olimpíadas

Sem clima para festa

Eu sempre fui apaixonado por Olimpíadas. Lembro da carreata em Gravataí que conduzia o ouro olímpico de Paulão, filho da aldeia, em 1992. Era novinho, mas tenho lembranças daquele grito esquisito que empurrava a Seleção de vôlei que tinha Paulão, Carlão, Pampa, Tande e outros:

– Ai! Ai, ai, ai, em cima, embaixo, puxa e vai! Ai, ai, ai!

Achava o máximo aquilo. Lembro vagamente, ainda, do dreamteam norte-americano com Michael Jordan, Charles Barkley, Scottie Pippen, Karl Malone, Magic Johnson. Na sequência, as Olimpíadas de 1996, em Atlanta, que ficou marcada na minha vida. Eu estava doente, uma pontada pneumonia que me fez perder uns vinte quilos dos poucos que já tinha na minha pré-adolescência.

Assisti os jogos deitado, sob medicação. Vi as duplas de vôlei de praia, Jaqueline e Sandra, Mônica e Adriana. A despedida emocionante do Oscar, as medalhas de ouro para a Vela, com Robert Sheidt, Torben Grael. O time feminino de basquete que levou Prata, com Hortência, Magic Paula, Marta e Janete. Meninas que também nos orgulharam com o Bronze do Vôlei de Marcia Fu, Ana Mozer, Leila (ah, a Leila…), Virna. A refugada do Baloubet du Rouet, com o cavaleiro Rodrigo Pessoa. O Kanu matando a Seleção de Ronaldo Fenômeno. Eu torcia para os dias não passar. Não queria que os Jogos terminassem.

A partir dali, se estabeleceu um amor pelas Olimpíadas. Sidney, Atenas, Pequim, Londres, até que recebemos a maior honraria do mundo esportivo, que é poder sediar os Jogos Olímpicos no seu país. No nosso cartão postal Rio de Janeiro. E eu fui notar essa semana que a minha ansiedade pelos Jogos inexistiu. Eu mal sabia que começavam essa semana. Não busquei me informar, não leio notícias acerca das Olimpíadas, não acompanhei, ainda, nenhum esporte.

Eu sinto os Jogos olímpicos no Brasil, no momento que estamos, como aquela festa que você marca com antecedência, ansioso e orgulhoso por poder ser anfitrião dos seus amigos, mas pouco antes, morre um ente querido. Não tem clima, não tem estrutura, não tem apelo, não tem interesse.

A Copa ainda empolgou porque nossa situação estava maquiada. Hoje, estamos despidos. Cada bola rolando, cada braçada na piscina, cada milésimo na pista, cada trote do cavalo, a gente vai lembrar que ali está uma obra superfaturada, um esquema de corrupção, uma forma de ter vantagem pessoal. A festa é no meu quintal e eu estou no sofá emburrado, sem querer brindar com esse pessoal de colarinho branco.

Espero que ainda possa acompanhar os Jogos com um pouco menos de culpa por ser no Brasil, por reformar o Maracanã pela segunda vez em dois anos. Por estar ali um dinheiro que é meu, é teu, é nosso. E poderia ser melhor aplicado.

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