O repertório, que incluiu músicas da homenageada da noite e as novas canções que integram seu EP lançado no início do ano, encantou o público presente ao 7° Festival de Teatro de Gravataí (FETEG). Siga na resenha do jornalista e pesquisador musical André Valdez, especial para o Seguinte:
“Soy loco por ti América!” Vociferavam dois jovens tropicalistas que tinham em mente tomar o país de assalto ideológico e musicalmente falando. Lembrando desse brado, dessa ode à nossa latinidade, percebo o quão estamos e temos esse sangue latino, pujante e latente.
Há cerca de três anos, fui convidado por uma multi-talentosa artista da cidade para conferir de perto o trabalho da cantora. Quis o destino que nossas agendas não coincidissem, e o atraso foi inevitável. Anos depois, aqui estou para prestar essa espécie de mea-culpa literário ao talento e à força que há na voz de Tatiéli Bueno.
O reencontro com sua potente voz e presença no palco foi logo marcado pela canção “Como la cigarra”, que me arrebatou já nos primeiros acordes e fez com que eu ficasse ainda mais compenetrado para o que estava por vir. Em seguida, a icônica e esperançosa “Sólo le pido a Dios”, de León Gieco e imortalizada na voz de Mercedes Sosa, me fez refletir sobre tudo o que já vivemos e o que ainda viveremos, com uma única certeza: “Que a dor não me seja indiferente…”
O show já incia com carga emocional em alto nível para qualquer canceriano confesso. Bueno, consegue de forma brilhante dar manutenção à minha melancolia afrolatina e me leva a crer na beleza resiliente beleza da arte é o como ela é praticamente uma experiência musical imersiva, um reencontro como nosso passado, um acerto de conta com nossas próprias emoções.
O solar, o radiante e a euforia ganham vida em “Me faz bem”, música do cantautor Jorge Drexler, que além de ser gravada por Mercedes Sosa também já ganhou uma versão da cantora brasileira Luisa Possi. Mas é na voz de Tatiéli que a música é executada pela primeira vez em terras gravataienses, como ela mesmo confidenciou.
Os gaúchos pelotenses da família Ramil de uma certa forma também participam merecida homenagem a voz de quem não tem voz em duas canções que faço questão de não vou revela-las para não dar um spoiler musical. Músicas essas, que também foram gravadas pela voz da América Latina.
Voltamos então à proposta inicial do show com a emotiva “El cocechero”. O bloco seguinte é um presente para aqueles que acompanham a trajetória da artista, com três das seis canções do seu mais recente EP lançado no início do ano: o contestador “Tango Mal”, o sutil e inesperado samba “Inacabado” e a solar, empoderada e otimista “Dê bem com vida”.
A viagem imersiva latino-musical segue com “Gracias a la vida”, e o público já desempenha um papel importante e interativo em “Canción con todos”.
Bem, já sabíamos que essa viagem musical pela América Latina teria seu fim com “Dejame que me vaya”, que dava esses indícios e alertava a artista em tom de despedida.
O show, que teve a mentoria e idealização da própria artista, contou com um time de músicos craques: no piano/produção musical, Éder Bergozza; acordeom, Ezequiel De Toni; bateria, Rodrigo Zorzi; baixo, Gustavo Viegas; engenheiro de som, Edu Coelho; e luz, Fernando Choa.
Encerrando o espetáculo em grande estilo com “Maria, Maria”, música do brasileiro Milton Nascimento, que também já teve uma versão de Mercedes Sosa, decreta o fim ou início para quem esteve naquela sexta-feira de temperatura amena e nem por isso menos caliente ao ponto de todos saírem do show com que chamamos “daquele quentinho no coração” no coração de quem viu Tatiéli Bueno plena, entregue e forte no palco da 7° edição FETEG aqui na Aldeia.
O público que ovacionou a cantora, pediu e ganhou um bis… (canção que não vou revelar até que você vá ao próximo espetáculo). Até porque, isso é assunto para uma nova pauta.
Ah, antes que eu me esqueça: “SOY LOCO POR TI AMÉRICA!”