Nem sei se tinha alguma pedra no caminho, se eu tropecei ou escorreguei. Foi tudo muito rápido, antes de conseguir pensar eu já estava despencando em cima de uma cerca e batendo com força numa das madeiras de sustentação, Que dor! Era tanta dor que nem deu pra me assustar com o osso q saltava embaixo da pele quando eu tentava levantar o braço. Fiquei sentada no chão até mano e mana chegarem pra me levar ao hospital. Lá foi confirmada a fratura no úmero.
Agora estou com tala no braço inteiro e precisando de ajuda para várias coisas. Aos quase 40 voltei a precisar de ajuda da mãe pra tomar banho, imagina! A gente vai se adaptando a fazer as coisas com uma mão só, mas é cansativo. Então, enquanto recupero a “asa quebrada”, vou partilhar alguns de meus poemas aqui na coluna.
(O título dessa série de colunas poéticas é uma brincadeira com a expressão “verso de pé quebrado”, que é aquele verso em que a métrica e/ou o ritmo fogem a qualquer regra ou convenção, sem se importar com número de sílabas ou com sua tonicidade).
Então chega de prosa, vamos à poesia:
TEMPO PARA POESIA
Eles não têm tempo
para a poesia
porque precisam aumentar
os dígitos da conta
e precisam comprar
cada vez mais
e precisam ostentar
que estão por cima
e precisam mostrar
que venceram na vida…
Vão perder tempo
com poesia?
Mal dá tempo
de ler as notícias
(tem que ao menos
passar os olhos)
e algum livro útil
que traga algo realmente
relevante para a vida
(como ganhar mais dinheiro,
por exemplo).
Eles não têm tempo
para a poesia.
Sempre de cabeça baixa,
em seus celulares,
não olham para o céu,
não notam que floriu o jardim,
não ouvem o riso
das crianças na praça,
não percebem a borboleta
que pousou na janela…
Eles acham que a poesia
está apenas nos livros!
Eles não têm tempo
e nem coração
para a poesia.