O vereador de Gravataí que se apresenta sob a alcunha de Policial Evandro Coruja (PP) lançou sua campanha à reeleição em Gravataí com uma arma na mão – se de verdade, não sei; não entendo de armas e sou civil de nascença.
“Atirador pronto!”, diz o parlamentar de primeiro mandato, que prossegue dizendo estar “pronto para continuar representando a segurança pública”. Assista ao vídeo postado nas redes sociais clicando aqui.
O bolsonarista-raiz o fez menos de uma semana depois do atentado contra Donald Trump, que insinuou ser alvo de uma conspiração, mesmo as investigações indiquem ser o estadunidense, ainda mais que Bolsonaro, vítima de um mundo que ajudou a criar.
Constatação de que a doença do armamentismo contamina o Brasil, ‘coincidências’ mórbidas já se repetiram aqui em Gravataí na aprovação de dois projetos armamentistas do próprio Coruja.
Em julho de 2022, a Câmara aprovou projeto que “Institui a Semana Municipal dos Colecionadores, Atiradores e Caçadores – CACs, no município de Gravataí”, dois dias depois de Jorge Guaranhos matar Marcelo Arruda, que comemorava aniversário com esposa, filhos e amigos, com decoração da festa inspirada em Lula e no PT.
Tudo sob discursos por “liberdade” e slogans fascistóides como “povo armado jamais será escravizado”, além dos gritos de “Bolsonaro” e “mito” por CACs presentes na platéia – aqueles que no governo Bolsonaro podiam ter até 60 armas, 30 de uso restrito, como fuzis, e 180 mil balas ao ano; leia em A noite em que a Câmara ‘armamentista’ de Gravataí foi macabra; Vereadores sem vergonha de fechar o caixão.
Em outubro do ano passado, os vereadores aprovaram a permissão de instalação de clubes de tiro próximo de escolas e sem limite de horário para funcionamento, o que possibilitaria a circulação de armas 24h em Gravataí, um dia depois de estudante de 17 anos morrer e outros três alunos ficarem feridos em ataque a escola em São Paulo feito por adolescente; leia em Vereadores de Gravataí aprovam permissão para clubes de tiro próximo a escolas e armas circulando 24h; A morte da aluna e o ovo do bolsonarismo.
O prefeito Luiz Zaffalon (PSDB) acabou vetando artigo do projeto que permitia o funcionamento 24, mas manteve a liberação próximo a escolas; leia em Apesar de liberar clubes de tiro próximo a escolas, Zaffa veta artigo de projeto que permitiria circulação de armas 24h em Gravataí; O card que atira em Chico….
Fato é que violência, física, visual ou nos discursos, não parece atrair borboletas. É como no poema de Drummond, que apresentava a surpresa do czar que caçava homens ao saber que também caçavam borboletas.
‘Coincidências’ mórbidas a parte, reputo um mau exemplo o vereador, que é idealizador da escola cívico-militar rural de Gravataí, anunciar a pré-candidatura a uma função civil, que é a política, paramentado como se perseguisse bandidos em sua atividade policial, na qual já foi inclusive baleado em um morro do RJ; leia em Vereador de Gravataí PF Coruja e criança são baleados em operação contra milícia em favela do Rio.
Se a ideologia entra pelas frestas dos gradis, que ao menos a matemática ensine aos alunos que, sob o mesmo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), nos Estados Unidos das Armas, onde se compra arma na esquina, são registrados 5 homicídios a cada 100 mil habitantes, enquanto na Europa, com porte restrito, menos de 1.
Encontrando uma borboleta, mesmo que alfinetada em um quadro, ao menos o ideologicamente apaixonado Coruja defende uma tese contrariada pelas estatísticas, e não a argumentação canalha do pastor Marco Feliciano, de que a Bíblia autoriza armas, legitima a auto-defesa e Jesus não seria um pacifista.
No Evangelho de Lucas, que o político neopentecostal menciona, após seguidor decepar orelha de sacerdote que auxiliava na prisão de Jesus, o Cristo ordena baixar as espadas: “Nada mais a fazer, que Deus faça a vontade Dele em mim, mesmo não seja minha vontade”.
E cura a orelha do inimigo.
Ao fim, não creio que com mais armas se curem orelhas, ou cabeças, como a de Trump e seus seguidores, aldeias afora.
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