Quando eu tinha uns quatro ou cinco anos lembro do meu pai e minha mãe me acordando, em um sábado de manhã, para termos uma conversa séria sobre dormir no meu quarto. Pai sempre trabalhou a noite, chegando em casa quase de manhã. Somando isso a chegada do meu irmão mais novo, pode-se perceber que a minha ida para o quarto ao lado foi um pouco tardia. Claro que muitas vezes precisei voltar para o quarto deles no meio da noite, por motivos verdadeiramente sérios: monstros embaixo da cama ou o filme “Olhos Famintos” que meu primo fez eu assistir dizendo que era “suspense” não “terror”. Se arrependimento matasse…
Em uma das visitas do Beni ao pediatra, a médica nos dava conselhos para melhorar o sono dele, que foi muito instável no primeiro ano de vida. Quando a doutora soube que ele ainda dormia com a gente, quis saber o motivo. Andressa, com olhar aflito respondeu:
– A gente tem pena!
Com uma expressão de espanto com uma pitada de sarcasmo a médica perguntou o que de tão ruim poderia acontecer com nosso filho ao dormir no quarto ao lado e depois nos passou uma extensa lista de benefícios médicos e psicológicos que trocar o Benício de quarto traria não só pra ele, mas pra gente também. Vocês entenderam…
Saímos daquela consulta pensando no quanto havia sido esclarecedora aquela conversa e começamos a nos preparar psicologicamente para a separação. É claro que isso tudo ficou só na nossa cabeça e que ele continuou dormindo na nossa cama até ontem, quando o basta foi dado. Pintamos o quarto, redefinimos os lugares dos móveis e o berço ficou sem espaço. Pensamos de novo, em vão. O berço sobrou. O Beni sobrou.
O dia da separação chegou e precisou ser mais ou menos como arrancar um band aid. DE UMA VEZ SÓ, RÁPIDO E COM FORÇA. Fiz o Beni dormir na nossa cama, como se nada de diferente fosse acontecer e depois de adormecido coloquei ele no seu quarto, para quase dois anos depois, ser finalmente estreado.
– Não dá pra gente colocar o colchão no pé da nossa cama? – perguntou a Andressa, ainda morrendo de pena.
Antes de dormir ficamos pensando se acordaríamos com o choro dele, e lembramos do que a médica nos dissera naquela consulta: ficar ao lado dele no berço até ele adormecer novamente, jamais tira-lo de lá.
Quando acordamos, pela manhã, fomos ao quarto dele preocupados com a ausência de choro na madrugada. Lá estava o nosso bebe, dormindo feito uma pedra. Nos preocupamos, nos desesperamos para que? O Beni dormiu feito um anjo no seu quarto e nós também, no território que agora é Children Free. Até ele acordar um dia querendo um colinho, aí bem rapidinho pode né??
O mais importante neste momento, mais que preparar as crianças é preparar os pais. Assim como o primeiro dia de aula, trocar a criança de quarto é mais doloroso pra gente do que pra elas. A independência desde a tenra idade cria crianças fortalecidas, prontas para se livrar sozinhas de seus medos, bichos papões ou vilões de filme de terror (TERROR NÃO SUSPENSE, OUVIU THIAGO?).
Ser pai é isso: a cada dia se preparar para cortar uma amarra a mais. Até que estejam prontos para voar com suas próprias asas, mas com a certeza na cabeça que sempre que quiserem o nosso ninho estará aqui, quentinho para recebê-los de volta.