A Câmara de Gravataí aprovou requerimento pedindo reavaliação do funcionamento da Área Azul durante a bandeira vermelha, no Distanciamento Controlado do Governo do RS. Como jornalismo é dar nome às coisas, lamento: é demagogia de ano eleitoral.
Reputo derrotados todos os vereadores, inclusive o autor que, por onde naveguei, não experimentou nem o imediatismo do ‘caça-cliques’. É que, mesmo que involuntariamente, os 21 parlamentares colaboraram na disseminação de uma meia-verdade, que sempre tem uma metade mais próxima da mentira.
A unanimidade dos votos não me surpreende. Políticos – mesmo tendo o poder maior da democracia, que é a delegação dos votos que receberam de mais de mil pessoas cada um, e representam os 281 mil habitantes – morrem de medo do ‘Grande Tribunal das Redes Sociais’, ainda mais em ano de eleição.
Fragilmente, o poder que representa 100% da população, nos critérios de proporcionalidade, já pede habeas corpus preventivo, ou abaixa a cabeça à primeira metralha engatilhada nos teclados por milícias digitais – o que qualquer pesquisa mostra ser um grito minoritário frente à maioria silenciosa, composta por aqueles internautas que preferem correr a timeline até o próximo post, do que comentar e, ao contrapor, ser xingado e ter a família stalkeada por imbecis.
Piora pela proposta ter sido apresentada por um vereador que já foi líder do governo, além de eleito presidente da Câmara com os votos governistas. Se ele é o autor, o leigo na política entende que já é realidade. Assim que Clebes Mendes (MDB) postou que seu requerimento foi aprovado, nada mais previsível que na manhã desta sexta pessoas que estacionaram na Área Azul tenham manifestado surpresa por receberem notificações.
Não é uma fake news, mas induz o gravataiense ao erro. Afinal, quem postou foi o Clebes, sempre visto em selfies e lives nas redes sociais, trepado em máquinas ou apontando para obras de asfalto do governo. A ferradura ideológica crava no garrão das pessoas quando o vereador reproduz crítica feita, no mesmo dia, no Facebook, por parlamentar e um dos principais candidato a prefeito da oposição, Dimas Costa (PSD).
Não era preciso vereadores do governo, ou da oposição, buscar dados com a Prefeitura sobre o uso da Área Azul em momentos de comércio mais aberto, ou mais fechado. Bastaria terem andado pela cidade em março, quando fechamos mais atividades, ou em abril, maio e junho, quando abrimos. Inegável é que manter a Área Azul ajuda a evitar que o estacionamento seja usado para passeio, num momento em que está quase tudo, de alguma forma, aberto, como já tratei em É tudo com a gente em Gravataí e Cachoeirinha; o Distanciamento Controlado fake.
Questionar a manutenção da cobrança é, além de um ‘caça-cliques’, uma bajulação inconsequente àquela classe rica ou remediada, que reclama de gastar centavos, tanto quanto não quer um radar para flagrá-lo acima da velocidade em seu jipe renegade pedalado. Mas vão fiscalizar os ônibus, vereadores!
Ao fim, além de explicar para quem caiu no conto, a Área Azul continua operando, e nem deve o prefeito Marco Alba recuar (por mecanismo para evitar as 'férias de pandemia'), é inegável que a razia da política tem a ver com malfeitos dos políticos com o uso do dinheiro público, mas também com a demagogia, principalmente em anos eleitorais. Pequenos golpes de popularidade resultam na falta de confiança naquilo que os políticos prometem para a prática da vida das pessoas.
Será Millôr eterno ao profetizar que “o pouco que dão, dão à luz clara do dia, de preferência diante das câmeras; mas tirar é na calada da noite”?.
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