Num rodopio, bailou no ar a última folha do calendário e desapareceu. Assim como ela, queremos que tudo o que foi difícil ou ruim também suma dos olhos. Aí poderemos dizer que foi apenas uma etapa de nossa vida. Seguimos para mais um ano e me agarro no lema de Dom Paulo Evaristo Arns: “de esperança em esperança” vamos conquistando mais uma esperança.
Gosto dos rituais que envolvem a data, exceto o jantar na meia-noite. Fazer o balanço das perdas e ganhos de 2016 é exercício e tanto! Foi ano inquieto, de muitas emoções. Derramei litros de lágrimas pelas perdas na Aldeia e no mundo, mas também presenciei belos gestos que alimentam minhas esperanças em homens e mulheres que são capazes de recomeçar, se reinventar e fazer o viver valer a pena.
E neste último dia do ano recorro ao poeta Mário Quintana, que envolveu os sentimentos em palavras para explicar a emoção, a mesma que me acompanha na espera pelo dia de amanhã. Fiquem com ele e tenham todas e todos um feliz 2017!
Esperança
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…