão reúne os partidos PSDB, Podemos, Republicanos, PP, União Brasil, PSD, PL, Cidadania, Novo, PRD e PRTB e os vereadores Alex Peixe, Bino Lunardi, Clebes Mendes, Marcia Becker, Demétrio Tafras, Carlos Fonseca, Dilamar Soares, Evandro Coruja, Roger Correa, Claudio Ávila, Fernando Deadpool, Bombeiro Batista, Fábio Ávila e Anna Beatriz da Silva.
– Desde a ruptura em 2011 é um projeto multipartidário, unido até hoje sob o comando de Zaffa e Levi – disse Régis Fonseca, secretário da Saúde durante todo governo e presidente do Novo, relembrando a chegada do grupo político à Prefeitura de Gravataí após o golpeachment contra a prefeita Rita Sanco (PT).
– Os partidos de direita e centro estão na coligação – disse também, numa das poucas ‘ideologizações’ da convenção, que ocorre na sequência de almoço de Zaffa com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a adesão de Cláudio Ávila (UB), que ganhou a eleição de 2016 como vice de Daniel Bordignon (PT) e foi o ‘vereador do Lula’ ao defender o então presidiário, e, no maior movimento da eleição 2024, de Dimas, ex-petista e hoje ‘embaixador do governo Leite’.
Após Régis, apenas José Capaverde, presidente municipal e da juventude estadual do PL municipal, que assumiu a Secretaria de Governança, Comunicação e Cultura após o partido de Bolsonaro abrir apoio a Zaffa, desviou do ‘nem-nem’.
– Nos orgulha Zaffa ter estado com a gente no palanque de Bolsonaro – lembrou, sem provocar reação da platéia sobre apoio do prefeito em 2018 e no primeiro e segundo turno de 2022.
O restante dos discursos enalteceram as realizações do governo nos quatro anos e sete meses, e a capacidade de articulação de Zaffa na formação do frentão batizado de “Gravataí Melhor”.
– É o melhor prefeito da História de Gravataí – disse Fábio Pereira, presidente do UB do vereador Fernando Deadpool, que, oriundo da oposição, no lançamento da pré-candidatura de Zaffa disse: “é difícil fazer oposição ao senhor, chefe”.
Vereador mais votado e presidente do Republicanos, Bombeiro Batista lembrou diálogo seu com Zaffa para entrada no governo.
– Vamos mexer na ERS-020, perguntei. Ele se comprometeu e hoje mudou meu bairro, assim como muda a cidade – disse, sobre o anúncio da duplicação da rodovia municipalizada.
– Estava presente no pior momento, sabe usar botas, não é daqueles que aparece só na hora de pedir votos – provocou, sobre a presença de Zaffa nas ruas durante a enchente de maio.
– Vivo o momento mais feliz da minha vida política, e feliz também por estar ao teu lado – disse Dimas, uma das estrelas da noite ao ser apresentado como deputado por Zaffa, pelo líder do PSDB na Assembleia Legislativa Valdir Bonatto (PSDB) e por Flavio Vargas, assessor de Gaúcho da Geral (PSD), que aceitou assumir secretaria no governo Leite e permitir que o gravataiense, que é primeiro suplente, ocupe sua cadeira na AL.
Lembrando pedido de Leite, feito há seis meses, para dialogar com Zaffa, Dimas disse “não ser fácil desistir de uma candidatura”, mas ter sido conquistado pelo “jeito de ser” do prefeito.
– Estávamos acostumados com prefeitos que não ouviam. Tentei trazer 2 milhões em emendas para o hospital e o ex-prefeito não aceitou. Não interessava a cidade, salvar vidas, só interessava que eu ia aparecer, e não podia. Para Zaffa, se é bom para Gravataí, não importa quem trouxe os recursos – disse, sobre supostamente não ter sido recebido por Marco Alba (MDB).
Animal político, Dimas, que olhando para Zaffa e a primeira-dama Marlene referiu-se a Leite como “nosso grande líder político”, assim como fez em sua convenção inscreveu como personagem no cenário eleitoral Davi Servergini, secretário da Fazenda e coordenador político de Zaffa.
– É o maior articulador que vi nesta cidade – disse, atribuindo ao tucano a construção da megacoligação.
– Vereadores, ele é de Três Passos, merece um título de cidadão de Gravataí pelo que está fazendo no governo – instigou, provocando reações entre políticos que, nos bastidores, já começam a observar Davi como uma aposta futura em uma cidade na qual os três candidatos a Prefeitura tem 72 anos (Zaffa) e 65 Bordignon e Marco.
Segundo colocado na primeira eleição que disputou para Prefeitura em 2020, Dimas apelou para que pré-candidatos à Câmara levem Zaffa, “que alguns ainda não conhecem”, aos bairros e vilas.
Reconhecido por saber fazer campanha de rua, Dimas já tinha almoçado ontem com Zaffa no Restaurante da Gringa, na 72, e hoje tomou café com o prefeito na padaria Braun, ao lado do líder do governo Clebes Mendes (PSDB), do bolsonarista-raiz Capaverde e do comunicador Chico Pereira, que dá os furos positivos do governo.
Após um discurso de Dr. Levi que focou em avanços na saúde, como a reforma de 10 postos de saúde e as novas UTI e Emergência SUS do Hospital João Becker, Zaffa trabalhou a narrativa da “conciliação de forças” para manter “Gravataí como a melhor cidade para investir e morar”, mas também com críticas e respostas aos adversários.
– Perguntam: como fazer o que fazemos em Gravataí? Com responsabilidade fiscal e uma vez por semana batendo tambor, conferindo obra por obra – disse, lembrando a experiência de 50 anos em cargos executivos no serviço e público e iniciativa privada, em obvia resposta às críticas de Marco Alba, na convenção do MDB, sobre ter reduzido endividamento de 62% para 20%, e o atual governo já chegar aos 50%.
– Investimos 260 milhões sem atrasar obras. E enfrentando efeitos econômicos de um ano de pandemia, onde contávamos corpos mas não deixamos ninguém para trás, e quatro, cinco eventos climáticos, em que precisamos reconstruir a cidade – disse.
Zaffa listou exemplos de “ouvir, de verdade, a sociedade”.
– O “Toca, Zaffa” não é por acaso. É porque ouço as pessoas e coloco em prática. “Toca”, digo – explicou, lembrando quando em 2012 ouviu do empresário Décio Becker, dono da metalúrgica Carlos Becker, do Cerâmica Atlético Clube e que entre 2005 e 2008 foi vice-prefeito de Sérgio Stasinski (PT), presente à convenção, a sugestão para construir uma política para a causa animal com a filha, ativista e hoje vereadora Márcia Becker (PSDB):
– Alguns disseram: é filha do Décio, que foi vice de não sei quem. Vai trazer essa gente para cá? Ouvi a sugestão, o prefeito Acimar (da Silva) autorizou e fizemos uma guerra em Gravataí, mas transformamos a cidade em um modelo nacional de bem-estar animal. Ouvir a sociedade é isso.
Notório ‘sincericida’, citou também a relação com Cláudio Ávila, que levou uma escola de samba à convenção.
– Foi dele projeto para vagas em creches. Nem gosto muito desse cara, já brigamos muito, mas era bom para as crianças. Toca.
Zaffa lembrou também recursos destinados por Danrlei de Deus (PSD), que chamou de “deputado federal de Gravataí”, em articulação de Dimas.
– Me diziam: “tira esse Dimas do circuito”. Não. Se tem recursos para saúde, tamo junto. Macartismo em Gravataí, não! Isso é coisa dos anos 50. Ouço até quem me critica. Quem sabe das necessidades da cidade é a sociedade – disse, sobre movimento estadunidense do pós-guerra, uma ‘patrulha anticomunista’ que perseguia políticos, artistas e pessoas comuns identificadas como “segunda ameaça vermelha”, como supostos espiões da então União Soviética, pela seita do senador republicano Joseph McCarthy.
Zaffa também disse ter “coragem” para mudanças polêmicas, como nas praças centrais.
– Via da janela da Prefeitura o Centro morrendo às 18h. Precisava fazer algo. Apanhei muito por cortar árvores. Hoje todo mundo tira selfie ali – disse, em provável referência a um dia após Bordignon tem criticado a obra em seu aniversário a pré-candidata a vereadora e estrela do PSOL Tamires Paveglio postar stories com a filha no, como adversários fizeram circular pelas redes antisociais, “templo do capitalismo” da aldeia.
– Contrariamos todos os donos da razão. Todos brigaram com o vice. Quando fechei a porta da briga, anunciei “Levi é meu vice” – disse, sobre o rompimento com Marco Alba, a III Guerra Política de Gravataí.
– Alguns prometeram vice para uns quantos por aí. Os gênios da política também falham – disse, certamente se referindo a fama de Alba de ser o ‘pelé da política’ da aldeia.
Outra suposta referência a Alba, identificável pela cronologia do tempo, Zaffa fez ao dizer ser candidato à reeleição por “ainda ter muito a fazer”.
– Por dois anos carreguei uma mala. Fui cortando.
Ao fim, reputo que o ‘bem-vindo à política’ – expressão que eu usava no Seguinte: para instigar o prefeito a cada revés após alçar vôo solo sem seu ‘Grande Eleitor’ de 2020 – resta no passado.
O tamanho da convenção e do frentão que construiu e classifica como “maior coligação da História de Gravataí”, mesmo que caracterizado por um estreitamento de inimizades políticas, mostram que Zaffa chega forte na eleição.
Desconhecido não será mais, como em sua eleição, na qual saiu de 1% nas pesquisas para 51,3%. Terá um exército pedindo votos nas ruas. As urnas mostrarão se o ‘Toca Zaffa’ vai tocar os eleitores, naquela que se inscreve como uma das maiores disputas eleitorais na aldeia, a lhe garantir mais quatro anos, como tiveram os populares Marco Alba e Daniel Bordignon.
Assista mais sobre o evento e o discurso de Zaffa no vídeo produzido pela SEGUINTE TV