A Câmara de Gravataí tem a chance de votar moção de repúdio “ao senhor deputado federal, Eduardo Bolsonaro, que em 31 de outubro de 2019, em entrevista ao canal do youtube da jornalista Leda Nagle, sugeriu um novo AI-5 (Ato Institucional n°5), segundo ele ‘se a esquerda radicalizar’”.
É preciso mais seis assinaturas, entre os 21 vereadores, além do autor Dilamar Soares (PSD), que muitos brincam ser meu ‘inimigo de infância’, o que nunca me fez deixar de reconhecer seus méritos e coragem frente a temas polêmicos.
Coragem que ilustro por, nas polegadas de sua singular régua, e sem medo de justificar em plenário, já votou contra título de cidadão de Levi Melo, a quem apoiou como candidato a prefeito, e a Daniel Bordignon, uma das pessoas com a qual hoje tem mais minutagem de conversa.
E méritos porque, obrigação como historiador, mas também como alguém com delegação do voto nas urnas, é um estudioso da História e da Política, aquela ciência que para muitos é a profissão mais antiga do mundo.
Acontece que, na Gravataí que deu sete a cada dez votos para o homem da casa 58, Dilamar apresenta uma moção-bomba, que deveria ser uma moção para democratas soltarem fogos de artifício – sem som para não ferir os animais, legislação que ainda não vale na aldeia pela falta de um ‘inciso’ (trato disso em outro artigo).
Reputo preocupante o que o 01 dos Bolsonaros instigou sobre um novo Ato Institucional que, para famílias, a minha inclusive, remete a ficar horas em pé preso numa caixa, pau de arara, ratos na vagina, bicos de seis cortados, suicidados e suicídios. Trata-se ‘apenas’ do filho do Presidente da República. Há força nas palavras desse DNA.
Para completar, o golpista de pijama general Augusto Heleno disse assim, em entrevista ao Estadão, sobre a diatribe de Eduardo Bolsonaro:
– Não ouvi ele falar isso. Se falou, tem de estudar como vai fazer, como vai conduzir. Acho que, se houver uma coisa no padrão do Chile, é lógico que tem de fazer alguma coisa para conter (…). Eduardo estava sob forte emoção com esse negócio da TV Globo. Essas coisas, hoje, num regime democrático… é complicado. Tem de passar em um monte de lugares. Não é assim. O projeto do Moro, fundamental para conter crime, não passa. Fazem de tudo para não passar. O pessoal não quer, não quer nada que possa organizar o país. Não quer dizer que isso vai organizar o país. Mas isso aí não é assim, vou fazer e faz.
Como assim? O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) cogita um ‘trâmite’ para um ‘AI-5’?
Nos Estados Unidos seria motivo para cassação do deputado e prisão do militar (aposentado quando ainda jovem para o padrão ‘posto ipiranga’).
Eduardo Bolsonaro quebrou o decoro. Incitou crime, fez apologia a ato criminoso, artigos 286 e 287 do Código Penal.
Ah, mas o artigo 53 da Constituição diz que “os deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos."
Uma meia verdade, e aquela parte mais próxima da mentira. O próprio Jair Bolsonaro é réu em processo – que está suspenso no Supremo porque foi eleito presidente – por ter dito que a deputada federal Maria do Rosário “não merecia ser estuprada”.
Políticos com mandato legislativo podem falar o que quiserem desde que o que falam não descumpra a lei, simples assim.
Já Heleno comete o crime de traição. Ou não, ao sugerir o caminho de um golpe?
No Brasil que está à beira do precipício, mas lá embaixo, olhando para cima, Gustavo Bebianno, ex-secretário geral da Presidência da República, diz em entrevista que – desde o delinquente intelectual Olavo de Carvalho, passando por 01, 02 e 03, e chegando ao Faroeste Caboclo dos generais de dez estrelas que ficam atrás da mesa com o cu na mão – a ‘ideia de um golpe’ provoca poluções diuturnas no entorno do ‘mito’.
Voltando à capital do mundo, a Câmara de Gravataí tem uma obrigação histórica de aprovar a moção de repúdio à mínima referência ao AI-5. E, por grandeza, mesmo os simpáticos ao bolsonarismo, com a mesma unanimidade que aprovou nesta quinta moção de pesar aos familiares pelo falecimento de Nair Martha de Oliveira, viúva do ex-prefeito Dorival de Oliveira.
A dona Nair conheceu o monstro da ditadura, ao lado de Dorival, que era do MDB, o partido da democracia.
As grandes homenagens são ao legado, não por compadrio ou celebridade.