RAFAEL MARTINELLI

Vereadora Anna denuncia machismo na Câmara de Gravataí: “Me disse que não estava acostumada a falar com um homem de verdade”. Vereador Claudecir nega: “Se vitimizou. Me lembrou Maria do Rosário”; A ‘broderagem’

Vereadora Anna Beatriz foi eleita para o primeiro mandato em 2020 com 1.402 votos

A vereadora Anna Beatriz da Silva (PSD) agendou para a próxima terça-feira, 14h reunião com a delegada Fernanda Generali, da Delegacia da Mulher de Gravataí, para registrar ocorrência por ter sido, conforme ela, intimidada pelo também parlamentar Claudecir Lemes (MDB).

– Ele disse que eu não estava acostumada a falar com um homem de verdade – denuncia a vereadora.

Três vereadores confirmaram ao Seguinte: o episódio, ocorrido em um intervalo da sessão desta quinta-feira. Claudecir nega.

– Brincando, disse que a vereadora fazia caras e bocas. Ela explodiu. Me lembrou a Maria do Rosário. Depois pedi desculpas. Mas foi ela, na tribuna, a me chamar de machista. Terá que responder pelas acusações – disse o policial militar reformado.

A polêmica aconteceu durante votação de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO); os vídeos que reproduzo mais abaixo mostram que, independentemente de certos, certas, errados ou erradas, Anna restou sozinha e os machos se defenderam, na ‘broderagem’.

Anna relata que, como integrante das comissões de Finanças e Justiça e Redação, tinha, conforme o sistema do legislativo, até o dia 31 para dar pareceres sobre a LDO.

O sistema teria sido alterado durante a tarde retroagindo a data para o dia 17 de outubro.

– O presidente (Roger Correa) me disse que teria que marcar sessão extraordinária para o domingo. Eu disse: “ok, sou vereadora 24h”.

A sessão foi suspensa por 20 minutos para os parlamentares buscarem um acordo para votar a LDO em sessão única, ainda na quinta.

– Foi proposta uma reunião das comissões e perguntei quem fazia parte, já que nunca nos reunimos. O vereador (Claudecir) disse que iria marcar para segunda, 8h, mas teria que ter estômago para reunir comigo, porque eu fazia “caras e bocas”. Pedi que me respeitasse e ele disse que eu não estava acostumada a falar com um homem de verdade. Eu respondi que ele teria que se acostumar a conviver com uma mulher tomando decisões, o que não aceita por ser machista – relata, contando que depois assinou os pareceres para votação e recebeu um pedido de desculpas do presidente da Câmara, Roger Correa (PP).

– Só pedi para poder me manifestar quando a sessão fosse retomada. E fiz a denúncia. Vereadores foram defender o machista, dizendo que ele era o “pai do Mateuzinho”, mas e eu, a mãe do Lorenzo? Todo mundo que estava no plenário viu que fui vítima de uma violência política de gênero. Há inúmeras testemunhas – contou, embargando a voz e informando que, além da DP da Mulher, vai formalizar denúncia no Ministério Público e na Assembleia Legislativa, “para que nenhuma mulher passe por isso”.

– Machistas não passarão – concluiu.

Claudecir negou que tenha intimidado a vereadora.

– Falei em tom de brincadeira, que a segunda começaria bem com uma reunião com a vereadora, que sempre faz caras e bocas de deboche. Ela se vitimizou – disse.

– Tive a grandeza de pedir desculpas ao microfone, na sessão. Lá em casa é minha mulher que manda. Meu gabinete é formado só por mulheres. Na Brigada Militar fui comandado por uma mulher. Não sou machista. Tanto que vereadores saíram em minha defesa. Fiquei surpreso. A vereadora se transtornou. Me lembrou a Maria do Rosário – concluiu.

Reproduzo recortes dos vídeos da sessão e, abaixo, sigo.


O vídeo de Anna fazendo a denúncia


O vídeo de Claudecir pedindo desculpas “aos colegas vereadores”


O vídeo de Cláudio Ávila defendendo Claudecir


Sigo eu.

Segurei-me ao escrever este artigo, para não contaminar o relato de cada um com aquilo que reputo um dos dias mais vergonhosos da história da Câmara de Gravataí.

Não me importa se Claudecir disse, não disse ou disse que não disse o que disse.

Achei covarde nenhum vereador homem ter usado a tribuna para ao menos se solidarizar com a vereadora.

Nem cobro da outra vereadora, Márcia Becker (MDB), porque poucos ouviram a voz dela em dois anos de mandato.

Inegável é que, deplorável foi a manifestação de Cláudio Ávila ao ser “solidarizar” com o brother vereador.

“Os berros que ouvi aqui são inverdades. O senhor não foi machista”, disse Ávila, na tribuna, acrescentando que “se fizermos isso com a dama, ela começa a gritar que todos somos machistas”.

Meu amigo, e talvez por isso, seja eu tão duro e direto: foi nojenta sua intervenção. Pelo que apurei o senhor nem testemunhou o episódio. Não usaste a expressão clássica para tratar as mulheres como intempestivas, desequilibras, loucas, mas o que disseste significou a mesma coisa: que Anna estava ‘histérica’, suposta ‘doença’ cujo termo a American Psychiatric Association parou de usar 1952. Histeria vem do grego histerus, útero.

Ao fim, acabe isso onde terminar, fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos, ao menos para os vereadores que subiram à tribuna, a mulher foi a responsável. Já tinha lhe pedido desculpas, vereadora Anna, em Desculpa, vereadora de Gravataí Anna Beatriz: fui machista; A menina de 10 anos e a Klara Castanho. Reitero-as, carregado de vergonha alheia pelos homens.

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